Como mãe não quero que a escola feche, como médica peço-o com urgência

As imagens que passam diante dos nossos olhos, na televisão ou nas redes sociais, não são de um país longínquo. São dos nossos hospitais, praticamente em colapso. São de Portugal, um dos países com mais casos e mortalidade por milhão de habitantes

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Nelson Garrido

Não sou  a favor do ensino não presencial, como mãe. Com três adolescentes em casa no confinamento anterior — o verdadeiro, o não light ou self-service, aquele em que as pessoas não alugavam cães para passear na rua —, tenho a perfeita noção de como é variável a aprendizagem em casa. Depende do aluno, depende da escola, depende de ter meios em casa, depende de os pais aguentarem os filhos em casa.

A minha filha mais velha fez o 12.º ano nesses moldes. Pensei que não ia conseguir: foram semanas de nervos, choro e revolta, pois preferia estar no liceu. Ainda hoje diz que prefere estar na sala de aula do que em frente ao monitor (na universidade aplicam o sistema misto, semana em casa, semana na faculdade). Os outros dois, rapazes, sentiram-se muito confortáveis em casa. Apesar do notável esforço dos seus professores, queixavam-se de que nem sempre o Zoom funcionava, entre outras anedotas do ensino online.

Senti que durante aqueles meses, nenhum deles era o mesmo.

Apesar de tudo, todos preferem ir para a escola, mesmo de máscara, mesmo distanciados, mesmo com o frio nas salas que precisam de arejar.
Gostam de estar com os colegas e com os professores. Por estes dias, lá em casa, este assunto tem sido muito falado e todos são unânimes que as escolas deviam fechar. Pensaram que a medida seria anunciada já esta semana, e nem compreenderam bem medidas como venda de bebidas ao postigo, entre outras.

Hoje, continuamos em Portugal a bater recordes de mortalidade: nove pessoas por hora.

Como médica e cidadã, não vejo outra solução a não ser encerrarem as escolas, e não compreendo o motivo do wait and see. Mesmo sabendo de antemão o que isso significa, pela desigualdade a todos os níveis: depende da escola, depende dos alunos, depende dos meios ao dispôr em casa. Fechar já as escolas é um mal necessário, mas vai salvar inúmeras vidas.

Por isso, para quê esperar mais uma semana por mais uma reunião com peritos, se em intervenções públicas vários médicos, que são peritos, já demonstraram serem estas as medidas a pôr em prática?

Não pode quem nos governa acelerar o que é o mais prudente e sensato?

Encerrar pelo menos o 3º ciclo. Por motivos economicistas, pois a partir dos 12 anos não existe a possibilidade de ficar em casa a prestar assistência a menores com apoio da Segurança Social, e com crianças mais novas em casa o teletrabalho torna-se pouco exequível.

Mas só essa medida tomada já, seria uma enorme ajuda para travar a mortalidade exponencial.

E termino como comecei: não sou a favor do ensino não presencial, como mãe. Mas as imagens que passam diante dos nossos olhos, na televisão ou nas redes sociais, não são de um país longínquo. São dos nossos hospitais, praticamente em colapso. São de Portugal, um dos países com mais casos e mortalidade por milhão de habitantes.

Nove pessoas por hora a morrerem no nosso país, é uma tragédia.

Fechem as escolas, já. Pelas pessoas.

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