Formar enfermeiros em pandemia para não hipotecar o futuro

Formar profissionais de saúde em pandemia não é uma opção; é uma necessidade essencial da sociedade.

A Enfermagem é uma disciplina do conhecimento que se centra nas respostas humanas aos fenómenos de saúde-doença e processos de vida, cujo desafio epistemológico atual nos remete para a Enfermagem que queremos ensinar em tempo de pandemia.

O plano curricular do Curso de Licenciatura em Enfermagem articula, de forma equilibrada, uma componente teórica e outra de prática clínica. A Escola de Enfermagem operacionaliza desde sempre aquela componente prática em várias instituições de saúde, através de parcerias efetivas baseadas em contrapartidas mútuas.

Para segurança das instituições e dos estudantes, a pandemia por SARS-CoV-2 exigiu às Escolas, no início dos estágios – “momento zero” –​, a testagem obrigatória de todos os estudantes e, ao mesmo tempo, a aquisição de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) obrigatórios para a realização dos Ensinos Clínicos e Estágios.

Por força da reorganização das instituições de saúde na adaptação à situação pandémica que continua a avassalar o país e o mundo, vivenciámos a interrupção ou cancelamento de alguns Ensinos Clínicos e Estágios. Perante estes acontecimentos, as Escolas viram-se confrontadas com a necessidade de se reinventarem, numa visão antecipatória, no cumprimento da sua missão principal de devolver à sociedade enfermeiros generalistas e especialistas!

Na certeza de que a competência se desenvolve na ação e com base na consecução dos objetivos das diferentes unidades curriculares, as direções das instituições envolvidas, os professores, os enfermeiros orientadores e os estudantes foram recriando novos contextos de ação possíveis. Percebemos e sentimos que a situação que vivemos na atualidade veio desenvolver o pensamento critico e inovar nas estratégias de ensino-aprendizagem e de avaliação. Aprender em situação de crise e na incerteza, sempre com o apoio do enfermeiro da prática clínica e do professor, pode capacitar os estudantes para fazer a diferença e saber agir face ao inesperado, em situações de vida de pessoas sempre irrepetíveis e únicas.

Neste sentido, a complexa estrutura triádica responsável pela aprendizagem (composta por estudante, professor e enfermeiro orientador da prática clínica) superou-se na resiliência e procura de soluções viáveis e em respostas adaptadas e criativas. 

Estivemos lá, onde era necessário e onde claramente todos fazíamos falta –​ na certeza de que queremos devolver à sociedade enfermeiros capazes!

Perante o novo confinamento, desta vez mais preparados, renovamos planos de contingência e o planeamento dos próximos ensinos clínicos a partir da recente recomendação às instituições científicas e de ensino superior, no contexto das medidas extraordinárias do estado de emergência  do gabinete do ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, em que se lê: “o ensino clínico e os estágios, em particular os estágios clínicos, devem manter-se em regime presencial sempre que possível, devendo ser desenvolvidos novos esforços de colaboração entre as instituições envolvidas”.

Pese embora as preferências das instituições de saúde recaiam, preferencialmente, sobre os estudantes finalistas, reforçamos a ideia de que os estudantes de outros anos curriculares necessitam de fazer o percurso formativo completo para desenvolverem e adquirir novas competências para igualmente chegarem a finalistas!

Conscientes das mudanças inevitáveis no dia a dia, quer no sistema de saúde, quer na política educativa, manteremos os valores e a missão da nossa instituição que, apesar dos constrangimentos, queremos que se traduzam numa educação sólida, que forme enfermeiros competentes; não como mero objetivo institucional, mas com o propósito de ajudar a sociedade a ultrapassar esta pandemia.

Deixar de formar profissionais de saúde no presente significa hipotecar o futuro do sistema de saúde. Se neste momento formarmos apenas estudantes finalistas, teremos enfermeiros em setembro deste ano, mas podemos não ter enfermeiros nos anos seguintes. Formar profissionais de saúde em pandemia não é uma opção; é uma necessidade essencial da sociedade.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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