Os farmacêuticos não podem ser alienados do processo de vacinação

A elevada qualidade e preparação científica dos farmacêuticos tornam-nos activos valiosos como profissionais de saúde. São o garante da qualidade da prestação de cuidados de saúde.

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Daniel Rocha

Os adolescentes e os adultos jovens ao longo de décadas tiveram um papel impulsionador de movimentos que geraram mudanças sociais em todo o mundo. 

O papel decisivo na conquista de direitos civis tem a sua tradução em vários movimentos estudantis que marcaram o nosso passado recente: os protestos, no início dos anos 60, dos jovens norte-americanos contra a Guerra do Vietname, o Maio de 68, a imagem de estudantes chineses desarmados que enfrentavam a investida do exército na Praça Tiananmen e, mais recentemente, a Primavera Árabe colocam os jovens na trajectória da conquista dos direitos, liberdades e garantias. 

A juventude de hoje tem um novo e diferente desafio, que não deixa ninguém indiferente: a situação pandémica provocada pelo SARS-CoV-2. 

O surgimento e a persistência deste quadro pandémico acarreta consigo consequências económicas, políticas e sociais com implicações profundas nos sistemas de saúde de todos os países. De forma inexorável, qual fogo na pradaria? A crise pandémica tornou-se avassaladora. 

Em saúde, entramos na área das estatísticas. Os óbitos deixaram de ser fatalidades, e passaram a ser grandezas abstractas, na busca diária de saber quando atingir o número mais alto. Um jogo de apostas, para ver quem ganha e quem perde. 

No meio desta turbulência estão os profissionais de saúde que tentam de alguma maneira contrariar este caminho, cientes das naturais dificuldades resultantes da limitação dos recursos e da complexidade da situação. O desvio dos recursos humanos para tratamento e apoio dos “doentes covid-19” e para o processo de vacinação em curso faz exacerbar a sensação de insegurança, de abandono, da falta de protecção em saúde, daqueles que necessitam de cuidados mais permanentes ou urgentes. 

Perante este quadro, a sociedade exige que se criem condições para o envolvimento de todos os profissionais de saúde e de diferentes áreas, num exercício de multidisciplinaridade em prol da saúde das populações. É imenso desafio que importa assumir e para o qual a competência e responsabilidade profissional e o dever cívico são fundamentais. 

Os farmacêuticos, pela sua proximidade com as pessoas e com a sua prática profissional, têm sido chamados contribuir para este exercício de cidadania e de saúde pública, colmatando as carências dos cuidados de saúde primários mediante acções de prevenção, esclarecimento e suporte terapêutico da população, em especial dos estratos mais fragilizados. 

Este envolvimento profissional do farmacêutico na farmácia comunitária, nas ERPI (Estrutura Residencial para Idosos) e noutras situações teve reflexos significativos na maior disponibilidade e “libertação” dos recursos hospitalares para situações realmente urgentes, ao permitir que muito menos doentes entrassem em descompensação e fosse muito menor o número de deslocações desnecessárias ou menos urgentes aos serviços médicos hospitalares. 

Para o controlo desta situação pandémica, a administração de vacinas anti-covid-19 é o meio mais eficaz, exigindo, contudo, uma ampla cobertura da população e a necessária celeridade do processo. Para que estes requisitos se cumpram, torna-se imperativa, para além de quantidades adequadas de vacinas, a existência de centros de vacinação com recursos humanos competentes e espaços físicos apropriados e em tempo útil.

Se uma parte destas exigências está dependente da capacidade da indústria, a outra parte depende apenas de nós mesmos e da adesão das populações. Os farmacêuticos, dadas as suas competências legais e experiência na vacinação e o elevado índice de confiança granjeado junto das populações, factor essencial na adesão, não podem ser alienados deste processo

A profissão farmacêutica é constituída maioritariamente por jovens empenhados e com excelente qualificação preparação técnico-científica, capazes de nos mais variados momentos e situações, responder com a sua presença e a sua disponibilidade. Na sua prática profissional diária, nas distintas áreas da saúde, as suas competências são utilizadas de forma exemplar e responsável e postas ao serviço das pessoas que a eles recorrem. 

Ser jovem não é um bem em si mesmo. Em saúde não há jovens ou menos jovens: há pessoas competentes ou não competentes. Mas reconheça-se que a motivação, o entusiasmo e o altruísmo são forças motrizes da juventude, que realçam em muito a elevada qualidade e preparação científica dos farmacêuticos, e os tornam activos valiosos como profissionais de saúde. São o garante da qualidade da prestação de cuidados de saúde; a garantia de um futuro já presente da profissão farmacêutica, porque idóneos e confiáveis. As populações sabem-no. Portugal reconhece. 

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