João Ferreira admite ter sido vítima da bipolarização do 2.º lugar

Jerónimo de Sousa elogia o candidato mas diz que está para durar, como secretário-geral. E deixa avisos ao Governo.

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Ressalvando que não estava com isso a justificar o resultado, que atribuía a vários factores, João Ferreira considerou esta noite eleitoral que “houve alguma tendência para uma bipolarização acerca do segundo lugar que foi algo inédito”, sugerindo que pode ter perdido alguns votos para Ana Gomes, pelo despique entre esta e André Ventura. Também admitiu que a viabilização do Orçamento, pelo PCP tenha tido influência nestas presidenciais, mas num sentido que não identificou e apenas em concurso com outros factores.

Quanto ao 4.º lugar obtido, com cerca de 4,3%, João Ferreira, no discurso que levou ao hotel que fica em frente à sede nacional do PCP, Soeiro Pereira Gomes, recordou que dissera desde a primeira hora que não se candidatava a percentagens. “Tinha por missão afirmar uma visão diferente dos poderes do Presidente da República”, e recordar o acervo importante de direitos e o programa de desenvolvimento inscrito na Constituição disse, sem rejeitar que pretendia que essa visão “tivesse a maior aceitação possível”.

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João Ferreira também admitiu que a pandemia tenha afastado muitos eleitores, impedidos de votar por terem sido infectados ou admitirem ter sido nas últimas semanas.

Jerónimo de Sousa foi mais duro na análise dos resultados e no ataque ao Presidente reeleito. Considerou o “resultado expectável”, face à promoção que, em seu entender, Marcelo Rebelo de Sousa foi fazendo de si próprio ao longo do mandato, beneficiando de um “falso unanimismo” e da dramatização que fez acerca da possibilidade de realização de uma segunda volta.

Em relação à questão do voto útil, designou-a “despropositada centralidade dada a falsos segundos lugares”. Questionado se a afirmação da extrema-direita nestas eleições não teria justificado uma frente de esquerda, o secretário-geral do PP respondeu que isso é sempre determinado pela conjuntura e que o partido até tem uma “longa história de unidade” neste capítulo, mesmo depois do 25 de Abril, tendo desistido, num “rasgo democrático” a favor de candidatos que nada tinham a ver com os comunistas. Desta vez, “não houve qualquer desenvolvimento” nesse quadro, resumiu.

Marcelo mais à direita

Jerónimo de Sousa não tem ilusões. Assumiu que prevê um segundo mandato de Marcelo Rebelo de Sousa “com um alinhamento ainda mais explícito com a agenda da direita”.

O líder do PCP também não está muito seguro quanto ao futuro da legislatura. Questionado sobre se acreditava que chegaria ao fim, sem eleições antecipadas, respondeu: “Se souber, diga-me”, pediu. Afirmou que estamos numa situação excepcional e que estará nas mãos do Governo concretizar as medidas que evitem as vozes a pedir a sua “substituição ou demissão”. ”Podemos acusar o sr. Ventura e o sr. ‘Liberal’ e o seu estilo próprio”, mas o que, verdadeiramente leva aos problemas, disse Jerónimo, é a falta de “resolução dos problemas concretos do emprego, salários, serviço nacional de saúde”.

Contra a revisão da Constituição

E deixou um aviso, tal como João Ferreira: os democratas têm de se unir contra a revisão da Constituição pela direita. E o antigo deputado constituinte lembrou que foi a actual lei fundamental Constituição que proibiu os despedimentos sem justa causa, por razões ideológicas, ou que garantiu eleições livres e formação de partidos. Recordou ainda que foi aprovada por 95% dos deputados de 1976. “Alguns com reserva mental, possivelmente”, lamentou.

"O secretário-geral do PCP está aqui, e está bem"

João Ferreira assumiu que o resultado obtido nestas presidenciais não terá sido o desejado e recusou alongar-se, à semelhança do que fez na campanha, sobre o seu futuro político, nomeadamente se admitir candidatar-se à presidência da Câmara de Lisboa nas próximas autárquicas ou suceder a Jerónimo de Sousa na liderança dos comunistas. “O secretário-geral do PCP está aqui, e está bem”, disse João Ferreira, acrescentando. “A seu tempo falaremos de actos eleitorais futuros”.

Perante a mesma questão colocada pelos jornalistas, Jerónimo de Sousa lembrou que o PCP realizou recentemente o seu congresso e elegeu democraticamente a sua direcção e secretário-geral. E vincou que essa decisão continua “válida”. “É o sentimento dos meus camaradas, incluindo João Ferreira”, disse Jerónimo, garantindo aos jornalistas: “Havemos de nos ver mais vezes”. Em qualquer caso, disse também: “Sou comunista e comunista serei” – em qualquer cargo, portanto.

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