Peter Pan, Dumbo e Os Aristogatos passam a ser para maiores de sete anos na Disney+

Filmes continuam a estar disponíveis nas contas dos pais. Em causa estão representações potencialmente insultuosas de comunidades como a afro-americana e a asiática.

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Peter Pan DR

“Este conteúdo inclui representações negativas e/ou um tratamento incorrecto de culturas. Estes estereótipos estavam errados na altura e continuam errados agora.” Desde o mês de Outubro, a Disney+ já vinha exibindo esta mensagem antes dos filmes Dumbo (1941), Peter Pan (1953), O Livro da Selva (1967), Os Aristogatos (1970) ou A Dama e o Vagabundo (1955). Agora, a plataforma de streaming decidiu reclassificar Peter Pan, Dumbo e Os Aristogatos como conteúdos para maiores de sete anos, tendo retirado os três títulos das contas infantis.

Os filmes continuam a estar disponíveis nos perfis dos pais porque, como argumentou em Outubro, a Disney+ prefere “reconhecer o seu impacto prejudicial, aprender com ele e iniciar uma conversa com vista à construção de um futuro mais inclusivo, em conjunto”, do que simplesmente eliminá-los do seu catálogo. “A Disney está empenhada em criar histórias inspiradoras e ambiciosas que reflictam a diversidade da experiência humana em todo o mundo”, reforça a empresa.

No caso de Dumbo, os corvos (crows, em inglês) que ensinam o elefante a voar têm sotaques afro-americanos carregados, sendo que o nome do líder da comitiva é Jim, numa referência às leis de Jim Crow que impuseram medidas de segregação nos Estados Unidos entre o fim do século XIX e o início do século XX. A voz de Jim no filme original é de Cliff Edwards, artista branco que em 1929 gravou uma versão do tema Singin’ in the rain.

O filme de 1941 tem ainda um momento musical controverso: o tema Song of the roustabouts. “We work all day, we work all night/ we never learned to read or write/ we’re happy-hearted roustabouts” (“Nós trabalhamos o dia inteiro, nós trabalhamos a noite inteira/ nós nunca aprendemos a ler ou a escrever/ somos vagabundos felizes”), cantam várias vozes enquanto na tela passam imagens de indivíduos negros em trabalhos braçais.

Quanto a Os Aristogatos, a controvérsia prende-se com Shun Gon, um gato amarelo com os olhos “rasgados” e “dentes de coelho” que toca piano com pauzinhos e canta sobre bolinhos da sorte. Já o filme Peter Pan tem merecido críticas nos últimos anos pelo modo como retrata os povos nativos dos Estados Unidos: os membros da tribo não têm uma língua indígena (comunicando, em vez disso, através de sons abstractos e desarticulados), fumam cachimbo constantemente e cantam uma canção chamada What made the red man red. O menino que nunca cresce acaba por colocar na cabeça um cocar (famoso adorno de penas que costumava ser usado em momentos de guerra e que entretanto adquiriu um tom cerimonial), no que vem sendo lido como uma “apropriação” da sua cultura.

Quem, através da conta de uma criança, tentar agora ver esses filmes — bem como Aladino (1992), O Livro da Selva (1967) ou A Família Robinson (1960) — apenas encontrará o seguinte aviso: “Este título excede as configurações de controlo parental do seu perfil.” Outro filme com o disclaimer de conteúdo potencialmente sensível nos perfis dos pais é A Dama e o Vagabundo (1955), hoje polémico pelos gatos siameses Si e Am, que também reflectem vários estereótipos em torno das comunidades asiáticas, e pelos cães Pedro e Boris, respectivamente um chihuahua mexicano e um borzoi russo.

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