Seguinte geração, por que caminhos andarão?

Num contexto de covid-19 que parece ainda não ter um fim definido, repensar a questão educativa é por demais necessário e urgente, sobretudo se os estudantes vêem o seu processo de formação como estando continuadamente dotado de imprevisibilidades e recuos.

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Daniel Rocha

O que estes tempos de pandemia nos têm vindo a mostrar é a importância da consolidação da educação como um pilar básico da construção de uma cidadania mais efectiva e de uma sociedade mais desenvolvida. Por isso, cada dia em que os jovens não têm acesso às aulas torna-se um dia perdido para a formação das futuras gerações. 

Sabemos que as medidas de reforço do sector educativo não são as mais populares entre os políticos, dado que elas exigem muito investimento (de recursos materiais e humanos e de tempo) e possibilitam apenas resultados demorados e nem sempre previsíveis ou suficientes. Talvez uma boa parte de nós não esteja bem consciente, mas o impacto de uma educação melhorada demora muitos anos, talvez uma geração ou mais, a tornar-se visível. Como os governantes – excepto em regimes democráticos iliberais ou em ditaduras – não se perpetuam no poder, os alcances conseguidos pelas medidas mais reformistas que estes tomarem relativamente a planos educativos, muito possivelmente, não trarão mais no imediato do que uma despesa grande que aqueles políticos estão, na sua maioria, longe de querer ter de suportar. E, por isso, eles decidem ficar-se pelas medidas mais contidas e direccionadas: alguns equipamentos para esta ou aquela escola, alguns apoios neste ou naquele ano e, certamente, muitas reivindicações dos louros e ovações discursivas quanto a essas iniciativas. 

Temos, pois, de questionar, perante estas rejeição ou apatia política generalizada contra a promoção de uma educação renovada, em que alunos, professores e demais agentes educativos passam a poder envolver-se activamente numa aprendizagem co-construída, se a presente educação é suficiente para as gerações vindouras. Mas não apenas isso: devemos ser críticos do nosso próprio papel enquanto sujeitos do presente. Porque seria justo que apenas os do futuro trabalhassem nesse futuro? Consegue uma sociedade organizar-se e ser sustentável se apenas pensar no segundo em que vive, esquecendo o momento em que nasceu e o lugar onde quer chegar? Sabemos bem com a história da humanidade que foi essa fraca memória do passado que deu abertura a todo o tipo de acções atentórias contra o ambiente e contra cada um de nós como sujeitos merecedores de dignidade e respeito. 

Num contexto de covid-19 que parece ainda não ter um fim definido, repensar a questão educativa é por demais necessário e urgente, sobretudo se os estudantes vêem o seu processo de formação como estando continuadamente dotado de imprevisibilidades e recuos. A qualidade do que se educa determinará o brio com que os jovens decidem integrar as relações sociais, fortalecer a cultura, impulsionar a economia e criar um projecto de vida adaptado às suas necessidades e, acima de tudo, aos seus desígnios. Não é, por isso, indiferente ter uma população empenhada ou desmotivada na escola e no ensino superior porque isso ditará o estar e o agir no nosso mundo futuro. 

As aulas presenciais revelam-se, deste modo, como excelente exemplo de um substancial garante deste empenho e desta motivação, dos cuidados que os alunos merecem para se sentirem numa posição de igualdade de tratamento e para manterem uma socialização com os seus colegas e amigos, pais, funcionários e professores que seja minimamente saudável. No fundo, a existência das aulas em regime presencial é o que neste momento consegue possibilitar aos mais novos, mas também a todos os outros agentes educativos, a chamada segurança ontológica, conceito cunhado pelo sociólogo Anthony Giddens, ou seja, a sensação de que a vida tem uma continuidade que permite uma estabilidade e uma ordem nas experiências quotidianas. Não obstante o agravamento súbito da situação pandémica, existem anos, como os que integram o 1.º e o 2.º ciclo, onde estar na escola faz a diferença para as crianças poderem tomar refeições mais completas, brincar com os mais próximos e terem, portanto, acesso a condições que atenuem as desigualdades económicas e sociais subsistentes no seio familiar. 

A educação não pode, por tudo isto, continuar a ser encarada como uma mera área onde crianças tomam contacto com conhecimentos teóricos. Ela deve ser interpretada como superior a esta ideia, como um plano de acção perante cidadãos já plenos e perante uma democracia que todos queremos como mais robusta e participativa. E se a pandemia tem sido uma boa professora no que concerne ao ensino da relevância da educação para a construção de uma resiliência individual e comunitária, assoma-se imprescindível que tal resiliência se estruture como base de uma visão social e de tomadas de posição políticas que visem acções concretas para proteger os nossos companheiros do hoje e do amanhã.

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