Oposição precisa-se!

O Governo já não era reformista, num quadro pandémico menos será. Mas estas reformas e propostas têm de existir para se constituir uma resposta ágil e necessária à pandemia. A oposição à direita deve marcar a agenda com estes e outros temas.

Quase um ano decorrido sobre o início da pandemia. Pessoas a adaptarem as suas vidas, outras tantas a desejarem fazê-lo. Um país em sérias dificuldades sociais. Um Governo com sérias dificuldades em resolver a situação de saúde pública, económica e a ver agravar a situação social a cada dia que passa.

É para estes momentos que se constrói diariamente o Estado e se contribui com impostos ao longo de uma vida. O Estado tem de olhar à compensação ágil, expressiva e não burocratizada de todos aqueles a que impede ou pede para não trabalharem. Aliviando a carga fiscal, por ser a forma mais direta e eficaz, desonerando empresas e indivíduos que estão impedidos de ter rendimentos. Garantindo os apoios, compensação salarial e restantes prestações sociais sem cerimónias. Algo que, aliás, o resto da Europa já foi fazendo, ainda que sem bazuca.

Num quadro destes, a oposição pouco se ouve e a alternativa parece não existir. Não precisamos que venha abrir uma crise – infelizmente ela já está entre nós. Mas tem de existir uma oposição tão alternativa quanto construtiva, que constitua uma opção.

Um país cada vez mais assimétrico com enormes disparidades regionais e sociais. Enormes desafios no teletrabalho mas também oportunidades. Um Governo que quase não fala sobre o tema da descentralização e poucas medidas apresenta nesse sentido. Umas presidenciais em que os resultados mostram bem o descontentamento do interior face ao sistema, o descontentamento do mundo rural face à opressão cultural e abandono que vai sentindo.

E, ainda assim, não há oposição que mostre a análise de custos-benefícios e traga um conjunto de medidas a curto, médio e longo prazo. Medidas que aproveitem o momento para atrair pessoas, investimento e dinâmica económica ao interior do país. Temos todos a ganhar, inclusive a democracia.

Comentar a espuma dos dias é fácil, mas a oportunidade está aqui e as atuais lideranças à direita não a vêm nem se propõem com um rumo alternativo.

A direita pode ser aquilo que um Governo não pode e falar de desafios futuros como um Governo não quer. A direita pode traçar a tão necessária reforma da Segurança Social e bater-se pelas pensões que o futuro promete não trazer. A direita pode olhar para a cobertura social e reforçá-la sem preconceitos. Pode orgulhar-se das reformas laborais que fez e que, pela qualidade que tiveram, persistem, e propor-se a introduzir medidas que facilitem a recuperação económica e a criação de emprego mais adiante, recuperando aquele que está a ser destruído. A direita tem o dever de olhar para o crédito malparado e, acabando com as ilusões, responder ao tecido económico que está a hipotecar o seu futuro, sem que lhe seja garantido que o tem.

O Governo já não era reformista, num quadro pandémico menos será. Mas estas reformas e propostas têm de existir para se constituir uma resposta ágil e necessária à pandemia. A oposição à direita deve marcar a agenda com estes e outros temas.

Há um eleitorado que puxa com dificuldade pela prosperidade do país, que quer mais liberdade. Um eleitorado moderado e reformista, que se sente sem alternativa séria e capaz. Uma alternativa que marque o tempo e o espaço político e que não precise de se dizer alternativa ao socialismo porque o é. E, como tal, é reconhecida.

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