Morreu Abrantes Serra, o capitão de Abril que ajudou a libertar os presos políticos

“Tomou conta” da escola dos fuzileiros em Vale do Zebro, no Barreiro, na madrugada da Revolução dos Cravos.

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Militares de Abril numa sessão comemorativa da Revolução dos Cravos Rui Gaudencio

O capitão de Abril Abrantes Serra, que ocupou o forte de Caxias para libertar os presos políticos após o 25 de Abril de 1974, morreu na quarta-feira aos 82 anos, disse esta quinta-feira à Lusa um amigo do militar.

Em declarações à Lusa, o comandante Martins Guerreiro, militar do Movimento das Forças Armadas (MFA), que derrubou a ditadura, em 1974, e membro do Conselho da Revolução, lembra Abrantes Serra como uma pessoa “sóbria e discreta, “um apaziguador”.

José Júlio Abrantes Serra, que era capitão-tenente e tinha 36 anos em 1974, também ficou conhecido por ter ocupado, desarmado, a escola de fuzileiros na noite do golpe, porque o comandante da unidade, Rocha Calhordas, apesar de não aderido ao MFA, “era muito boa pessoa” e foi para o quarto sem criar problemas, recordou o próprio numa entrevista à Antena 1, em 2014, numa série intitulada “Heróis Anónimos da Revolução dos Cravos”.

No dia do golpe do MFA, esperou, nos morros junto à então Ponte Salazar, rebaptizada Ponte 25 de Abril, para ouvir a senha E depois do adeus na rádio para “tomar conta” da escola de fuzileiros, em Vale de Zebro, no Barreiro, em Setúbal.

No dia 25 de Abril de 1974, chegou a ter por missão reforçar a ocupação da sede da polícia política, a PIDE/DGS, em Lisboa, mas a sua companhia foi enviada “a correr” para o forte de Caxias, em Oeiras.

Aí, já na madrugada de 26 de Abril, assistiu à libertação de presos políticos como Palma Inácio (1922-2009), líder da Luar, que foi encontrar a fazer ginástica na cela, ou José Manuel Tengarrinha (1932-2018), fundador do Movimento Democrático Português (MDP).

Presenciou a libertação de presos e deteve agentes da DGS, “eram uns seis ou sete”, que estavam “admirados de não ter aparecido ninguém”, afirmou Abrantes Serra, no depoimento dado à jornalista Maria Flor Pedroso, em 1974.

Martins Guerreiro recorda Abrantes Serra, que esteve com ele no gabinete do chefe do Estado-Maior da Armada, como uma pessoa sóbria e discreta, “um apaziguador”, traço importante quando os militares, nessa altura conturbada, faziam visitas a unidades militares ou empresas para “tentar acalmar a agitação social”.

O funeral de Abrantes Serra realiza-se em 26 de Janeiro, no crematório do Feijó, Almada, pelas 13h30.

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