Grupo de alto nível vai aconselhar OMS sobre pandemias e biodiversidade

A covid-19, tal como muitas outras doenças infecciosas que afectam os seres humanos, teve origem em animais. Cimeira organizada por Macron promove visão integrada da natureza e da saúde.

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Emmanuel Macron, na Cimeira Um Planeta, com o director da OMS, Tedros Ghebreyesus LUSA/LUDOVIC MARIN / POOL

Na Cimeira Um Planeta, promovida nesta segunda-feira online pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, foi apresentado o Conselho de Alto Nível para uma Saúde Única, um grupo consultivo para prevenir as pandemias causadas por zoonoses, que deverá reunir-se pela primeira vez em Maio, na Assembleia-geral da Organização Mundial da Saúde.

O objectivo é proteger a biodiversidade e ao mesmo tempo tentar evitar pandemias como a da covid-19, que é uma zoonose – tem origem em animais, embora não se conheça ainda a sua genealogia, penas se tem uma forte suspeita de que o hospedeiro natural do novo coronavírus será um morcego. Afinal, cerca de 60% das doenças infecciosas humanas são zoonoses, ou seja, têm original animal, como a covid-19.

Ao proteger a biodiversidade protege-se também a saúde humana e a do resto do planeta- Esse foi o princípio orientador da Cimeira Um Planeta, no qual foi anunciado ainda o programa PREZODE – Preventing Zoonotic Diseases, no qual participam vários laboratórios e institutos franceses, alemães e holandeses, sublinhou Qu Dongyu, director-geral da FAO, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, parceira destes projectos para considerar a saúde do planeta numa perspectiva global. Mas no total, participam mais de 50 países em cinco continentes e cerca de mil cientistas, e várias outras organizações internacionais, além da OMS e da FAO, poderão envolver-se neste projecto, como o Banco Mundial e a Comissão Europeia

. Charles Michel, o presidente do Conselho Europeu, ao participar na cimeira organizada por Emmanuel Macron, mencionou a sua sugestão de criar “um tratado internacional para prevenir e lidar com pandemias, por exemplo para gerir a troca de informações durante uma crise”. “Falei com muito com Tedros [Adhanom Ghebreyesus, director-geral da OMS] sobre isto”, disse Michel, passando o microfone ao orador seguinte.

“A covid-19 não será a última pandemia de uma zoonose. Mas com uma política mais forte e uma parceria, podemos evitar, preparar-nos e mitigar o impacto de futuros surtos e tornar o nosso mundo mais saudável, seguro, justo e sustentável”, respondeu-lhe Tedros Ghebreyesus, agradecendo a sugestão e as conversas sobre o conceito de “one health”, criado pela OMS em 2004.

As zoonoses que provocam crises inesperadas na população humana – como a do ébola, por exemplo, causada por um vírus que é transmitido por morcegos – surgem muitas vezes nas populações humanas quando há um desequilíbrio como o avanço da desflorestação, pondo em contacto animais com pessoas que nunca antes se encontravam. Por isso a Cimeira Um Planeta teve ainda como objectivo lançar uma aliança em que vários países se comprometeram a colocar sob protecção 30% do seu território – seja no mar, seja em terra.

Vários líderes responderam à chamada: a chanceler alemã Angela Merkel, o primeiro-ministro canadiano Justin Trudeau, a primeira-ministra norueguesa Erna Solberg, o primeiro-ministro dos Países Baixos Mark Rutte, o de Itália Giuseppe Conte, ou o Presidente da Costa Rica, Carlos Alvarado, para mencionar apenas alguns dos 50 países que se comprometeram com este objectivo.

Foi também promovida uma ronda de apelo à concessão de fundos e de apoios para uma série de projectos de conservação do ambiente e da biodiversidade. Um deles é a Coligação para o Mar Mediterrânico – a tentativa de acabar com a pesca em excesso, a poluição marinha e dos microplásticos, dos transportes marinhos.

Outro foi a recolha de fundos para o projecto da Grande Muralha Verde do Sahel – a ideia de erguer uma muralha de árvores, ao longo de 8000 km, ao longo de todo o continente africano, na região do Sahel, para restaurar o solo para a agricultura em regiões desérticas, onde as temperaturas estão a subir 1,5 vezes mais rápido do que a média global do planeta. Nesta sessão, liderada pelo Presidente francês, foram prometidos mais de 14 mil milhões de euros.

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