Quando João Ferreira visitou um agricultor ligado ao sector da pesca

Campanha do candidato presidencial comunista teve nesta quarta-feira o seu “momento TV Rural”. E incluiu um apelo inesperado à defesa da língua portuguesa.

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O candidato comunista à Presidência da República, João Ferreira, visitou nesta quarta-feira um agricultor da zona de Vagos que, afinal — descobriu-se ali está também ligado à pesca, mais concretamente à arte xávega, um tipo de pesca artesanal em que as redes do cerco são puxadas pela praia por juntas de bois ou tractor.

O tractor, já se adivinhou, é mesmo o elo de ligação, neste caso. Podia dizer-se o link, mas isso seria faltar ao apelo eloquente que o agricultor em causa, Silvino Tomás, fez logo à chegada ao candidato, para o caso de este ser eleito Presidente: “Impor que não se usem palavras estrangeiras na Assembleia da República”, que a classe dos agricultores, protesta, não compreende. “O centro da actividade política e da língua portuguesa está a impingir palavras estrangeiras que nós não entendemos”, reforçou, acrescentando que só tem “a 4.ª classe.”

Silvino Tomás, de 75 anos, também surpreendeu a comitiva de João Ferreira ao contar que está ligado à pesca e que até participou, juntamente com um dirigente sindical e militante do PCP já falecido, na elaboração da lei que evitou que os últimos barcos de arte xávega fossem abatidos e não pudessem ser transaccionados.

“Foi isso que me aproximou do PCP”, diz o cidadão que à pergunta sobre se hoje é militante do PCP dá uma resposta surpreendente: “Em parte. É militante quem se inscreve e trabalha assiduamente. Eu não: só cá estou quando for preciso. Agradeço ao PCP no caso da pesca, nem tinha nada a ver com o partido se não tivesse sido isso”. E, contudo, Silvino Tomás, no que à pesca diz respeito, nunca se fez ao mar. “Fui agricultor toda a vida”. A relação com a pesca foi mesmo o puxar das redes com o tractor, do qual a queda de uma peça, um dia, lhe deixou uma perna fraca para sempre.

Quanto à agricultura, Silvino Tomás queixa-se de outras maleitas, “coisas da União Europeia” que lhe custam a aceitar. Por exemplo a regulamentação dos produtos químicos: para a batata só se pode usar “Manuel”, para as couves só “Joaquim”, para outra coisa qualquer só “António”. E, vai-se a ver, “o princípio activo é o mesmo”!

Mas o que dói mais a Silvino Tomás é mesmo a questão dos preços pagos aos agricultores. “Não há quem nos valha, quem fiscalize”, lamentou.

João Ferreira lembrou “a tradição de nos anos que correm melhor o preço vir por aí abaixo”, o que faz com que os pequenos e médios agricultores nunca tenham anos bons, e o interlocutor deu o exemplo da cenoura, que exige ao agricultor um investimento feito seis meses antes da colheita e que lhe é paga dois meses, depois de entregue aos operadores comerciais. “O senhor faz de banco, é o banco deles”, ajuda a resumir João Ferreira, que lembrou os anúncios televisivos com que as mesmas grandes superfícies que diz “esmagarem os preços” dos pequenos agricultores enaltecem a produção nacional, que alegam promover. E a produção nacional, com o Estado a ajudar nos custos de produção e no escoamento dos produtos, além de ter mais qualidade, é importante até para a “soberania alimentar”, para deixar o país menos vulnerável em situações de pandemia como a actual, enfatiza o candidato.

João Ferreira programou esta iniciativa para ilustrar esta ideia, que também defendera na véspera no Alentejo: a de que a Constituição manda discriminar positivamente os pequenos e médios agricultores e que o Presidente da República, por com ela estar comprometido, deve exercer o seu poder de influência para que se criem condições.

A visita a Silvino Tomás acabou no campo, com este a colher cenouras para as câmaras dos jornalistas, num “momento TV Rural" que uma chuvada breve dissolveu. “Isto é bom para as cenouras, para nós é melhor não”, despediu-se João Ferreira, sempre apressado, com demasiada pressa para poder aproveitar a mesa comprida, com pão, chouriço, queijo e bolo e sumo, vinho que Silvino Tomás e a mulher prepararam para a comitiva. “Tenho pena, mas não levo a mal”, disse o agricultor, a medir tanta mesa que sobrava.

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