Confinar, sim ou não? Como os outros países combatem a covid-19

Portugal entrará em novo confinamento nesta quinta-feira. Poucas medidas são ainda conhecidas e as restantes deverão ser anunciadas esta quarta-feira após reunião do Conselho de Ministros. Que medidas estão a ser aplicadas noutros países?

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Londres, Reino Unido Reuters/HENRY NICHOLLS

Agora que Portugal se prepara para enfrentar um novo confinamento – em vigor a partir das 0h de sexta-feira –, são já alguns países que se encontram isolados em casa ou com medidas apertadas. Uns deles fazem-no em resposta ao aumento de casos suscitado pelos ajuntamentos do Natal e Ano Novo; outros, como a Alemanha, dão continuidade ao confinamento que já estava em vigor em Dezembro.  

Portugal era um dos países em que um novo confinamento era tido como uma jogada que não deveria ser repetida, ainda que o primeiro-ministro tenha sempre referido que poderia recuar se a situação assim o exigisse. “Não podemos paralisar o país outra vez”, alertava António Costa em Outubro – mas admitia que não podia “excluir que a realidade o imponha”. “Disse que não teria o menor medo em termos de recuar e tomar as medidas necessárias se a dinâmica da pandemia assim o impusesse”, explicou, em Novembro.

Antes de terem sido anunciadas as medidas que entram em vigor na sexta-feira, o PÚBLICO analisou algumas das medidas que foram aplicadas noutros países para fazer frente à covid-19.

Países Baixos

O governo holandês anunciou na terça-feira que alargará as medidas de confinamento durante, pelo menos, mais três semanas para tentar evitar a propagação do vírus e das novas variantes, que o primeiro-ministro considera “muito, muito preocupantes”. “Esta decisão não é uma surpresa, mas é uma decepção tremenda”, afirmou Mark Rutte, quando anunciou que as medidas ficarão em vigor até 9 de Fevereiro, no mínimo.

O confinamento inclui o encerramento de escolas e de comércio, que já tinham fechado em meados de Dezembro; os bares e restaurantes tinham sido encerrados dois meses antes. As medidas estão já a surtir algum efeito: as novas infecções desceram 12% na última semana, segundo as autoridades de saúde, e é a segunda semana consecutiva em que o número de novos casos baixa na Holanda. Ainda que tenha havido uma descida, o número de novos casos permanece demasiado elevado para aliviar quaisquer restrições, asseverou Rutte.

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Groningen, Holanda Kees van de Veen/EPA

Segundo o ministro da Saúde holandês, Hugo de Jonge, a variante britânica do coronavírus SARS-CoV-2 corresponde a 2 a 5% das novas infecções, mas espera-se que este número venha a aumentar e que esta variante se torne dominante no país.

Ucrânia

A Ucrânia entrou no dia 8 num confinamento mais restrito, que levou ao encerramento de escolas, restaurantes e ginásios, assim como outros locais de entretenimento. Foram ainda proibidos ajuntamentos.

Com uma população de 41 milhões de habitantes, a Ucrânia ultrapassou há poucos dias as 20 mil mortes por covid-19 desde o início da pandemia e tem mais de um milhão de casos confirmados. O número de infecções tem vindo a aumentar desde Setembro. O confinamento que entrou em vigor em Janeiro (e permanecerá até dia 24, pelo menos) tinha sido já decidido em Dezembro, quando o país registava entre 12 a 14 mil novos casos por dia. Ainda que o número de novos casos tenha baixado em Janeiro, o governo ucraniano decidiu manter as medidas para evitar pressão nos hospitais.

Japão

O Japão declarou estado de emergência sanitária durante um mês na região de Tóquio (e a sete regiões vizinhas) para travar o aumento de novas infecções do coronavírus SARS-CoV-2 – é a primeira declaração do género no país desde Abril.

