Boas notícias

Um jornal, pela sua natureza, pretende chegar a todos os cidadãos, sem excepção. Alguns leitores sentem-se excluídos desse processo e escrevem ao provedor para transmitir os problemas que os afectam, a eles, mas também aos grupos de cidadãos que têm as mesmas dificuldades.

Diz o leitor João Medina: “Escrevo-lhe para partilhar um problema que detecto há vários anos no jornal pelo facto de ser daltónico. Trata-se da representação gráfica das estrelas atribuídas aos filmes. Para um daltónico, a opção de cores entre as estrelas ‘preenchidas’ e as estrelas ‘vazias’ não cria um contraste que permita a sua distinção. Torna-se assim difícil ver quantas estrelas foram atribuídas a cada filme. Tenho constatado que acontece exactamente o mesmo a outros daltónicos, que andam à volta com o jornal, à procura de uma iluminação ou brilho que permita a distinção.”

Transmiti a observação do leitor a Sónia Matos, directora de Arte do PÚBLICO. Com o confinamento em curso, as salas de cinema estão fechadas e, enquanto essa situação durar, não haverá crítica aos filmes no jornal. Com o regresso à normalidade, assegura Sónia Matos, as estrelas da agenda cultural vão aparecer a cheio ou vazias, e sem cor, permitindo desse modo que a opinião dos críticos de cinema do jornal chegue também aos seus leitores daltónicos.

O leitor João de Sousa e Silva tem um problema de outra natureza. Escreve ele, a propósito da futura versão do e-reader do PÚBLICO: “Na última grande remodelação da aplicação móvel, em 2018, fiquei sem ter acesso ao jornal durante meses. (…) Acontece que sou cego e utilizo software leitor de ecrã para ver os conteúdos. (…) (Durante) vários meses mal consegui ler o jornal e senti-me mais excluído e alienado do mundo. (…) Fica o meu pedido para que a acessibilidade digital não seja descurada.”

Dirigi este pedido ao director-adjunto Amílcar Correia e creio que a resposta dele pode tranquilizar o leitor: “A edição impressa pode ser lida em PDF na aplicação (para telefone e tablet) e em PDF e e-reader no computador. A leitura na aplicação vai manter-se tal como está actualmente. Na edição em e-reader, estamos a ponderar várias melhorias, que permitam uma navegação e uma experiência de leitura mais dinâmica, uma vez que os leitores da mesma têm vindo a crescer exponencialmente desde o primeiro confinamento, em Março.”

João de Sousa e Silva pede ainda que o PÚBLICO identifique melhor os autores de colunas de opinião: “(…) Para além do nome do autor, seria de extrema importância [saber se ele é] jornalista, médico intensivista, advogado. Compreenderá que não é prático ir ao site do PÚBLICO consultar o perfil de cada vez que se lê um artigo [assinado por alguém que] não se reconhece. Acresce que, por exemplo, uma opinião sobre saúde terá um crédito maior se vier de uma enfermeira do que de uma advogada, e eu gostaria de ter uma ideia do quão informada é a pessoa que escreveu o artigo.”

O mesmo tema das assinaturas é também abordado a partir de um caso concreto. A propósito do texto de opinião “O caso do procurador europeu entre o escândalo e a ironia do destino”, publicado na edição de 5 de Janeiro de 2021, o leitor Rodrigo de Almada Martins considera que o autor da coluna, António Cluny, foi insuficientemente identificado pelo jornal. “(…) António Cluny não é propriamente uma figura pública de relevo, pelo que o leitor não é de todo obrigado a saber que ele é magistrado do MP e, ao mesmo tempo, magistrado do Eurojust. Caso contrário, como leitor do PÚBLICO, terei que passar a investigar o CV de quem escreve no jornal, de forma a aferir da isenção da sua opinião. Assim sendo, gostaria de saber a opinião do provedor acerca deste tema e da necessidade [ou não] de o PÚBLICO, antes de publicar a opinião, investigar os possíveis conflitos de interesse do escriba, sob pena de levarem o leitor a formular juízos de opinião a partir de fontes não independentes.”

Pedi um esclarecimento ao director-adjunto Tiago Luz Pedro: “Todos os textos de opinião no PÚBLICO são assinados na primeira pessoa e incluem obrigatoriamente uma breve descrição profissional de quem o assina. Essa referência surge sempre no fim dos textos, tanto no papel como nos suportes digitais. Reconhecemos que temos, de facto, um problema ao nível da nossa app, em que essa informação é suprimida devido a uma falha no desenho da aplicação. Seremos breves na correcção desta lacuna”.

Pelas razões que invocou na sua coluna (28.11.2020), o provedor não se pronuncia sobre as opiniões expressas no PÚBLICO.

A leitora Ana Vargas transmitiu ao provedor a sua indignação pelo teor do artigo “Tributo a Maryanne Amacher em Serralves”, publicado a 8 de Janeiro na secção de cultura do jornal: “(…) É dito o seguinte, que aparece no texto e em destaque: Para Pedro Rocha, que já programou Pauline Oliveros e Éliane Radigue em Serralves, Maryanne Amacher é talvez a compositora ‘mais importante pós-John Cage (homens incluídos)’. Imaginemos que se tratava de um homem e troquemos a parte final da frase: … é talvez o compositor ‘mais importante pós John Cage (mulheres incluídas)’. Faria sentido? Justificava-se?”

E conclui a leitora: “Podemos dizer que é uma questão gramatical e que na língua portuguesa o masculino é neutro e que, quando utilizado, abrange ambos os sexos, mas considerar que num caso como este é necessário esclarecer que inclui os homens remete para uma noção de excepcionalidade. Como se fosse necessário esclarecer que quando se refere a proeminência de uma mulher se tem de explicitar que abrange os homens. Mais absurdo ainda se torna quando é mencionada como a compositora mais importante pós-John Cage, que é um homem!”

“Penso que o PÚBLICO, como jornal de referência que se afirma como tal, deverá ter um cuidado especial na linguagem que utiliza e sobretudo nos destaques que faz.”

Enviei o protesto da leitora à jornalista Mariana Duarte, que a ele responde: “A frase que refere está entre aspas, ou seja, é uma citação do entrevistado, Pedro Rocha. Acredito que ele tenha sentido necessidade de dizer ‘homens incluídos' pois, ao afirmar ‘é talvez a compositora mais importante pós-John Cage’, podia dar a entender, erradamente, que era a mais importante apenas entre mulheres, já que ‘compositora’ se refere apenas ao feminino. Eu, como leitora, ficaria na dúvida, e penso que outras leitoras e outros leitores também ficariam. Tanto mais tendo em conta que, no parágrafo anterior, falávamos sobre as compositoras pioneiras da música electrónica. Poderia parecer que Maryanne Amacher era a mais importante pós-John Cage em comparação com elas. Não me parece, portanto, que o Pedro Rocha esteja a afirmar a excepcionalidade de Amacher enquanto artista mulher, mas a deixar claro precisamente o contrário: a sua excepcionalidade perante ambos os géneros.”

Pela pertinente resposta da jornalista, o provedor conclui que a leitora foi “mais papista que o Papa” e que Mariana Duarte teve, de facto, um cuidado especial na linguagem e nos destaques que fez.

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