China avisa Taiwan que “independência significa guerra”

Governo de Pequim endurece a linguagem na sequência do aumento das actividades militares na região nos últimos dias, dizendo que está a responder “à interferência externa” e a “provocações de independentistas de Taiwan”.

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A Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, reafirmou que a ilha já é um país independente Reuters/ANN WANG

O Governo de Pequim reforçou as suas manobras militares nas proximidades de Taiwan e endureceu a linguagem em relação à ilha, esta quinta-feira, ao avisar que “independência significa guerra”.

O recente reavivar do conflito coincide com a transição de poder nos Estados Unidos da América, um período que é habitualmente aproveitado por vários países para testarem a reacção da nova Administração norte-americana.

O aviso de Pequim foi lançado numa conferência de imprensa do porta-voz do Ministério da Defesa chinês, Wu Qian, que reafirmou a política de que Taiwan é “inseparável” da China continental.

“As actividades militares levadas a cabo pelo Exército Popular de Libertação chinês no estreito de Taiwan são necessárias para enfrentarmos a actual situação de segurança e para salvaguardarmos a soberania”, disse Wu, citado pela agência Reuters.

“São uma resposta à interferência externa e a provocações de independentistas de Taiwan”, afirmou o porta-voz do Ministério da Defesa chinês.

No domingo, uma frota norte-americana liderada pelo porta-aviões USS Theodore Roosevelt entrou no mar do Sul da China para promover “a liberdade das águas”, segundo a expressão usada pelos EUA.

Na mesma altura, Taiwan denunciou a entrada de caças e bombardeiros chineses na zona de identificação do seu espaço aéreo, o que deixou as forças dos EUA na região em estado de alerta.

Interpretando a acção norte-americana como um apoio “ao punhado de pessoas em Taiwan que querem a independência da ilha”, Pequim endureceu a linguagem na guerra de palavras que tem marcado o relacionamento entre os dois territórios nos últimos 70 anos, desde o fim da guerra civil ganha pelos comunistas.

“Quem brinca com o fogo vai acabar por se queimar. A independência de Taiwan significa guerra”, disse o porta-voz do Ministério da Defesa da China.

Um país, dois sistemas

O diferendo entre a China continental e Taiwan arrasta-se desde o fim da década de 1940, quando as forças comunistas de Mao Tsetung derrotaram os nacionalistas liderados por Chiang Kai-shek.

Com a retirada dos nacionalistas para a ilha de Taiwan, os governos de cada um dos territórios passaram a reivindicar a soberania de toda a China – os comunistas a partir da República Popular da China e os nacionalistas a partir da República da China (a designação oficial de Taiwan).

Na década de 1980, Pequim propôs ao Governo de Taiwan a política “um país, dois sistemas”, que abrange a relação da China com os territórios de Hong Kong e Macau. Segundo esse princípio, só existe uma China, mas os territórios em causa podem funcionar com os seus próprios sistemas de governação – no caso de Taiwan, uma democracia multipartidária e semipresidencialista desde a década de 1990.

O estado actual das relações entre os dois territórios arrasta-se desde o Consenso de 1992, que permitiu a relativa pacificação da região, mas que nunca resolveu as disputas de forma definitiva. Pequim reconheceu o consenso de que Taiwan faz parte da China, mas não reconheceu a reivindicação da ilha de que isso significa uma China liderada pelo governo de Taiwan.

O statu quo é posto em causa sempre que o outro grande partido taiwanês, o Partido Democrático Progressista (liberal), está no poder. A actual Presidente, Tsai Ing-wen, responde às acusações de Pequim de que a ilha está a preparar uma declaração de independência com a afirmação de que Taiwan já é um país independente chamado República da China.

A questão de Taiwan é uma das mais sensíveis nas relações entre Pequim e Washington, e a nova Administração Biden já veio reafirmar o compromisso dos EUA com a defesa da ilha.

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