Carta aberta à minha faculdade

Não entendemos porque não podem os exames continuar à distância. É, mais uma vez, o medo da fraude? Esse medo tão grande que consegue ultrapassar o medo de os alunos ficaram infectados e morrerem?

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Nelson Garrido

No passado dia 21 de Janeiro, por volta das 15h, soubemos, mais uma vez, que iríamos ficar sem aulas e exames presenciais. Soubemos, mais uma vez, que as certezas de ontem são esmagadas pelas notícias de hoje e o amanhã parece revelar o mesmo destino. A insegurança crescente e o medo tornam-se companhia do quotidiano, a somar ao burnout em que nos encontramos, ao estudo intenso para obtermos o tal esperado diploma que nos levará a um futuro melhor, temos um vírus à solta: que ameaça levar aqueles que mais amamos e, quem sabe, a nós também. 

Sei, como todos sabemos, que o ensino presencial é melhor, não há nada que substitua a interacção com o professor, a socialização com os amigos, a troca de olhares no anfiteatro. Sei que para os professores ensinar é mais gratificante. Sei que o controlo nos exames é maior. Sei, como também sei que os reitores sabem. E, no entanto, mantiveram exames que juntam mais de 200 pessoas presenciais, com medo que cometêssemos fraude, com medo de que as nossas respostas não fossem honestas, não fossem aqueles exames a garantia que sabemos mesmo as coisas e estamos prontos para o mercado laboral (espero que entendam a ironia). 

Agora, o Governo falou. Agora, decidiram fechar. Agora, decidiram adiar os exames que já estavam quase a terminar. Falo por mim, mas sei que falo por outros: não entendemos porque não podem estes exames continuar à distância. É mais uma vez o medo da fraude? Esse medo tão grande que consegue ultrapassar o medo de os alunos ficaram infectados e morrerem? Já havia pessoas em regime online (grupos de risco e em isolamento), porque não enviar esse exame online para os restantes alunos? Para quê deixar-nos na incerteza? Na ansiedade que é não saber o amanhã? Quando poderemos fazer os nossos exames, terminar unidades curriculares e aproximarmo-nos do tão esperado mercado de trabalho? 

Não descuro que existam pessoas que não têm acesso a um computador, mas já na primeira vaga deram a oportunidade de se fazerem os exames nos computadores da própria faculdade. Não vejo mal, dado ser um número reduzido de alunos. 
Mais uma vez, questiono, porquê? Porquê tirar-nos o chão quando mais precisamos? Porquê deixar-nos no limbo da incerteza quando o que mais precisamos do meio deste caos é um caminho? 
 

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