Estudo europeu detecta substâncias perigosas em produtos de desporto

Nenhum dos produtos comprados em Portugal continha substâncias perigosas, mas isso não quer dizer que elas não possam existir, diz a associação ambientalista Zero, que participa no projecto Life AskReach, responsável pelo estudo.

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É preciso continuar a praticar desporto, mas com compras conscientes, diz a Zero Francisco Romao Pereira

Bolas de pilates, cordas de ginástica, luvas de boxe e toucas de piscina. Estes são alguns dos produtos em que foram encontradas substâncias preocupantes para a saúde, no âmbito de um estudo do projecto Life AskReach, que envolve 13 países europeus e em que Portugal participou através da associação Zero. Dos 82 produtos comprados e testados num laboratório independente, foram encontradas substâncias “que suscitam elevada preocupação” em 20 deles, o equivalente a 25% do total. Nenhum dos produtos comprados em Portugal apresentou sinais destas substâncias, mas isso não quer dizer que o país esteja isento desse problema.

O contributo de Portugal para este estudo, cujos resultados são agora conhecidos, incluiu umas sapatilhas de ginástica, elásticos desportivos, uma garrafa de água de plástico, um tubo de snorkle e uma bolsa de água com um tubo, própria para ciclistas. “Nenhum destes produtos tinha substâncias perigosas. Mas isso não quer dizer que não haja produtos em Portugal como os que foram encontrados em países como a Suécia, o Luxemburgo, a República Checa ou a França. Não comprei nenhuma bola de pilates, por exemplo”, diz Susana Fonseca, da Zero.

A referência é clara: numa bola de pilates comprada no Luxemburgo foi detectada uma concentração de 41% de plastificantes cuja utilização na União Europeia está restringida, por serem tóxicos para a reprodução e interferirem com o sistema hormonal. Uma corda de exercício adquirida em França tinha uma concentração de 2,6% de parafinas cloradas de cadeia curta (SCCP) que, diz a Zero em comunicado, “são muito persistentes no ambiente, são reguladas pela Convenção de Estocolmo e não podem estar presentes em produtos em concentrações acima de 0,15%”.

Susana Fonseca ressalva que a maior parte das substâncias detectadas não são proibidas, mas por causa do risco que acarretam (sobretudo se a utilização for prolongada no tempo), a sua presença tem de ser obrigatoriamente comunicada ao consumidor, se existir num produto numa concentração acima de 0,1%. Este valor foi ultrapassado em “quase metade” dos 25 produtos em que foram detectadas algumas dessas substâncias. 

Empresas desconhecem substâncias

Surpreendente também é que todas as empresas em que foram comprados os artigos que suscitaram maior preocupação (pelas concentrações acima de 0,1%), e que foram contactadas pela Life AskReach para prestarem informações sobre a composição dos produtos, afirmaram “que os artigos não continham” as substâncias detectadas. Susana Fonseca diz que este é, provavelmente, mais um sinal da falta de informação fiável a circular em toda a cadeia de consumo. Traduzindo: uma empresa até pode exigir ao produtor que os bens que este lhe fornece não contenham determinadas substâncias, mas, se este não prestar informação fidedigna e não houver fiscalização, a verdadeira matéria de que são feitos os artigos que chega à casa de cada um pode não ser aquela que se pensa. 

As empresas – produtores e retalhistas – são obrigadas a fornecer informações sobre a composição dos produtos que vendem, desde que solicitada, e o projecto europeu avançou com a aplicação Scan4Chem, que permite que os utilizadores questionem directamente os fornecedores sobre essa matéria, ficando, depois, os dados obtidos ali disponíveis. 

As empresas também podem utilizar a aplicação para fornecerem de forma voluntária esses dados, mas Susana Fonseca admite que esta componente do projecto não tem tido adesão. A expectativa é que uma nova base de dados europeia, crida no âmbito da legislação de resíduos e que entrou em funcionamento este mês, possa ajudar a tornar esta informação mais acessível e abrangente. “Todos os produtores são obrigados a colocar informação nesta base de dados, com o objectivo de facilitar a reciclagem, porque saber se um produto tem ou não uma substância perigosa permite avaliar o tratamento que terá. Agora, tem de haver fiscalização, é preciso fazer análises aos produtos”, diz a responsável da Zero dedicada à área das sociedades sustentáveis e novas formas de economia.

O melhor, defende a Zero, é não facilitar. Praticar desporto, sim, mas com compras mais responsáveis, na altura de se equipar para isso. As sugestões da associação ambientalista passam por evitar artigos de plástico, “especialmente PVC flexível ou artigos escuros de baixo custo, feitos de plástico rígido”, por devolver ao retalhista artigos de plástico com cheiros fortes e por procurar “rótulos ecológicos” nos produtos que se compram, como o Rótulo Ecológico Europeu ou o Blue Angel. E, em caso de dúvida, as perguntas podem sempre ser feitas ao fornecedor através da Scan4Chem.

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