Paquistão liberta suspeito de rapto e decapitação do jornalista Daniel Pearl

Condenação à morte de Ahmed Sheikh foi revogada no ano passado, depois de os tribunais terem determinado que não foi ele o responsável pelo assassínio do correspondente do Wall Street Journal.

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Os suspeitos do assassínio foram detidos e condenados em poucos meses, em 2002 Reuters/ZAHID HUSSEIN

O Supremo Tribunal do Paquistão ordenou, esta quinta-feira, a libertação do homem que foi acusado e condenado à morte pela decapitação do jornalista norte-americano Daniel Pearl, em 2002.

“Por uma maioria de dois contra um, eles absolveram todos os acusados e ordenaram a sua libertação”, disse à agência Reuters o procurador Salman Talibuddin.

O islamista Ahmed Omar Saeed Sheikh, de 47 anos, um cidadão britânico nascido no Paquistão, foi acusado e condenado à morte pelo rapto e assassínio do correspondente do Wall Street Journal.

Mas o seu caso sofreu uma reviravolta no último ano, depois de o tribunal superior da província de Sindh ter revogado a condenação à morte, em Abril de 2020.

O tribunal de Sindh ordenou a libertação do principal suspeito do assassínio de Daniel Pearl e de outros três homens que tinham sido condenados a penas de prisão perpétua.

A ordem viria a ser repetida em Dezembro, depois de vários recursos, e faltava apenas ser anunciada a última decisão, do Supremo Tribunal do Paquistão.

A decisão final foi conhecida poucas horas depois da tomada de posse do novo secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken. Ainda não é conhecida uma reacção oficial dos EUA.

Em Abril de 2020, o advogado de defesa de Sheik, Khwaja Naveed, disse à Reuters que “as acusações de homicídio não foram provadas”, e que os sete anos de prisão pela condenação por rapto já tinham sido cumpridos – ao todo, Sheik esteve preso 18 anos.

Dúvidas na condenação

Ahmed Omar Saeed Sheikh foi detido em 2002 e condenado à morte por ter planeado o rapto e o assassínio de Pearl, correspondente do Wall Street Journal na Índia, e que na altura estava a trabalhar numa investigação sobre grupos radicais no Paquistão. 

A acusação argumentou que Sheikh atraiu Pearl para uma reunião com um clérigo em Janeiro de 2002. O jornalista desapareceu sem deixar rasto e, um mês depois, um vídeo que documentava a sua execução foi enviado para o consulado norte-americano em Karachi e publicado na Internet.

A condenação de Sheikh como o principal organizador do rapto e do homicídio de Pearl levantou algumas dúvidas. Uma investigação levada a cabo por um grupo de jornalistas, incluindo antigos colegas de Pearl, concluiu, em 2011, que o verdadeiro autor foi Khalid Sheikh Mohammed, um radical detido em Guantánamo e acusado de ter planeado os ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001 nos EUA.

No dia em que o tribunal de Sindh ordenou, pela primeira vez, a libertação de Sheik, o correspondente da BBC em Islamabad disse que a decisão veio mostrar que as dúvidas levantadas na altura podem ter algum fundamento.

“Sheikh era visto como uma pessoa que tinha ligações ao topo dos serviços secretos paquistaneses, bem como à Al-Qaeda, e teve um papel na fundação do grupo Jaish-e-Mohammad, responsável por ataques na Caxemira indiana durante os anos 1990. A sua prisão e condenação, em 2002, vieram em rápida sucessão, numa altura em que o Paquistão sofria muita pressão dos EUA para eliminar as redes terroristas que operavam no seu território”, disse o jornalista Ilias Khan, em Abril de 2020.

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