A 4.ª revolução industrial antecipou-se

A pandemia acelerou a transição para o digital três a cinco anos e deixou a quarta revolução industrial ao virar da esquina. Portugal não pode desperdiçar esta oportunidade.

No passado mês de dezembro, o Fórum Económico Mundial (FEM) publicou a edição de 2020 do Relatório Global de Competitividade, sendo que desta vez, como não podia deixar de ser, encontra-se focado na forma de os países recuperarem as suas economias dos nefastos efeitos provocados pela pandemia.

Como estamos a viver tempos excecionais, o FEM, pela primeira vez em mais de 40 anos de publicações, decidiu fazer uma pausa nas comparações da competitividade entre países, para se focar em exclusivo na forma como as economias podem e devem agir para ultrapassar rapidamente os efeitos da crise.

De acordo com alguns especialistas, a pandemia provocou acelerações na transição para o digital, sendo que talvez se tenha acelerado entre três a cinco anos. Como se sabe, os portugueses continuam a ter um nível reduzido de literacia digital.

Já antes desta crise a falta de competências digitais dos portugueses era evidente. Com a aceleração tecnológica, possuir sólidas competências digitais passou a ser imperioso. Para resolver esta questão, Portugal deve repensar as políticas ativas do mercado de trabalho, formação profissional nestas áreas e programas de requalificação da mão-de-obra. Direcionar pela formação trabalhadores para os denominados empregos emergentes permitiria resolver alguns futuros problemas.

Ao acelerar a tecnologia três a cinco anos, a quarta revolução industrial fica ao virar da esquina. Todas as revoluções industriais anteriores permitiram grandes avanços tecnológicos e esta não será exceção, mas no imediato normalmente criam desemprego para os menos preparados, sendo que no longo prazo, com a aquisição de competências (nem que seja pela geração subsequente), o desemprego será absorvido na economia. O excesso de oferta de trabalho também não vai permitir essa absorção rápida.

Mas como resolver nesta fase de transição, de forma a minimizar as consequências e não subir muito o desemprego dos não qualificados? Através da formação em competências digitais.

Apenas formação não chega, dado que é necessário preparar as gerações futuras. Em primeiro lugar, o que quer que venha a ser feito deve provir de uma abordagem holística e com estratégias a longo prazo e não de abordagens fragmentadas e de curto prazo, como é muito comum em Portugal. Em segundo lugar, nunca se deve esquecer de promover a competitividade, que sempre foi muito baixa no nosso país.

A atualização dos currículos escolares por forma a preparar os alunos para os empregos de futuro também será necessário, pois os atuais currículos não estão preparados para a transição, sem esquecer a importância de fomentar a aprendizagem ao longo da vida. Países como a Alemanha, Reino Unido, Dinamarca ou Suíça já progrediram bastante nestas atualizações.

Por fim, não seria despiciente intensificar a cultura empreendedora. Apoios suplementares ao empreendedorismo são necessários, já que muitos projetos inovadores não são implementados por falta de quem financie o risco. Fortemente relacionado com o empreendedorismo são as colaborações entre centros de pesquisa, universidades e empresas.

Assim, encaminhar o progresso tecnológico obtido através do conhecimento científico e experimentação para a atividade empresarial apresenta consequências positivas a longo prazo sobre a competitividade, produtividade e emprego bem remunerado.

Como se vê, não faltam pistas para trabalho. Espero que a pandemia e o tradicional “deixa ver o que dá” português não impeçam de fazer aquilo que tem de ser feito, sob pena de mais uma vez não acompanharmos uma revolução industrial.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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