Uganda: Presidente há 35 anos desafiado por um rapper que não desiste

Yoweri Museveni é um dos líderes africanos que está há mais tempo no poder. Nestas eleições, é desafiado por Bobi Wine, que enfrentou a repressão do regime durante a campanha eleitoral.

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Yoweri Museveni está no poder desde Janeiro de 1986 Reuters/BAZ RATNER
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Cartazes de apoio a Bobi Wine, principal candidato da oposição EPA/STR

Há praticamente 35 anos no poder e com um sexto mandato à vista, o Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, procura a sua reeleição nas eleições presidenciais desta quinta-feira, após uma campanha eleitoral marcada pela perseguição de opositores políticos e pela violência policial que causou dezenas de mortos.

Ao contrário de eleições presidenciais anteriores, em que Museveni, de 76 anos, conseguiu conter as ambições de candidatos da oposição, desta vez, o desfecho das eleições é mais imprevisível, com o Presidente a enfrentar dez adversários, entre eles o músico Robert Kyagulanyi Sssentamu, mais conhecido pelo nome artístico de Bobi Wine.

O rapper de 38 anos tem sido a principal voz de contestação ao regime de Museveni, que acusa de ser um “ditador” que já alterou a Constituição duas vezes para se perpetuar no poder – a última delas em 2017, quando suprimiu o limite de 75 anos para o cargo de Presidente, para poder candidatar-se novamente este ano.

Em Novembro do ano passado, Bobi Wine, foi detido enquanto fazia campanha eleitoral, com as autoridades a invocarem as restrições relacionadas com a pandemia de covid-19 para proibir grandes ajuntamentos. Na sequência da segunda das três detenções de que Bob Wine foi alvo desde que anunciou a sua candidatura, geraram-se grandes protestos, com a polícia a carregar sobre os manifestantes, numa repressão que causou a morte de 54 pessoas.

Bobi Wine, que diz que já foi alvo de várias tentativas de assassínio ordenadas pelo Governo, apresentou na semana passada uma queixa no Tribunal Penal Internacional contra Yoweri Museveni e nove oficiais das forças de segurança, acusando-os de incitarem a violência contra manifestantes pacíficos. 

O Governo, por seu lado, e particularmente o Presidente Museveni, no poder desde 1986, acusam Bobi Wine de ser um agente ao serviço de forças estrangeiras que quer pôr em causa a “estabilidade e independência” do Uganda.

O músico, que se tornou deputado em 2017, tem conseguido mobilizar sobretudo os jovens – a média de idades no Uganda é de 15,7 anos e mais de 80% da população tem menos de 30 anos -, mais exigentes quanto a reformas e perspectivas de futuro, sobretudo quanto ao emprego, enquanto Museveni tem o seu eleitorado principal entre a população mais velha e rural, que o vê como um factor de estabilidade no país.

Durante a campanha, os comícios de Bobi Wine juntaram uma grande multidão de apoiantes um pouco por todo o país, pretexto utilizado pelas autoridades para deter manifestantes e membros da oposição, o que levou organizações como a Human Rights Watch a afirmarem que o Governo está a utilizar a covid-19 como uma “desculpa para a repressão violenta da oposição”.

Na terça-feira, quando faltavam apenas dois dias para as eleições, uma caravana de veículos militares blindados desfilou na capital do país, Kampala, num sinal de força por parte do Presidente Museveni que, num discurso ao país, prometeu “defender” os ugandeses. O chefe de Estado ordenou também a suspensão do funcionamento de todas as redes sociais e das aplicações de troca de mensagem, invocando questões de segurança.

Yoweri Museveni é visto pelo Ocidente como um aliado importante na região, principalmente na luta contra o jihadismo na Somália. No entanto, a repressão de manifestantes, perseguição de opositores políticos e ataques à liberdade de imprensa aumentaram as preocupações dos Estados-membros da União Europeia e dos Estados Unidos quanto ao processo eleitoral. 

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, apelou a eleições “transparentes, inclusivas e credíveis (…) sem medo de intimidação ou violência”, enquanto os Estados Unidos decidiram cancelar o acompanhamento das eleições, alegando que as credenciais para os seus observadores foram rejeitadas pelas autoridades ugandesas, o que, dizem, põe em causa “transparência” do sufrágio.

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