Acordar nocturno, ressonar, enxaqueca matinal, sonolência excessiva... Quem se identifica?

Muito recentemente a Medicina Dentária tem-se revelado de extrema importância no diagnóstico precoce dos distúrbios respiratórios obstrutivos do sono, quer no tratamento coordenado com outras áreas médicas, como sejam a Pneumologia, a Otorrinolaringologia e a Pediatria, entre outras.

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"O diagnóstico precoce dos distúrbios respiratórios do sono, em crianças e adolescentes, permite prevenir o aparecimento de outras doenças associadas" Adriano Miranda

O sono é um estado de desconexão reversível com o meio que nos rodeia, permitindo que o organismo recupere o desgaste físico e mental do dia-a-dia, e ainda cumpre a função de regulação metabólica e fisiológica. Uma noite de sono mal dormida tem um efeito semelhante a um estado leve de embriaguez, prejudicando a coordenação motora, afectando as capacidades cognitivas ao nível do raciocínio e da memória.

Estima-se que cerca de 80% da população adulta, apresenta pelo menos um distúrbio de sono por diagnosticar. Sendo que as mais prevalentes entre a população, são a Insónia e a Apneia, levando à fragmentação do sono e contribuindo em grande parte, para o aumento de risco de hipertensão arterial, doença cardiovascular, diabetes, sonolência excessiva diurna, risco de acidentes de viação e consequente perda da qualidade de vida.

Nas crianças com idades compreendidas entre os 2 e os 8 anos, a prevalência da Apneia estima-se que esteja entre os 1 a 5 %. Estudos recentes demonstram, que esta quando não tratada em crianças e adolescentes está relacionada com o baixo rendimento escolar, falta de concentração, irritabilidade, hiperactividade e mau comportamento.

Muito recentemente a Medicina Dentária tem-se revelado de extrema importância no diagnóstico precoce dos distúrbios respiratórios obstrutivos do sono (como é o caso da Apneia e do Ronco, em crianças, adolescentes e adultos), quer no tratamento coordenado com outras áreas médicas, como sejam a Pneumologia, a Otorrinolaringologia e a Pediatria, entre outras.

Sabemos hoje, que o diagnóstico precoce dos distúrbios respiratórios do sono, em crianças e adolescentes, permite prevenir o aparecimento de outras doenças associadas, como por exemplo a Obesidade e a Diabetes, assim como, evitar má oclusão dentária, alterações da mastigação, da deglutição e má postura.

Quais são os principais sinais de alerta da Apneia Obstrutiva do Sono? Em adultos, os sinais mais frequentes, de Apneia são: o acordar nocturno frequente, noctúria (necessidade de acordar para urinar), ressonar, engasgo e acordar sufocado, enxaqueca matinal, sonolência excessiva diurna, cansaço, fadiga, alterações de humor, perda de memória e diminuição da concentração.

As crianças e os adolescentes, regra geral apresentam: transpiração excessiva nocturna, ressonar, sono muito agitado com movimentos involuntários de braços e pernas, respiração oral nocturna (babam a almofada com frequência), hiperdesenvolvimento de adenóides e amígdalas, enurese (perda involuntária de urina), sonolência no despertar, alterações cognitivas com dificuldade da aprendizagem, mau comportamento e baixo rendimento escolar.

Perante a presença destes sinais de alerta é importante procurar ajuda médica. E, atenção! Mesmo em tempos de pandemia, não deve adiar o diagnóstico e tratamento de patologias do sono. Desde a Medicina Dentária, à Pneumologia, à Otorrinolaringologia, à Pediatria, deve procurar um clínico com diferenciação em medicina do sono. Sim, existem várias especialidades médicas a que pode recorrer e, em segurança, visto que as unidades de saúde têm aplicados protocolos e circuitos para a garantir.

Importa ainda referir que existe tratamento para a Apneia Obstrutiva do Sono e que este deve ser aplicado o mais rapidamente possível. O tratamento de eleição nos adultos é sem dúvida a utilização nocturna de ventilador CPAP (Continue Positive Airway Pressure), no entanto nos casos de apneia ligeira e moderada os DAM (Dispositivos de Avanço Mandibular, colocados pela Medicina Dentária do Sono), têm demonstrado clínica e cientificamente que, a alta taxa de adesão por parte dos pacientes se traduz numa elevada eficiência, no controlo e tratamento da apneia e ronco.

Nas crianças e adolescentes a abordagem de tratamento é diferente, pois poderá passar por cirurgia de remoção das amígdalas e adenóides, em associação com a colocação de aparelhos de correcção dentária e posicionamento dos maxilares, terapia mio funcional para trabalho muscular de regularização do tónus da musculatura mastigatória, respiratória e postural.

Por fim, deixo ainda a nota de que a boa higiene do sono é uma prática útil e relevante transversal no tratamento destes distúrbios e a outras patologias quer em adultos, quer em crianças e adolescentes.

PS: Exemplo da dinâmica multidisciplinar que existe no tratamento de doenças do sono é o Webinar CUF Talks “Como são as suas noites de sono?” em que vou participar dia 18 de Janeiro pelas 18h, juntamente com a Dr.ª Ana Sofia Oliveira, pneumologista, o Dr. Filipe Freire, otorrinolaringologista e a moderação da Dr.ª Susana Noronha. 

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