Os estabelecimentos comerciais considerados não-essenciais terão limites mais apertados dos seus horários de funcionamento e pede-se a todos os cidadãos que permaneçam em casa. As medidas foram anunciadas uma primeira vez pelo primeiro-ministro Yoshihide Suga, na altura em que se destinavam apenas a três regiões. Nesta quinta-feira, as restrições foram alargadas a sete regiões, incluindo Osaka e Quioto. Ao todo, as medidas afectam 55% os 126 milhões que habitam no Japão.

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Shinjuku, Japão KIMIMASA MAYAMA/EPA

O ministro da Economia, Yasutoshi Nishimura, afirmou que as medidas do estado de emergência incluem o encerramento de bares e restaurantes às 20h, recomendando-se aos cidadãos que não saiam de casa excepto em casos urgentes. Os ajuntamentos em eventos desportivos e outros espectáculos estão limitados a 5000 pessoas. Especialistas de saúde pública japoneses dizem que, ainda assim, estas medidas podem não ser suficientes, já que muitas das restrições implicam que sejam cumpridas de forma voluntária, com poucas repercussões legais para quem não as siga.

Apesar do estado de emergência, os organizadores dos Jogos Olímpicos de Tóquio garantem que estes se realizarão no Verão de 2021 (entre 23 de Julho e 8 de Agosto), argumentando que estas medidas mais apertadas permitem até controlar a situação epidemiológica e tornar os jogos mais seguros. Numa sondagem feita no país pela NHK, só 16% dos inquiridos defende que os jogos se devem realizar; há 77% que preferiam que os jogos deveriam ser cancelados ou adiados. Os Jogos Olímpicos de Tóquio estavam agendados inicialmente para 2020.

Alemanha

A Alemanha iniciou uma fase mais estrita do segundo confinamento, que se vai prolongar até ao dia 31 de Janeiro com restrições da actividade da administração pública e actividade económica. As actividades culturais e de divertimento, restauração e negócios “não essenciais”, assim como as escolas, permanecem encerrados. O governo já alertou que não será possível aliviar as medidas até ao início de Fevereiro.  

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O teletrabalho é uma das recomendações na Alemanha, mas 60% dos cidadãos não podem trabalhar a partir de casa EPA/SASCHA STEINBACH

Os ajuntamentos privados limitam-se à visita de apenas uma pessoa em cada casa, além dos habitantes da residência. No caso de Berlim, uma das regiões mais afectadas, os habitantes não se podem afastar mais do que 15 quilómetros do local onde vivem.

Este confinamento não terá um impacto muito severo na economia alemã, assegurou o responsável pela pasta das Finanças no governo alemão, Olaf Scholz. E disse ainda que continuará a prestar apoio a todos os negócios afectados pelo confinamento. “Continuaremos a fazê-lo enquanto for necessário”, afirmou. Desde o início da pandemia, a Alemanha tem quase 2 milhões de casos confirmados de infecção e 42 mil pessoas que morreram com covid-19.

Reino Unido

O Reino Unido anunciou na semana passada um terceiro confinamento nacional de seis semanas no país, para travar não só o número de novas infecções, mas também aquelas causadas pela nova variante que foi detectada pela primeira vez em solo britânico e se espalhou por vários países. A Inglaterra entrou em confinamento durante pelo menos seis semanas, o que implica o encerramento de escolas, ginásios e da maioria de comércio não essencial, enquanto bares e restaurantes só podem vender comida para fora. 

O Governo reiterou esta quarta-feira que está determinado em fazer respeitarem as regras do confinamento decretado na semana passada, tendo a ministra do Interior, Priti Patel, revelado que estão a ser aplicadas multas e que a polícia vai começar a ser mais severa com os infractores. 

“A nossa capacidade de aguentar as próximas semanas e meses depende de cada um de nós contribuir para o que é verdadeiramente um esforço nacional. Mas uma minoria está a colocar a saúde do país em risco por não respeitar as regras”, afirmou, numa conferência de imprensa.

O Governo tem estado sob pressão para apertar as regras e clarificar algumas situações, nomeadamente até que distância as pessoas podem afastar-se de casa, de onde podem sair apenas para fazer compras essenciais, fazer exercício, trabalhar ou ter assistência médica. 

