Ciclone Eloise faz seis mortos em Moçambique

Mau tempo afectou 176 mil pessoas, sobretudo nas províncias de Sofala e Zambézia. Moçambique é o país mais vulnerável às alterações climáticas, de acordo com o Índice de Risco Climático Global.

Foto
Marcas da passagem do ciclone "Eloise" pela cidade da Beira JOSÉ JECO/LUSA

O número de mortes provocadas pelo ciclone Eloise entre sábado e domingo, em Moçambique, subiu para seis, anunciaram as autoridades moçambicanas. Cinco pessoas morreram na província de Sofala e uma na província da Zambézia na consequência do mau tempo que também fez 12 feridos. A destruição provocada pela tempestade, com vento e chuva forte, bem como as inundações subsequentes afectaram 176 mil pessoas.

O balanço das autoridades moçambicanas aponta para danos em cinco mil habitações, na sua maioria de construção precária, prejuízos em 26 centros de saúde, danos em 161 salas de aula, 37 troços de estrada afectados e 129 poste de energia tombados. Mais de 6.000 alunos das 7.ª, 10.ª e 12ª classes podem não realizar os seus exames na província da Zambézia.

O país está em plena época chuvosa e ciclónica, que ocorre entre os meses de Outubro e Abril, com ventos oriundos do Índico e cheias com origem nas bacias hidrográficas da África Austral.

Segundo a ONG German Watch, que divulgou esta segunda-feira o Índice de Risco Climático Global, publicado anualmente, Moçambique ocupa o primeiro lugar na lista dos países mais vulneráveis às alterações climáticas, tendo sido afectado em 2019 (último ano analisado) por dois dos maiores ciclones que já se abateram sobre o país (Idai e Kenneth), que fizeram cerca de 700 mortos.

“No final de 2020, pedimos 250 milhões de dólares [205 milhões de euros] para a resposta humanitária de todo o ano de 2021, só para o norte do país, e ter uma época de ciclones tão intensa é uma preocupação muito grande, uma coincidência fatal”, referiu à Lusa Myrta Kaulard, coordenadora residente das Nações Unidas em Moçambique.

Embora o ciclone Eloise tenha provocado menos estragos do que o Idai, traz uma maior “acumulação de vulnerabilidades” numa altura em que a presente época ciclónica ainda só vai a meio.

“Não é correcto comparar a situação actual com o Idai”, um dos ciclones mais mortíferos do hemisfério sul, que causou muitas vulnerabilidades em 2019 e sem que tenha passado tempo suficiente para, por exemplo, “se reconstruir de maneira resiliente”, afirmou Myrta Kaulard.

“E pelo meio temos a covid-19, que provoca mais dificuldades” para as famílias e organizações terem recursos ou até para organizar coisas aparentemente tão simples como aulas: como agora são obrigadas a fazer mais turnos para que haja distanciamento, perder uma sala numa tempestade tem maior impacto, acrescentou.

“Isto é muito grave e não era assim no Idai”, refere a coordenadora, explicando que o país vem acumulando “vulnerabilidades muito, muito forte, com impacto nas pessoas, comunidades e instituições” e agora vê-se perante “uma época ciclónica muito activa”.

As Nações Unidas estão “muito presentes em Sofala, Manica e Zambézia, mas temos problemas, porque não temos muitos recursos. Os que recebemos com o Idai já terminaram”, detalhou Myrta.  “Não temos muita capacidade de responder, de maneira imediata. Isto também é uma vulnerabilidade muito grande”, acrescentou.

O ciclone Eloise passou, mas ainda deverá provocar chuvas durante o resto da semana no sul de Moçambique.

“Vamos ver como vai evoluir a situação e ver se temos de fazer um apelo. Ainda temos de verificar, ver as chuvas dos próximos dias e manter diálogo com as instituições nacionais e parceiros internacionais”, concluiu.

Sugerir correcção
Comentar