China foi a primeira a entrar em crise, mas a única a crescer em 2020

Gigante asiático cresceu 6,5% nos últimos três meses do ano passado e 2,3% no total de 2020, escapando à tendência de desaceleração registada nas outras grandes potências mundiais por causa da segunda vaga da pandemia

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Movimento nas ruas de Pequim regressa à normalidade Reuters/TINGSHU WANG

Sem recaídas comprometedoras e a concretizar aquilo a que os economistas chamam de retoma em “V”, a China garantiu durante o ano de 2020 uma taxa de crescimento positivo, anunciaram esta segunda-feira as autoridades estatísticas do país. Foi o primeiro país a entrar em crise, mas acaba o ano com um caso único positivo entre as maiores economias do planeta.

Numa altura em que, nos EUA e na Europa, as economias estão novamente em quebra por causa da necessidade de aplicação de novas medidas de confinamento, a China continua a mostrar uma tendência de progressiva aceleração, conseguindo já nos últimos três meses de 2020 um regresso a níveis de crescimento próximos dos que se registavam antes do início da pandemia.

De acordo com os dados publicados esta segunda-feira pelas autoridades estatísticas chinesas, a maior economia asiática cresceu, durante o quarto trimestre de 2020, 6,5% face ao período homólogo do ano anterior. É um resultado que fica acima daquilo que era a expectativa dos analistas, representa uma aceleração face ao crescimento de 4,9% que já tinha conseguido no terceiro trimestre e consolida a ideia de que a China é, entre as maiores potências económicas mundiais, a que está a conseguir sair de forma mais rápida da crise, apresentando aquilo a que se chama uma retoma em “V”.

A aceleração do último trimestre do ano garante ainda que, no total de 2020, a taxa de crescimento anual ficou em terreno positivo, com uma variação do PIB de 2,3% face a 2019.

É verdade que um crescimento de 2,3% é, para a China, um valor anormalmente baixo. É mesmo o resultado mais baixo registado desde 1976, comprovando a gravidade da crise sentida também pela economia chinesa. No entanto, é também evidente que o gigante asiático está a conseguir, em comparação com outras economias, lidar melhor com a actual conjuntura de dificuldade.

Como tem vindo a ser antecipado pela generalidade das instituições internacionais, a China vai ser, entre as maiores economias de maior dimensão, a única a registar uma variação positiva do PIB em 2020, um ano em que a pandemia do novo coronavírus afectou de forma muito severa todas as economias do globo. Na semana passada, o Banco Mundial, nas suas previsões económicas para o globo, colocava a China a crescer 2% em 2020, ao passo que antecipava uma contracção de 3,6% para os EUA e de 7,4% para a zona euro. 

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A China até foi o primeiro país a entrar em confinamento e, no primeiro trimestre do ano, a sua economia caiu mais do que as dos restantes países: quase 7%. Mas, depois, acabou também por beneficiar de uma retirada mais rápida das medidas de confinamento e da ausência de segundas vagas da pandemia de grande dimensão, o que tem permitido uma recuperação rápida, tanto do consumo como da produção industrial.

Além disso, o sector industrial chinês beneficiou, num cenário de quebra da actividade económica global que poderia ser prejudicial para as suas exportações, do facto de a procura de equipamentos de protecção contra o vírus e de equipamentos electrónicos ter aumentado de forma considerável.

Isto permitiu não só que as exportações chinesas não caíssem, como ainda que se registasse um alargamento do excedente comercial do país para um valor recorde de 535 mil milhões de dólares em 2020, uma subida de 27% face a 2019.

Os indicadores positivos agora anunciados não significam, contudo, que a economia chinesa não tenha problemas sérios pela frente. A apreciação do iuan face ao dólar, combinada com o ainda maior desconforto de Europa e EUA com a sua dependência face a produtos fabricados na China, fazem com as perspectivas para a evolução das exportações sejam menos forte do que no passado.

Perante isto, as autoridades chinesas apostam numa aceleração da sua estratégia de reforço do peso da procura interna na economia, tendo no imediato lançado programas de investimento público e aliviado as restrições à concessão de crédito, o que está a contribuir para sustentar níveis de crescimento mais elevado na construção e no consumo.

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