Líder da oposição no Uganda preso em casa há vários dias sem acusação

Embaixadora dos Estados Unidos tentou visitar Bobi Wine mas foi impedida pela polícia. Governo do Uganda acusa Washington de tentar interferir e subverter resultado das eleições. Oposição fala em fraude e vai contestar resultado nos tribunais.

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Forças de segurança cercaram a casa de Bobi Wine após as eleições Reuters/BAZ RATNER

O líder da oposição no Uganda, o rapper Bobi Wine, está preso em casa desde as eleições da passada quinta-feira, que deram a reeleição a Yoweri Museveni, no poder há 35 anos, e na segunda-feira foi impedido de receber a visita da embaixadora norte-americana.

Robert Kyagulanyi Ssentamu, mais conhecido pelo nome artístico de Bobi Wine, de 38 anos, que se tornou famoso pelas suas músicas em que denuncia a corrupção e critica o Governo, obteve cerca de 35% dos votos, enquanto Museveni, de 76 anos, teve 59%, de acordo com os resultados oficiais divulgados no passado fim-de-semana.

No entanto, a oposição insiste que houve fraude eleitoral e Bobi Wine decidiu contestar os resultados nos tribunais, enquanto Museveni nega quaisquer irregularidades.

O líder da oposição, contudo, não consegue sair de casa desde o dia das eleições, uma vez que a polícia fez um cordão de segurança à entrada da sua casa, não deixando ninguém entrar ou sair. As autoridades negam que se trate de uma detenção, e garantem que o contingente policial visa proteger Bobi Wine.

Os advogados do líder da oposição apresentaram esta terça-feira uma petição num tribunal para contestar a detenção de Bobi Wine, não estando ainda prevista data para a audiência.

A detenção do rapper, que ainda não foi alvo de qualquer acusação, ganhou maiores proporções na segunda-feira, quando a embaixadora dos Estados Unidos no Uganda, Natalie E. Brown, tentou visitar Bobi Wine, para confirmar o seu estado de saúde e segurança, e foi impedida pela polícia ugandesa.

Em resposta, o Governo do Uganda acusou os Estados Unidos de tentarem inverter o resultado das eleições e de interferirem nas questões internas do país.

“O que [a embaixadora] tem tentado fazer descaradamente é intrometer-se na política interna do Uganda e tentar subverter as nossas eleições e a vontade do povo”, acusou Ofwono Opondo, porta-voz do Governo, citado pela Reuters.

Antes da votação, os Estados Unidos pediram transparência durante as eleições, isto depois de, tal como aconteceu com a União Europeia, não terem enviado observadores internacionais para acompanhar o desenrolar do processo eleitoral, alegando que as autoridades ugandesas não deram permissão.

Na semana passada, a embaixadora norte-americana denunciou ainda a perseguição a candidatos da oposição durante a campanha eleitoral – Bobi Wine foi detido três vezes -, as tentativas do Governo silenciar os media e as organizações de defesa dos direitos humanos, bem como os cortes na Internet, que apenas foi restabelecida no país na segunda-feira.

A embaixada dos Estados Unidos no Uganda ainda não respondeu às acusações do Governo, mas este já é apontada como um dos momentos de maior tensão entre os dois países que até então têm mantido boas relações, com Washington a ver em Kampala um aliado importante na região, principalmente no combate ao jihadismo na Somália.

A tensão diplomática entre Estados Unidos e Uganda surge numa altura em que a oposição ao Presidente Yoweri Museveni está a planear a contestação dos resultados eleitorais nos tribunais.

Na segunda-feira, as instalações da Plataforma de Unidade Nacional, o partido de Bobi Wine, foram cercadas pela polícia, uma manobra que a oposição considera como uma tentativa de impedir os seus membros de recolherem provas da fraude eleitoral e de dificultar a libertação de Bobi Wine.

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