Covid-19 em Portugal: número de casos diários está a duplicar a cada nove dias

Portugal pode entrar em confinamento, nesta quinta-feira, com uma média, a sete dias, de cerca de 10.467 casos diários de covid-19, podendo atingir cerca de 12 mil novos casos no sábado.

Foto
Nelson Garrido

O número de casos de infecção pelo novo coronavírus notificados diariamente em Portugal tem vindo a duplicar a cada nove dias, sendo este o indicador neste momento que apresenta “uma tendência mais forte de crescimento”, diz ao PÚBLICO Milton Severo, epidemiologista do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP).

Segundo as previsões do ISPUP, que o PÚBLICO apresenta numa página especial actualizada diariamente, Portugal pode entrar em confinamento, nesta quinta-feira, com uma média, a sete dias, de cerca de 10.467 casos diários de covid-19, podendo atingir cerca de 12 mil novos casos no sábado. As previsões não incluem ainda os números reportados esta segunda-feira pela Direcção-Geral da Saúde.

Desde o dia 27 de Dezembro que os casos de infecção pelo novo coronavírus estão a aumentar em Portugal, pelo que, se esta tendência se mantiver, é esperado um crescimento dos novos casos no final desta semana. Contudo, destaca o epidemiologista, se este aumento estiver relacionado com as celebrações de Natal e passagem de ano, até ao final desta semana os casos que tiveram origem durante o período festivo já terão sido detectados, pelo que os números poderão já começar a descer e poderemos “atingir o índice de transmissibilidade que tínhamos antes”, o que significaria que não atingiríamos os 12 mil novos casos no sábado. Por outro lado, se este crescimento de casos estiver relacionado com o Inverno, tal como acontece com a “gripe sazonal que normalmente aumenta durante esta fase”, então “provavelmente esse número irá ser atingido”, explica Milton Severo.

De acordo com os cálculos do ISPUP, entre os dias 27 de Dezembro e 9 de Janeiro, o índice de transmissibilidade (Rt) da covid-19 em Portugal fixou-se em 1,42. O Rt é de um 1 quando uma pessoa contagia, em média, outra pessoa.

Isto não é um planalto

O epidemiologista destaca que, embora os números tenham rondado os dez mil casos diários nos últimos dias, a curva epidemiológica não se encontra numa fase de planalto, até porque os casos estão a aumentar. “O que acontece é que o facto de o número de testes ser menor ao fim-de-semana faz com que pareça que há um planalto à quarta, quinta e sexta-feira, com os números depois a descerem [durante o fim-de-semana e início da semana seguinte], tal como desceu para os 7502 este domingo”. Porém, realça, a média de casos de infecção a sete dias “está a subir” e “ainda não mostra tendência de se estabilizar”.

Quanto aos óbitos por covid-19, estão a duplicar a cada 16 dias, verificando-se também uma tendência de aumento, com as previsões a apontarem para uma média, a sete dias, de mais de 100 mortes diárias causadas pela doença a partir de terça-feira, podendo esta média atingir as 124 vítimas mortais por covid-19 no próximo sábado. A seguir ao número de casos, este é o indicador que está a subir mais. “Tivemos uma média de óbitos por covid-19 nos últimos sete dias de 94”, diz Milton Severo, destacando que “às vezes este indicador reage primeiro [ao aumento de casos] do que os internamentos”.

Já os internamentos de doentes com covid-19 estão a duplicar a cada 30 dias, com o número de pacientes em unidades de cuidados intensivos (UCI) a manter-se, para já, “estável”. Contrariamente ao número de casos, os internamentos em UCI são, normalmente, o último indicador a aumentar. “Nesta fase, este indicador [UCI] não está a aumentar, mas provavelmente nesta semana vai começar a mostrar uma tendência de subida porque os internamentos estão a subir”, refere Milton Severo. Portugal poderá ultrapassar os quatro mil internamentos por covid-19 a partir de sexta-feira, com os casos em UCI a rondarem os 497, segundo a média a sete dias.

Quando é que descem os números?

O epidemiologista espera que, caso o aumento do número de infectados pelo novo coronavírus seja uma consequência do período festivo, “no final desta semana os números já comecem a diminuir, independentemente de estarmos confinados ou não”. Caso contrário, só passadas cerca de duas semanas após o início do confinamento poderemos observar uma diminuição, tal como aconteceu na primeira vaga.

Segundo Milton Severo, na primeira onda, Portugal entrou em confinamento a 19 de Março e os números da covid-19 desceram mais acentuadamente a partir do dia 13 de Abril, cerca de três semanas depois. “Numa primeira fase desaceleraram, ou seja, começaram a descer a uma velocidade menor, mas para diminuírem significativamente demorou três semanas. Por isso, no novo confinamento, à partida, demorará este período até começarmos a verificar uma descida forte nos dados”, acrescenta.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários