Por Marcelo

No momento difícil que o país atravessa, com a pandemia a agravar-se e com a situação económica a degradar-se continuamente, precisamos de um Presidente que una os Portugueses, de um Presidente de todos e não de um Presidente de facção, de um Presidente apaziguador e tolerante, de um Presidente culto e não apenas político.

Em 2016, votei Sampaio da Nóvoa, sabendo (e não me preocupando muito com isso) que seria Marcelo Rebelo de Sousa a ganhar as eleições. Cinco anos depois, não renego nem esse voto, nem sobretudo essa falta de preocupação – o futuro veio a demonstrar-me que o Presidente então eleito era (foi) a melhor garantia para o regular funcionamento das instituições democráticas.

Porque, como escreveram alguns ex-governantes socialistas, “dignificou a representação externa do Estado e exerceu de forma inteligente uma magistratura de influência na promoção de consensos e uma pedagogia de mobilização e confiança nos diversos sectores da sociedade portuguesa”

Marcelo Rebelo de Sousa é certamente um homem de Direita – de uma direita democrática, de inspiração cristã, de uma “direita social”, como recentemente afirmou num debate televisivo. Eu considero-me um homem de Esquerda, de uma esquerda democrática, antidogmática e tolerante. Considero que, em Democracia, esquerda e direita são igualmente necessárias, porque só se consegue andar com os dois pés, aproveitando a metáfora feliz que o candidato Vitorino Silva recentemente exprimiu.

Há numa certa esquerda a ideia de que ser de Direita é um “pecado”. Curiosamente, na mesma esquerda que saúda (e bem) a vitória de Biden (que não é propriamente um homem de esquerda) ou defende agora Angela Merkel, há poucos anos considerada quase como “fascista”.

E isso acontece precisamente porque a História (e nomeadamente a política) não se desenrola de um modo contínuo e coerente, sem mudanças de paradigma, pelo que o que é certo num determinado momento não será necessariamente certo para todos os momentos da nossa vida. Atrevendo-me à presunção de falar de mim, assumo isso na evolução do meu posicionamento ideológico, não renegando nenhuma das fases, pois todas elas ajudaram a construir o cidadão que sou hoje.

Há tempos, o Observador publicou dois artigos sobre os livros que tinham formado a Esquerda e os livros que tinham formado a Direita – 15 livros para cada uma das formações. Para espanto meu (ou nem tanto, dado que fui sempre mais leitor de ficção e poesia), nunca tinha lido qualquer um desses trinta livros. De certa maneira, essa constatação empurrava-me para o centro do espectro político.

O meu percurso começou nas juventudes católicas, levou-me ao Personalismo de Mounier, passou pela condição de compagnon de route do PC durante as lutas académicas, de seu militante depois do 25 de Abril, e finalmente pelo corte com a ilusão comunista após a invasão soviética do Afeganistão. Tudo isto, precisamente, porque a própria História ia mudando os seus paradigmas e eu, com ela, mudando os meus. Homem sem partido desde 1979, coloquei-me sempre no centro-esquerda do cenário político português, embora crítico de muita coisa que se fez e estimando e admirando homens e mulheres que se encontravam do outro lado desse falso “muro”. Ou seja, nunca considerei que ser de Direita fosse um “pecado” – de uma Direita democrática, evidentemente. Julgo ser esse o legado de homens como Mário Soares ou Olof Palme – ser radicalmente a favor da liberdade e da democracia, acolhendo de igual modo os contributos positivos que provenham dos dois lados da família democrática.

É por isso que vou votar em Marcelo Rebelo de Sousa – o único dos candidatos em que revejo o meu pensamento político.

Como europeísta, não poderia votar em Marisa Matias ou João Ferreira (embora mereçam o meu respeito enquanto cidadãos). Como anti-populista não poderia dar o meu voto a Ana Gomes. Como defensor de um Estado forte (o que não é o mesmo que pesado), discordo das posições liberais (ou neoliberais) de Tiago Mayan. Como antifascista e humanista, não poderia votar em André Ventura. Se o meu voto fosse de mero protesto, mas apenas porque sabia que Vitorino Silva nunca seria eleito, admito que pudesse optar pelo seu nome.

No momento difícil que o país atravessa, com a pandemia a agravar-se e com a situação económica a degradar-se continuamente, precisamos de um Presidente que una os Portugueses, de um Presidente de todos e não de um Presidente de facção, de um Presidente apaziguador e tolerante, de um Presidente culto e não apenas político.

Esse Presidente é Marcelo Rebelo de Sousa. Porque ele é também um homem dos livros. E é nos livros que se aprende que, como dizia Cervantes, “pela liberdade, tanto quanto pela honra, pode e deve aventurar-se a nossa vida”.

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