Kremlin detém aliados de Navalny e tenta impedir protestos de sábado

Porta-voz de Navalny fica nove dias em prisão preventiva e não pode participar nas manifestações deste sábado, consideradas ilegais pelo Kremlin, que ameaçou multar as plataformas digitais que as promovam. Charles Michel falou com Vladimir Putin ao telefone.

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Alexei Navalny está detido em Moscovo e em Fevereiro a sua pena suspensa pode passar a prisão efectiva Reuters/EVGENY FELDMAN

As autoridades russas detiveram cinco aliados de Alexei Navalny, o principal opositor do Presidente Vladimir Putin, e ameaçou multar as plataformas digitais que promovam as manifestações marcadas para o próximo sábado. 

Entre os detidos está Kira Yarmysh, porta-voz de Navalvy, que passou a noite sob custódia e foi condenada a nove dias de prisão, o que a impede de participar nas manifestações de sábado.

Foram também detidos outros membros da Fundação Anticorrupção chefiada pelo opositor russo, entre eles a advogada e activista política Libuov Sobol e o advogado bielorrusso Vladlen Los, que diz ter recebido ordens para abandonar a Rússia até segunda-feira e ficar afastado do país até Novembro de 2023.

Na origem das detenções está o apelo à participação nos protestos marcados para sábado em 65 cidades russas, em que são esperadas milhares de pessoas nas ruas a exigir a libertação de Alexei Navalny, detido desde domingo, quando regressou da Alemanha, onde esteve cinco meses a receber tratamento devido a um envenenamento com novichok. O Kremlin nega qualquer envolvimento no ataque. 

Kira Yarmysh disse que as manifestações vão ser “lendárias”, enquanto as autoridades russas têm detido aliados do opositor russo, acusando-os de organizarem manifestações ilegais promovidas por “provocadores”.

Em comunicado, a procuradoria-geral russa avisou os russos para não participarem em “protestos em massa ilegais” e avisou que estão a ser “tomadas medidas preventivas e acções administrativas” contra quem violar a lei.

Além disso, as autoridades ameaçaram impor multas de quatro milhões de rublos (cerca de 44 mil euros) às plataformas digitais que promovam os protestos, visando particularmente o TikTok, rede social utilizada sobretudo por jovens, muitos deles menores de idade, que têm partilhado vídeos com mensagens de apoio a Navalny e apelos à participação nas manifestações. 

A Human Rights Watch condenou a detenção dos apoiantes de Navalny e opositores e a pressão sobre as plataformas digitais, apelando às autoridades russas para pararem com os “ataques ilegais à liberdade de expressão”.

Os aliados de Navalny esperam que as manifestações de sábado forcem o Kremlin a libertá-lo - está em prisão preventiva desde o início desta semana, sendo esperado um julgamento em Fevereiro, quando um tribunal decidirá se converte a pena suspensa do advogado de 44 anos em prisão efectiva.

“Sabemos que o Kremlin tem medo de grandes manifestações. Sabemos que que no passado o Kremlin cedeu, de uma forma ou de outra, quando as manifestações foram suficientemente fortes”, disse à Reuters Leonid Volkov, um aliado próximo de Navalny, que garante que a estratégia passa por pressionar o regime nas ruas e divulgar esquemas investigações sobre corrupção no topo da hierarquia do Kremlin.

Num vídeo divulgado esta semana pela sua equipa, Navalny acusa directamente Vladimir Putin de ter recebido como presente uma mansão no valor de cem mil milhões de rublos (1,12 mil milhões de euros) no mar Negro, uma acusação que o Kremlin rejeita. O vídeo já tem mais de 50 milhões de visualizações no Youtube.

Michel telefonou a Putin

A detenção de Navalny, o principal rosto da oposição a Vladmir Putin nos últimos anos, foi condenada internacionalmente, com vários países e organizações internacionais a pedirem a libertação imediata do opositor russo.

Esta sexta-feira, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, telefonou ao Presidente russo e reforçou o pedido de Bruxelas para que Navalny seja libertado e que o envenenamento do opositor russo, em Agosto do ano passado, seja investigado.

“No meu telefonema de hoje com o Presidente Putin, reiterei que a União Europeia está unida na condenação da detenção de Alexei Navalny e que apela à sua libertação imediata”, revelou Charles Michel no Twitter. “A Rússia deve prosseguir urgentemente com uma investigação completa e transparente à tentativa de assassínio” contra Navalny, acrescentou o presidente do Conselho Europeu.

Na quinta-feira, o Parlamento europeu aprovou uma resolução a pedir que os Estados-membros “reforcem significativamente as medidas restritivas da UE contra a Rússia”, nomeadamente através de novas sanções, que deverão ser discutidas na segunda-feira na reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da UE.

Os eurodeputados pediram também que Bruxelas trave a construção do gasoduto Nord Stream 2, que liga a Alemanha à Rússia, cruzando o Mar Báltico.

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