Líder do CDS perde principal apoio na direcção

O vice-presidente Filipe Lobo d’Ávila demitiu-se por considerar que a mensagem do partido “não está a passar”. Dois vogais da comissão executiva também abandonam o órgão.

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Filipe Lobo d'Ávila representou perto de 15% dos votos no congresso de 2020 Rui Gaudencio

O primeiro vice-presidente do CDS-PP, Filipe Lobo d'Ávila, demitiu-se da comissão executiva do partido, confirmou o próprio ao PÚBLICO. O líder do CDS-PP perde, assim, o principal apoio na sua direcção já que Lobo d'Ávila lidera o grupo Juntos pelo Futuro que obteve 14,5% dos votos em congresso. Do mesmo grupo também se demitiram dois vogais da comissão executiva: Raul Almeida e Isabel Meneres Campos. 

Ao que o PÚBLICO apurou, o dirigente alegou que o CDS tem “um problema de afirmação”, que não é ouvido e que “a mensagem não passa”. Filipe Lobo d'Ávila assumiu que não será candidato em 2021 e não se reserva “para outros calendários”.

O dirigente demissionário considera que já não é possível inverter o caminho sem que haja uma alteração, apelando a que o partido encontre uma solução pacífica. “As pessoas não nos ouvem. O CDS não é considerado. Os indicadores são trágicos. A projecção externa ou não existe ou não é boa. Infelizmente, e por muito que me custe dizê-lo, o CDS de hoje não risca”, escreveu na carta de demissão dirigida a Francisco Rodrigues dos Santos a que o PÚBLICO teve acesso. 

O CDS “não é dos de sempre, sobretudo daqueles que ao longo deste ano tudo fizeram para que as coisas não funcionassem ou mesmo daqueles outros que se reservam agora para 2022 ou para 2030, quando já não tiverem outros afazeres”, apontou num recado ao eurodeputado Nuno Melo que assumiu, em entrevista ao PÚBLICO, poder ser candidato à liderança no congresso de 2022. 

Na carta, Lobo d'Ávila reconhece ter “estima” e ter criado “empatia pessoal” com Rodrigues dos Santos, mas que já não consegue manter-se no cargo. 

Raul Almeida decidiu sair “no Domingo” e comunicou a sua decisão na reunião da comissão executiva do CDS que decorreu na quarta-feira à noite. 

O porta-voz do grupo Juntos pelo Futuro adiantou à Lusa que ainda terá “mais uma conversa com o presidente do partido antes de formalizar a demissão”, mas garante que “a decisão está tomada”.

Raul Almeida justificou que “o partido manifestamente não está num ciclo positivo, está a atravessar uma crise profunda”, mas recusou atribuir as culpas ao líder ou à direcção, considerando que “é uma conjugação de factores”.

Apesar de indicar que a sua demissão “não tem nada a ver” com o desafio de Adolfo Mesquita Nunes para a realização de um congresso antecipado, defendeu que um congresso “poderia ajudar o partido a ter uma nova oportunidade” mas recusou que “a substituição da actual direcção por uma direcção da oposição interna resolva o problema”.

O porta-voz indicou que também a vogal da comissão executiva Isabel Meneres Campos apresentou a demissão e que o grupo Juntos pelo Futuro irá reunir-se esta noite.

Filipe Lobo d’ Ávila foi candidato à liderança no congresso de 2020 e ficou em terceiro lugar atrás de João Almeida, tendo feito uma aliança com Francisco Rodrigues dos Santos para integrar a direcção. 

Em Dezembro passado, o vice-presidente deu apoio ao líder do partido num conselho nacional tenso e em que foram assumidas críticas à direcção por vários destacados militantes. 

Adolfo Mesquita Nunes, ex-vice-presidente da anterior direcção de Assunção Cristas, desafiou esta terça-feira a convocação de um conselho nacional extraordinário para realizar um congresso antecipado. Neste momento já estão a ser recolhidas assinaturas para convocar a reunião do órgão máximo entre congressos, sendo necessárias entre 35 a 40 subscrições. A ordem de trabalhos do conselho nacional será a da convocação de um congresso já em 2021, já que a reunião ordinária só está prevista para Janeiro de 2022. 

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