Turismo do Norte defende solução de equilíbrio para hotel de Mário Ferreira no Douro

Construção de unidade hoteleira com 180 quartos ameaça pôr em risco classificação do Douro Vinhateiro como património da humanidade.

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Nelson Garrido

O presidente da Associação de Turismo do Porto e Norte, Luís Pedro Martins, defendeu esta quarta-feira uma solução de equilíbrio que garanta a sustentabilidade do projecto de Mário Ferreira em Mesão Frio, mas não prejudique o Douro como património mundial. Em causa a construção de uma unidade hoteleira que, como o PÚBLICO noticiou este domingo, pode pôr em risco essa classificação.

“Nós defendemos uma discussão que seja o mais informada possível entre todas as partes envolvidas, de forma a conciliarmos aqui a preservação deste território, isto é algo que nenhum de nós poderá abdicar, mas procurando uma solução que não condicione a sustentabilidade do investimento e que não prejudique a sustentabilidade do recurso [Douro Vinhateiro]”, salientou em declarações à Lusa.

O projecto prevê a construção de um hotel de cinco estrelas no lugar da Rede, concelho de Mesão Frio, distrito de Vila Real, com 180 quartos, que, como o PÚBLICO avançou, a Comissão Nacional da Unesco (CNU) considera que vai colocar em risco a paisagem do Douro Vinhateiro na lista dos bens classificados como patrimonio mundial, “abrindo caminho para uma futura exclusão da lista de património mundial”.

O projecto do empresário Mário Ferreira, que está em discussão pública até 29 de Janeiro, já foi recusado por duas vezes, em 22 anos.

“Eu não comungo da critica que este projecto vai contribuir para a massificação do território. Não concordo, porque ter um hotel com cento e tal quartos não é massificar um destino”, disse Luís Pedro Martins, admitindo, contudo, a discussão em torno da estética ou a volumetria do projecto que já vai na sua terceira versão.

Salientando que o bem maior é “indiscutivelmente” o Douro enquanto património, o responsável considera que a questão do turismo não é indissociável da preocupação com a preservação do património que deve ser permanente.

“Este sector [o turismo] é o principal interessado em manter o valor deste recurso que é o Douro Vinhateiro. É também com este valor que nós temos conseguido gerar atractividade turística, captar mercados de alto rendimento para o território e é também desta forma que nós temos contribuído para a economia local quer através da criação de postos de trabalho, da retenção de talento da fixação da população”, observou.

Segundo o presidente da associação, dos cerca de seis milhões de turistas que chegaram ao Porto e Norte em 2019, apenas 4% dormiram no Douro, o que mostra que o Douro “tem ainda muito por onde crescer”.

“O número de camas no Douro (…) representa 6,5% das camas da região. Andamos há décadas a dizer que o melhor do Douro ainda está para vir, só não percebo para quando é que virá”, disse.

Para Luís Pedro Martins, a construção deste hotel permitiria colmatar uma lacuna ainda existente de atracção do segmento de turismo de negócios, captando eventos ligados, por exemplo, à indústria dos vinhos e clientes com gastos médios muitos elevados.

“Eu acredito, neste projecto em particular, que um promotor que tanto tem dedicado ao Douro, que é aliás um dos principais operadores turísticos no Douro, acredito que tem todo o interesse em manter esta distinção da Unesco. Julgo que a atractividade do seu próprio investimento resulta muito do facto de ele estar inserido neste território, com esta distinção”, rematou.

A Douro Marina Hotel, sociedade do empresário Mário Ferreira, apresentou o terceiro Estudo de Impacte Ambiental (EIA) para a construção, na margem do Douro, em Mesão Frio, de uma unidade hoteleira com a classificação proposta de 5 estrelas, cujo projecto está na fase de estudo prévio.

O empreendimento turístico irá possuir uma área total de cerca de 23.100 metros quadrados, dos quais 8497 metros quadrados serão destinados à área de implantação do hotel, que terá 180 unidades de alojamento, das quais 12 correspondem a suites e três serão adaptadas para pessoas com mobilidade condicionada, sendo que a estes acrescem mais 13 quartos para alojamento do pessoal.

A restante área, com 14.603 metros quadrados, corresponde aos espaços exteriores, que se desenvolvem em torno do edifício, e será reservada à implementação de espaços verdes, áreas de lazer, acessos e parqueamento automóvel.

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