Como se pode ver no gráfico do PÚBLICO que analisa a evolução da covid-19 após o Natal e Ano Novo, a curva de novos infecções por um milhão de habitantes tem vindo a diminuir no Reino Unido. Apesar da descida, o número de novos casos por dia é muito elevado. O Reino Unido é um dos mais afectados no mundo e tem 3,1 milhões de pessoas que ficaram infectadas desde o início da pandemia, com mais de 83 mil que morreram com a doença causada pelo coronavírus SARS-CoV-2.

França

A França é um dos países que está a ponderar se deve decretar um terceiro confinamento nacional ou se deve alargar o recolher obrigatório que está em vigor em algumas áreas do país. Uma das medidas em cima da mesa é um recolher obrigatório em todo o país, a partir das 18h. Tal como em Portugal, as escolas deverão permanecer abertas.

Independentemente do modelo adoptado, o epidemiologista Jean-François Delfraissy, presidente do conselho científico que faz recomendações ao Governo sobre a pandemia, afirmou na terça-feira que deverão ser aplicadas medidas mais severas no país para travar as variantes do coronavírus que foram identificadas no Reino Unido e na África do Sul. “Provavelmente haverá – e estas são decisões políticas – um certo número de medidas mais apertadas que devem ser tomadas”, disse ao canal TF1.

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Marselha, França Eric Gaillard/REUTERS

França registou quase 20 mil novos casos na terça-feira e o país tem mais de 2 milhões de pessoas que ficaram infectadas desde o início da pandemia. Dessas, 68,8 mil morreram.

Espanha

O número de novos casos em Espanha tem vindo a aumentar em Janeiro após o alívio de restrições permitido na época festiva e as comunidades autónomas estão a reagir a esta subida: foram anunciadas medidas mais restritivas na Galiza, nas Baleares, La Rioja e Navarra. Quase todas as outras regiões têm já medidas em vigor, como a proibição de circulação entre concelhos, encerramento de ginásios e outros estabelecimentos comerciais e dever de recolhimento domiciliário. Na Catalunha, as medidas estão em vigor até 17 de Janeiro e a ministra da Saúde da Generalitat, Alba Vergés, assevera que é preciso “parar a transmissão” e que a principal forma de o fazer é ao “reduzir toda a actividade social”. Muitas regiões mantêm as escolas sem aulas.

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Barcelona, Espanha Enric Fontcuberta/EPA

“Esperam-nos semanas duras”, afirmou nesta quarta-feira o presidente da Xunta da Galiza, Alberto Núñez Feijóo. A região tem recolher obrigatório a partir das 22h e só são permitidos ajuntamentos até quatro pessoas. Espanha decidiu prolongar até 2 de Fevereiro as limitações à chegada de aviões e barcos vindos do Reino Unido, devido à situação epidemiológica no país e à variante britânica da covid-19 que é mais infecciosa (mas não necessariamente mais perigosa).

China

Com novos surtos nas regiões perto de Pequim, as autoridades decidiram aplicar um confinamento local a quatro cidades, abrangendo mais de 22 milhões de pessoas. Além do confinamento, foram ainda feitos testes em massa em duas destas cidades para detectar a presença do material genético do coronavírus SARS-CoV-2. Quase todos os 17 milhões de residentes dessas cidades tiveram de fazer o teste, escreve o New York Times. As deslocações foram proibidas, assim como casamentos e funerais.

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Yanjiao, China STRINGER/EPA

A Comissão de Saúde da China anunciou esta quarta-feira que identificou 115 casos de covid-19 nas últimas 24 horas, incluindo 107 por contágio local. A maior parte dos casos locais registou-se na província de Hebei (90), que circunda Pequim, onde foi detectado um novo surto, que levou as autoridades chinesas a impôr o dever de recolhimento domiciliário na região. Segundo os dados divulgados pelo regime chinês, o país conta um total de 4634 mortes e 87.706 infectados desde o início da pandemia. com Lusa

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