Atletas olímpicos não são prioridade para a OMS

COI aconselha vacinação dos participantes, mas respeitando os grupos prioritários. França alerta para complicações caso não seja possível vacinar as comitivas.

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LUSA/FRANCK ROBICHON

Ainda com uma nuvem de dúvidas a pairar sobre os Jogos Olímpicos, que estão previstos para Tóquio a partir de 23 de Julho, a discussão em torno da vacinação dos atletas tem subido de tom. E se há quem defenda que dificilmente um atleta que não tenha sido vacinado poderá competir, também há quem estabeleça hierarquias claras: a Organização Mundial de Saúde (OMS) já fez saber que não considera que este seja um grupo prioritário.

É um evento planetário que vai muito para além do desporto, que celebra a capacidade de superação humana e a diversidade cultural. Um evento que, em muitos casos, serve também de alavanca económica e que implica um investimento de milhares de milhões de euros. Um evento que só irá avante se estiverem garantidas as condições sanitárias indispensáveis.

Enquanto se discutem os termos da realização dos Jogos (e se desmentem rumores de que os japoneses se preparam para travar a competição, por força da progressão da covid-19), levantam-se dúvidas em torno das comitivas dos diferentes países. Se, por um lado, a eventual ausência de público (ou presença de poucos espectadores) retira brilho à prova e reduz drasticamente as receitas estimadas, mas não põe em causa a competição, por outro é certo que, sem atletas, não haverá Jogos.

Nesse sentido, alguns responsáveis de diferentes países vieram a público alertar para a necessidade de vacinar os participantes. Denis Masseglia, presidente do Comité Olímpico Francês, sublinha que os competidores que não forem inoculados serão forçados a cumprir quarentena à chegada ao Japão e serão submetidos a testes diários enquanto estiverem em competição.

“Não estamos sozinhos [nesta intenção]. Para os nossos amigos japoneses receberem atletas e outras pessoas credenciadas de todo o mundo vão ser necessárias precauções”, adiantou o dirigente, sublinhando que o assunto será abordado numa reunião do Comité Olímpico Internacional (COI) prevista para esta quarta-feira.

Pelas posições tomadas até à data, o COI já se mostrou favorável à vacinação dos atletas, encorajando o processo nos diferentes países, mas o organismo não pode fazer mais do que aconselhar. Até porque a vacinação está a ser feita a velocidades distintas e com critérios de prioridade diversos em cada território.

E é aqui que entram em cena os responsáveis da OMS. Questionados sobre a viabilidade e sobre a pertinência de se vacinarem os atletas para garantir uns Jogos Olímpicos mais seguros, os dirigentes da Organização Mundial de Saúde lembraram que, ainda que esse seja um cenário desejável, há que perceber o momento que atravessamos.

“Enfrentamos uma crise à escala global, que requer que os profissionais de saúde, as pessoas mais velhas e as mais vulneráveis nas nossas sociedades tenham acesso prioritário à vacina”, explicou Michael Ryan, director executivo do programa de emergência da OMS, durante uma conferência de imprensa, em Genebra.

“Isto não invalida o desejo e a vontade de termos uns Jogos Olímpicos e celebrarmos um evento maravilhoso, de partilha entre todos os países”, acrescentou Ryan, antes de contrapor. “Contudo, temos de encarar a realidade do que estamos a enfrentar: não há vacinas suficientes, nesta altura, para servir sequer aqueles que estão mais em risco”.

Esta visão vai ao encontro daquilo que expressou Thomas Bach, presidente do COI, em Novembro. Porque uma coisa é recomendar a vacinação aos atletas, outra é aceitar a existência de grupos prioritários. Nesse sentido, o dirigente partilha da hierarquia definida pela OMS e já assumiu que a vacinação não será uma condição sine qua non para a participação nos Jogos.

“Cada atleta deve ter isto em consideração. A vacinação não é apenas sobre um indivíduo, é sobre a protecção de toda a comunidade”, vincou Bach, que nesta terça-feira viu o responsável pelas Finanças na Florida, Jimmy Patronis, anunciar, através de uma carta, que o estado norte-americano está pronto a receber os Jogos Olímpicos se Tóquio desistir.

Enquanto as movimentações continuam, vai-se alimentando a esperança de que a capacidade de produção de vacinas permita, até Julho, equacionar a vacinação das comitivas. No Canadá, Dick Pound, membro do COI, defende que uma comitiva de 300 ou 400 pessoas não levantará grandes problemas num processo de larga escala, mas Denis Masseglia quer deixar claro que a intenção não é queimar etapas ou subverter a cadeia de prioridades.

“Está fora de questão que os atletas sejam favorecidos em relação a outras categorias da população, mas daqui até aos Jogos poderemos presumir que será possível vaciná-los sem penalizar outras pessoas. Tomei uma posição a favor da vacinação e espero que todos os atletas franceses partilhem desta perspectiva”.

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