Portugal altera gestão do stock da vacina para acelerar vacinação nos lares

Em vez de manter reservas que corresponderiam a três semanas de vacinação, vai reduzir-se para uma. Novo prazo previsto de entregas da vacina da Pfizer-BioNTech permitiu avançar com esta mudança na gestão de stocks.

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A vacinação nos lares vai acelerar e deverá estar concluída no final da próxima semana Daniel Rocha

Apesar dos atrasos anunciados na entrega das vacinas da Pfizer-BioNTech, não houve uma paragem na chegada de novas doses, e esta segunda-feira Portugal recebeu parte do que estava definido. Em vez das quase 80 mil doses que deveriam ser entregues, chegaram cerca de metade e nas próximas semanas está previsto que a quebra seja bastante menor, na ordem dos 16%. Foi esta informação que permitiu a tal “melhor gestão de stock” de que falava o primeiro-ministro, António Costa, quando anunciou, esta segunda-feira, que se pretende acelerar a vacinação nos lares, concluindo-a até ao final da próxima semana.

Na prática, segundo explica Francisco Ramos, coordenador do plano nacional de vacinação para a covid-19, essa “melhor gestão” significa que o período de reserva das doses destinadas à segunda toma será mais curto. “A orientação continua a ser a de garantir que a segunda dose é administrada ao fim de 21 dias. Mas não vamos correr o risco de ficar à espera [da chegada de novas doses]. Até agora, o armazém central tinha a segunda toma armazenada desde o dia em que se tomava a primeira dose. Na prática, juntavam-se ali três semanas de doses de vacinação para a segunda toma. Vamos reduzir para uma semana”, diz.

Esta gestão tem em conta as informações que foram prestadas pela Pfizer, após ter anunciado que haveria um atraso de duas a três semanas na entrega das doses acordadas com a União Europeia. “A escassez de vacinas continua a ser o principal problema e a quebra de compromisso da Pfizer não ajuda. As entregas continuam a ser todas as semanas, mas ontem com quebra na ordem dos 50% e nas próximas semanas prevê-se que de 16%”, explica o responsável pela task force que definiu os critérios do plano de vacinação em curso. 

A alteração na gestão do stock irá permitir, segundo Francisco Ramos, que “não haja qualquer atraso” na vacinação dos grupos que estavam definidos para o arranque desta primeira fase, embora se dê prioridade aos idosos a residir em lares e aos utentes das unidades de cuidados continuados integrados. “Vamos priorizar aqueles que nos parecem estar num risco acrescido, sobretudo na ocorrência de surtos. E por isso vamos antecipar a vacinação nos lares e nos cuidados continuados. Isto prende-se com razões de saúde pública, com a necessidade de aumentar a protecção destas pessoas mais sujeitas a surtos. Na próxima semana vamos terminar a vacinação a esse conjunto de pessoas, com excepção de entidades em que existam surtos activos”, afirma.

Não há registo de efeitos adversos severos

Uma outra razão leva os responsáveis pelo plano de vacinação - que esta segunda-feira estiveram reunidos com membros do Governo - a querer acelerar a vacinação nestes locais. É que, apesar de a vacina prever a toma de duas doses para que a sua eficácia aumente, há dados que indicam que já há alguma imunidade após a administração da primeira dose. “Já sabíamos, a partir de dados clínicos, que mesmo a primeira toma já dá alguma protecção, e os primeiros estudos que têm sido feitos, como o do Hospital de S. João, confirmam essa informação”, diz Francisco Ramos. No centro hospitalar e universitário do Porto, recorde-se, 95% dos profissionais registavam alguns sinais de imunização após a primeira vacinação, a 27 de Dezembro

O coordenador do plano de vacinação acredita que, como até aqui, não haverá qualquer falha na entrega da segunda dose a todos os que recebam a vacina contra a covid-19. E em relação a reacções adversas, por enquanto, também não há razões para preocupação. “Os efeitos adversos continuam a ser recolhidos e há um conjunto deles reportados, mas não está confirmado qualquer efeito severo”, garante Francisco Ramos.

Dados da passada sexta-feira divulgados pelo Ministério da Saúde davam conta que, até àquela data, cerca de 106 mil pessoas tinham sido vacinadas. A ministra Marta Temido indicou, na semana passada, que pretendia ter concluída até ao final de Fevereiro a vacinação dos grupos já definidos e que incluíam profissionais de saúde e profissionais e residentes em lares e em unidades da rede nacional de cuidados continuados integrados. A identificação de outras pessoas incluídas nesta 1.ª fase - por razões de idade e comorbilidades associadas - estava ainda a decorrer, bem como a preparação de eventuais centros de vacinação.

Além da vacina da Pfizer-BioNTech, Portugal começou também já a receber vacina da Moderna, mas num número muito mais reduzido. Se até 11 de Janeiro tinham chegado a Portugal cerca de 240 mil doses de vacinas deste consórcio farmacêutico, até agora foi confirmada a entrega, na semana passada, de 8400 doses da Moderna, aguardando-se uma nova entrega, em número não especificado, até ao final do mês.

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