Uma banda sonora que é um abraço à cultura nacional

Sete artistas emergentes e 20 temas feitos em Portugal compõem a nova playlist das lojas Minipreço. Uma iniciativa “arrojada” e “corajosa” para apoiar um dos sectores mais prejudicados pela pandemia em Portugal, que vai ter também presença no mundo digital.

O que é um povo sem cultura? É um povo sem “estímulo”, é um povo “cinza”, “desinspirado”, “mecânico”, “automático”. É um povo sem “pensamento crítico”, sem “identidade” ou sequer “futuro”.​

É assim que descrevem Amaura, Gohu, Janeiro, Co$tanza, Lila, os Marvel Lima e os Catraia, todos artistas nacionais que fazem parte da nova e “arrojada” iniciativa do Minipreço “Músicas de Fundo”. A pensar nas duríssimas consequências que a pandemia covid-19 trouxe ao sector da cultura em Portugal, a cadeia de supermercados cedeu a música de fundo das suas lojas para apoiar e promover músicos emergentes. É isso: a partir de agora, as suas compras acontecem ao som de uma banda sonora que apresenta o que de mais actual se produz em Portugal.​

Uma iniciativa que passa também para o mundo digital com 7 concertos, que começam já no próximo sábado 23, nas redes sociais do Minipreço - FacebookInstragram e YouTube.

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D.R.

Integrada no “Mini Gestos de Solidariedade”, um movimento iniciado pelo Minipreço durante pandemia, a iniciativa é celebrada por todos os que dela fazem parte: “A iniciativa representa acção e coragem e até um certo arrojo nos tempos que vivemos no nosso sector da cultura”, conta-nos a lisboeta Maura Magarinhos, mais conhecida por Amaura. “Foi uma iniciativa muitíssimo bem-vinda.”​

Miguel Costa, que assina como Co$tanza, aplaude o “Minipreço pela iniciativa de apoiar e expor alguns artistas emergentes”, um comportamento que, considera, “no nosso país tem vindo a tornar-se cada vez mais escasso”. Para o músico e produtor de “Linha Verde”, este é um óptimo exemplo de como a indústria se pode adaptar aos tempos, pautados pelo medo e insegurança. “Após vários eventos culturais cancelados, esta campanha propõe uma nova abordagem ao conceito de concerto promocional que o torna mais seguro numa altura de tantas incertezas.”

Gohu canta “Vai Ficar Fixe”, mas para isso é fundamental o apoio das empresas: A cultura é uma das indústrias mais afectadas pela pandemia e é importante que empresas a apoiem neste momento. Quer através de investimento, quer através de visibilidade.”

Trata-se de um exemplo de “renovação” na ideia do espectáculo, necessidade referida por Miguel Costa, que frisa ser “frustrante ter iniciativa sem oportunidades.”

Pela cultura e pela música nacional partilhamos consigo esta playlist.

Dar atenção a artistas emergentes é “ler uma biografia em tempo real”

E se é verdade que o contexto é transversalmente terrível para todo o sector cultural, para aqueles que dão os primeiros passos será certamente mais desafiante. Até porque o arranque é sempre “um processo doloroso”, lembra Gohu. “Para os artistas emergentes, a pandemia só tornou tudo mais desafiador, pois para além de sofrerem com sua inexperiência, espaços para ganhar visibilidade foram cancelados​”.

A “inexperiência” de que fala Gohu tem as suas vantagens porque é também sinónimo de autenticidade. Artistas emergentes “são brisas de ar puro”, diz o músico de “Olha Eu Aqui”. “Eles nascem de uma vontade inocente, autentica de mostrar aquilo que sentem, sem pensar em terceiros.” Assim, continua, têm em si a capacidade de traduzir de “forma mais verosímil, a realidade e o tempo da sociedade actual.” Dar-lhes tempo é, assim, como “ler uma biografia em tempo real.”​

Além disso, os novos artistas têm ainda o poder de desafiar os que já viram o seu nome crescer: “A chegada de novos criativos e novos intérpretes renova e estimula os artistas estabelecidos a embarcarem nessa onda de renovação”, consideram os membros da banda Catraia, que tem Inês Bernardo na voz, Ricardo Silva na guitarra portuguesa, Rui Amado na guitarra e viola campaniça, Adelino Oliveira no contrabaixo, Paulo Bernardino nos clarinetes e João Maneta nas percussões.

Lila, que no Minipreço canta “I Can””, “Usa-me” e “I Love”, vai no mesmo sentido. “Estão desprendidos de modas, o que lhes dá uma enorme liberdade criativa para irem contra as regras da indústria”, diz. “São fundamentais para a mudança e contínuo estímulo da sua arte.”

Janeiro, que foi em 2018 seleccionado por Salvador Sobral para integrar o concurso do Festival da Canção, frisa que, em termos formais, não é “propriamente um artista emergente”. No entanto, é neste grupo que continua a sentir-se incluído. “Gosto de me posicionar onde sinto que pertenço — à constante novidade”, conta. “O nosso papel é falar do que ninguém está a falar - criar consciência e reter a atenção das pessoas no momento em que aparecemos para as fazer questionar sobre a sua própria vida individual e pessoal.”

A identidade cultural não congela no tempo, dependendo a sua evolução daqueles que introduzem uma nova visão. “Cada artista adiciona mais uma ‘cor’ ao ‘pantone’ cultural, trazendo algo de novo para o público e reforçando assim o nosso património cultural”, descrevem os Marvel Lima, quinteto de Beja que, junta ao rock psicadélico as sonoridades mais latinas.

Destacam o papel “fundamental” dos artistas emergentes na “identidade cultural”. E vêem na iniciativa do Minipreço, que reúne um total de 20 temas nesta novíssima playlist das suas lojas, um sinal de “esperança para o circuito”. Um sinal de esperança para a cultura nacional. Porque um país sem cultura resulta num “povo pobre, sem identidade e sem futuro”.

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