Transferências de jogadores investigadas pelo Fisco rondam os 500 milhões de euros

Em Março, autoridades fizeram buscas aos principais clubes e dirigentes do futebol nacional. Negócios do agente Jorge Mendes também estão sob a mira do Fisco.

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Negócios de futebol estão a ser investigados pelas autoridades Nuno Ferreira Santos/Arquivo

A Autoridade Tributária (AT) tem em mãos investigações a transferências de futebol que totalizam 500 milhões de euros. A informação é avançada esta segunda-feira pelo Jornal de Notícias, que cita informação recolhida junto da equipa Serviços de Investigação e Fraude e de Acções Especiais da AT.

Grande parte desta fatia advém da mais recente investigação aos negócios do futebol, a “Operação Fora de Jogo, estando em causa transferências no valor de 300 milhões de euros e suspeitas de crimes de fraude fiscal e branqueamento de capitais. Antes desta operação suspeitava-se que o Estado tivesse sido lesado em 40 milhões de euros, valor que também cresceu com a monitorização destas novas transferências. As autoridades portuguesas suspeitam que os negócios em causa “terão visado ocultar ou obstaculizar a identificação dos reais beneficiários finais dos rendimentos subtraindo-os, por estas vias, ao cumprimento das obrigações declarativas e subsequente tributação devida em Portugal”, detalhou a Autoridade Tributária no início da investigação. 

Em Março, as autoridades cumpriram 76 mandados de busca, que envolveram os principais clubes portugueses – Benfica, FC Porto, Sporting, Sp. Braga e V. Guimarães — e vários dirigentes — Pinto da Costa, Luís Filipe Vieira e Frederico Varandas. Jorge Mendes e a Gestifute também foram alvo de buscas. Escritórios de advogados e residências de pessoas envolvidas nestes negócios também receberam estas acções de fiscalização das autoridades. 

Estão a ser analisados meticulosamente negócios realizados por 14 agentes: nesta lista, destaca-se o nome do maior empresário da história do futebol, o português Jorge Mendes. O responsável pela empresa Gestifute é o homem que mais dinheiro movimenta na indústria, possuindo em carteira vários dos melhores — e mais bem pagos — jogadores do futebol. Mas este cerco fiscal que agora acontece em Portugal já tinha acontecido em Espanha, em sequência das revelações do Football Leaks, cujos documentos também foram o rastilho destas investigações. 

Nesta plataforma gerida por Rui Pinto, o hacker publicou vários contratos de jogadores, detalhando os pormenores das maiores transferências a nível mundial. Em alguns países, foram julgadas as irregularidades desvendadas na plataforma. Em Espanha, Cristiano Ronaldo e vários outros jogadores ligados à Gestifute e a Jorge Mendes foram acusados pelo Fisco espanhol. Os documentos revelados por Rui Pinto mostravam que o avançado da Juventus teria alegadamente colocado 150 milhões de euros num paraíso fiscal, com a intenção de fugir ao pagamento de direitos de imagem. O internacional português foi condenado a pagar 16,7 milhões de euros às autoridades espanholas.

Esta informação está agora nas mãos das autoridades, que tiveram acesso aos discos rígidos que Rui Pinto tinha encriptado. Em troca, o denunciante saiu do regime de prisão preventiva e, após um curto período em prisão domiciliária, conseguiu a libertação total. Está actualmente a ser protegido pelas autoridades numa localização secreta. As poucas deslocações conhecidas são até ao Campus da Justiça, onde se encontra em julgamento. O Ministério Público acusa-o de 90 crimes: a grande maioria diz respeito a ilegalidades informáticas, mas o mais gravoso é o de extorsão na forma tentada contra o fundo de investimento Doyen. 

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