Com o país confinado, Sturgeon diz que a visita de Johnson à Escócia “não é essencial”

Primeiro-ministro britânico deve deslocar-se ao território escocês na quinta-feira, para tentar refrear o apoio crescente à independência. Chefe do governo regional destaca restrições em vigor e diz que os políticos devem “liderar pelo exemplo”.

Foto
Boris Johnson e Nicola Sturgeon, numa visita do primeiro-ministro britânico a Edimburgo, em Julho de 2019 Stewart Attwood/EPA

Nicola Sturgeon sugeriu esta quarta-feira que a visita de Boris Johnson à Escócia não é uma deslocação “essencial” no quadro do confinamento que está em vigor em todo o território do Reino Unido para conter a pandemia de covid-19. A primeira-ministra escocesa considera que os dirigentes políticos do país devem “liderar pelo exemplo” e mostrar aos eleitores que levam a sério as restrições que decretam.

“Diria que, neste momento, uma viagem minha, entre Edimburgo e Aberdeen, para visitar um centro de vacinação, não é essencial, e que uma viagem de Boris Johnson, desde Londres até onde quer que ele vá, na Escócia, para fazer o mesmo, também não é essencial”, disse Sturgeon.

“Não estou, nem nunca estarei, a dizer, com isto, que Boris Johnson não é bem-vindo na Escócia – ele é o primeiro-ministro do Reino Unido. Mas estamos a atravessar uma pandemia global. Todos os dias tenho de olhar para a câmara e dizer: ‘Não viajem a não ser que seja mesmo essencial e trabalhem a partir de casa se puderem’. E isso tem de se aplicar a todos nós”, acrescentou a first minister escocesa, citada pelo The Scotsman.

A visita de Johnson à Escócia, prevista para quinta-feira, está a ser entendida pelos analistas políticos como uma jogada de Downing Street para tentar refrear o ímpeto da causa independentista escocesa, numa altura em que o apoio à secessão está acima dos 50% e há vários meses consecutivos, segundo as sondagens.

A somar a esta pressão sobre o primeiro-ministro e o Partido Conservador britânico, o Partido Nacional Escocês (SNP), de Sturgeon, apresentou recentemente um roteiro para a realização de um novo referendo à independência, caso vença as eleições regionais de Maio – é favorito à conquista de uma maioria absoluta –, e sugeriu que pode não necessitar da autorização de Johnson e do Parlamento nacional para o convocar.

A Escócia organizou um referendo em 2014 e a secessão foi rejeitada por 55% dos eleitores. Mas com a saída do Reino Unido da UE, do mercado único e da união aduaneira europeia, em 2020 – contra a vontade da maioria dos escoceses (62%) que votaram no referendo do “Brexit”, em 2016 –, o SNP diz ter um mandato renovado para exigir nova ida às urnas para os escoceses decidirem outra vez se querem ser independentes.

O pretexto da pandemia

O primeiro-ministro britânico tem como objectivo, para esta deslocação, realçar a participação e os benefícios sociais, políticos e sanitários colhidos por todas as nações que compõem o Reino Unido e destacar, concretamente, o acesso facilitado e rápido à vacina contra o coronavírus – algo que, garante Boris Johnson, só foi possível porque o país abandonou a União Europeia.

É precisamente por Johnson querer enfatizar o combate à pandemia, que Nicola Sturgeon diz que o primeiro-ministro britânico deve cumprir as regras que estão a ser impostas às pessoas pelo poder político.

“Temos um dever de liderar pelo exemplo e se vamos sugerir que não levamos estas regras tão a sério como deveríamos, torna-se mais difícil convencer as pessoas. É por isso que, talvez, não esteja tão entusiasmada com a ideia da visita do primeiro-ministro”, insistiu a líder do governo escocês.

Um porta-voz de Johnson rebateu, no entanto, este argumento de Sturgeon, dizendo que “ser o representante físico do Governo do Reino Unido” é uma “tarefa fundamental do primeiro-ministro”.

“É correcto que esteja visível e acessível para as empresas, para as comunidades e para a população de todas as partes do Reino Unido, especialmente durante a pandemia”, sublinhou, citado pela BBC.

O Reino Unido é o quinto país do mundo e o primeiro país europeu com mais casos confirmados de infecção pelo vírus SARS-CoV-2 (mais de 3,7 milhões) e mais mortes por covid-19 (acima de 101 mil).

Sugerir correcção
Comentar