Com medo do burnout, empresas britânicas oferecem alternativas aos funcionários com filhos

Alguns bancos, firmas de serviços profissionais, escritórios de advocacia e seguradoras estão a propor aos seus funcionários planos flexíveis de trabalho, redução de horário ou aumento de licenças parentais, além de benefícios como aconselhamento gratuito.

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Reuters/Paul Hackett

De tempo livre remunerado a portáteis para crianças, alguns dos maiores empregadores britânicos estão a tentar aliviar a carga dos seus trabalhadores, ajudando-os a evitar fazer malabarismos entre o emprego e os filhos durante a pandemia. A viver o terceiro confinamento, desde o passado dia 5, as escolas foram fechadas, o que levou a que muitos pais regressassem a casa.

Na quarta-feira, o Governo anunciou que as escolas permanecerão praticamente fechadas pelo menos mais seis semanas. Alguns bancos, firmas de serviços profissionais, escritórios de advocacia e seguradoras estão a propor aos seus funcionários planos flexíveis de trabalho, redução de horário ou aumento de licenças parentais, além de benefícios como aconselhamento gratuito.

O escritório de advocacia Hogan Lovells deu cinco dias extras de licença remunerada aos seus trabalhadores, além de aconselhamento gratuito e permissão para ficarem em teletrabalho. A corretora de seguros Howden empresta portáteis aos funcionários para ajudarem os filhos em casa a fazer os trabahos da escola.

A KPMG, uma empresa internacional de prestação de serviços, diz que os funcionários na Grã-Bretanha podem pedir licença remunerada ilimitada para cuidar da família ou de amigos durante a crise. “Reconhecemos que este é um momento muito difícil para a maioria das pessoas, queremos apoiá-las e confiar que elas não abusarão disso”, declara Kevin Hogarth, diretor de recursos humanos da KPMG Reino Unido.

Em vez de uma licença prolongada remunerada, a PwC, que também presta serviços como auditorias, permite aos trabalhadores tirarem dias para assistência à família durante a semana de trabalho e não há limite para o seu uso, porém a adesão tem sido baixa.

O Goldman Sachs, banco de investimento de Wall Street, permitiu que os seus funcionários britânicos tirassem dez dias de licença remunerada por filho; uma política que foi introduzida em Março passado e foi agora estendida ao primeiro semestre de 2021 para aqueles que ainda não a adoptaram.

Outras empresas estão a permitir que os funcionários reduzam as horas de trabalho. A seguradora Aviva, o Lloyds Bank e o Nationwide Bank pagaram integralmente a todos os trabalhadores desde Março passado, mesmo que a pandemia os obrigue a mudar os padrões de trabalho.

Estas medidas mudam de empresa para empresa, por isso, os sindicatos alertam que não teve cair sobre os trabalhadores a responsabilidade de gerir a sua carreira e o nível de stress provocado pelo encerramento das creches. “O que estamos vendo é que é impossível para algumas pessoas cuidar de seus filhos e trabalhar”, declara Dominic Hook, da Unite, um dos maiores sindicatos da Grã-Bretanha. “Alguns foram convidados a tirar férias. O líder da equipa de uma pessoa até sugeriu tirar um ano sabático... As mulheres são mais afetadas porque, infelizmente, suportam o peso dos cuidados com os filhos”, acrescenta.

Conciliar cargas pesadas

Muitas empresas informam que ofereceram aos seus funcionários horários mais flexíveis e práticos, por exemplo, evitando as reuniões junto à hora das refeições, de maneira a que os trabalhadores possam alimentar os filhos e prepará-los para o ensino à distância. Ou, caso queiram, podem trabalhar à noite ou nos fins-de-semana.

Mas alguns desses pais preocupam-se com a possibilidade de entrarem em burnout, e queixam-se de que as cargas de trabalho são pesadas demais para permitir flexibilidade. Outros lutam para manter o horário de trabalho quando fazem malabarismos com crianças ou com o ensino em casa e temem que a pandemia esteja a colocar em risco as perspectivas de carreira.

“A minha empresa oferece trabalho flexível”, suspira uma advogada londrina e mãe solteira, que preferiu não ser identificada. “Mas como posso tirar uma folga se não houver ninguém para fazer o meu trabalho?”, pergunta, acrescentando que põe em causa se conseguirá continuar a trabalhar e a ser mãe de família. “Simplesmente não tenho horas suficientes no dia para lidar com tudo o que precisa ser feito para os clientes e para a família.”

Este mês, a seguradora Zurich ofereceu aos funcionários que são pais duas semanas de licença extra remunerada. Além disso, deu ainda a possibilidade de os seus 4500 funcionários e companheiros (maridos e mulheres) fazerem testes de gratuitos à doença, e a possibilidade de poderem contrair um empréstimo de emergência de até 850 euros por pessoa. A seguradora oferece ainda cinco sessões gratuitas de aconselhamento a partir deste mês.

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