Livreiros independentes querem apoio regular do Estado

Ainda persuadidos de que poderiam vender ao postigo – cenário que parece agora afastado –, receiam que algumas livrarias não aguentem outro confinamento.

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Os 300 mil euros que a ministra da Cultura anunciou para reeditar o programa de aquisição de livros a pequenas e médias livrarias independentes é considerado insuficiente pela Rede de Livrarias Independentes (RELI), que divulgou um comunicado no qual defende que o Estado deve “reforçar continuadamente, e ao longo dos anos, as compras de livros para as bibliotecas às livrarias de proximidade, a preços normais de venda ao público”.

A RELI admite que as restantes medidas anunciadas e que dizem respeito a todos estabelecimentos comerciais, como o lay-off simplificado ou os apoios aos sócios gerentes, contribuirão eventualmente para “atenuar os efeitos devastadores provocados pelo encerramento das livrarias”, mas avisa que “poderão não ser suficientes para garantir a sobrevivência” destas.

A posição da RELI foi divulgada quando se mantinha ainda a convicção de que as livrarias, embora não pudessem receber clientes no interior do estabelecimento, estariam autorizadas a vender ao postigo ou à porta, possibilidade que António Costa parece ter expressamente descartado na conferência de imprensa que deu esta segunda-feira à tarde para anunciar as novas restrições decididas pelo Conselho de Ministros. Segundo o chefe de Governo, quaisquer estabelecimentos que não sejam “do ramo alimentar” estão proibidos de vender à porta. 

A RELI elogia a decisão do Governo de proibir a venda de livros em supermercados, hipermercados e noutros estabelecimentos não livreiros, medida que não fora adoptada no primeiro confinamento e que, argumenta a associação, deixara as livrarias, obrigadas a fechar as portas, perante uma concorrência desleal. Mas se o comunicado já sublinhava que esta medida “não eliminará o risco de desaparecimento das livrarias de proximidade”, a confirmar-se a proibição de venda ao postigo, a situação “piora bastante”, diz Arnaldo Vila Pouca, da livraria portuense Flâneur. “Acredito que vamos sofrer um bocadinho mais agora do que no primeiro confinamento”, diz este livreiro, que fundou a Flâneur há cinco anos com a sua sócia Cátia Monteiro, que conheceu quando ambos trabalhavam numa livraria Bertrand.

Rapidamente transformada numa instituição cultural da cidade, frequentada por escritores, investigadores e leitores a cujos interesses os livros disponíveis nos hipermercados não respondem, a Flâneur resistiu bastante bem ao confinamento de Março e Abril, reconhece Arnaldo Vila Pouca, que usa uma bicicleta eléctrica para entregar pessoalmente as encomendas de livros no Grande Porto. Fundamental, também, para aguentar as contas foram as vendas através do site da livraria, que “dispararam para o triplo”, conta, porque “havia um medo muito grande e naquela altura as pessoas ficaram mesmo em casa”.

Uma situação que não está a repetir-se. “O que se passou logo nos dias iniciais do primeiro confinamento não tem nada a ver com o que está a acontecer agora”, constata. Sem possibilidade de vender à porta, a menos que o Governo venha a abrir uma excepção para as livrarias, receia que as encomendas através do site não voltem a aumentar como antes e que “estes próximos 15 dias [que poderão vir a transformar-se num período bastante mais longo] sejam apenas para arrastar”.

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