Pastores e agricultores assinam acordos de paz no Mali

Após quatro meses de negociações, pastores peul e agricultores dogon chegaram a acordos para “garantir a integridade física e a livre circulação de pessoas, bens e gado”, num país devastado pela violência étnica e jihadista.

Foto
160 membros da etnia peul foram assassinados em 2019 em Ogossagou, perto da fronteira com o Burkina Faso Reuters

Duas das principais comunidades étnicas do Mali assinaram três acordos de paz, um passo importante rumo à estabilidade num país que tem sido devastado nos últimos anos pela violência perpetrada por grupos jihadistas e agravada por conflitos étnicos.

Representantes das etnias peul, constituída essencialmente por pastores, e dogon, composta maioritariamente por agricultores, assinaram três acordos, entre 12 e 24 de Janeiro, sob a égide do Centro de Diálogo Humanitário, uma organização diplomática suíça que mediou as negociações nos últimos quatro meses, de acordo com a AFP.

Nos documentos assinados, os signatários comprometem-se em encorajar as suas comunidades a “trabalharem pela paz, esquecendo actos do passado e divulgando mensagens de coesão e calma”. Além disso, comprometem-se em “garantir a integridade física e a livre circulação de pessoas, bens e gado”, bem como o “respeito pelos hábitos e costumes” de cada etnia, garantido o livre acesso a vilas e mercados.

Os acordos aplicam-se à região de Koro, na fronteira do Mali com o Burkina Faso, uma das zonas que mais tem sido fustigada pela violência, onde o acesso, à excepção de equipas da ONU e do Exército, está praticamente impedido.

Os peul e o dogon têm divergências históricas em relação ao acesso à terra e à água, mas a violência exacerbou-se nos últimos anos, principalmente após o surgimento, em 2015, de um grupo jihadista liderado pelo pregador Amadou Koufa, com ligações à Al-Qaeda, que tem recrutado principalmente entre os membros da etnia peul.

Outras comunidades, como os dogon, criaram as suas próprias milícias, com a ONU e várias organizações de defesa dos direitos humanos a acusarem a Dan Nan Ambassagou, uma milícia da etnia dogon, de massacrar civis em aldeias peul.

Acordos de paz semelhantes entre as duas etnias foram assinados há dois anos, mas acabaram por fracassar, dificultando compromissos de paz num país que, desde 2012, tem sido devastado pela violência, principalmente desde que o Norte do Mali foi alvo de uma insurreição de grupos jihadistas que assumiram controlo de parte do território.

Na terça-feira, num acto simbólico, seis ministros do Governo interino do Mali - que assumiu funções em Setembro após um golpe de Estado de uma junta militar contra o Presidente Ibrahim Boubacar Keita – deslocaram-se à cidade de Kidal, no Norte do país, numa tentativa de avançar com o processo de paz.

Os ministros, segundo a AFP, estiveram reunidos com a Coordenação dos Movimentos de Azawad, que agrupa a maioria dos grupos rebeldes tuaregues de milícias do Norte do Mali, e, no final do encontro, garantiram que “todos concordaram em acelerar a implementação do Acordo de Argel”, assinados em 2015 entre o Governo e grupos rebeldes.

Estes acordos, que prevêem a descentralização do poder em algumas das zonas controladas por grupos rebeldes, são considerados uma das poucas possibilidades de a paz voltar ao país.

Sugerir correcção
Comentar