Duas manifestações contra Ventura, que quer vencer a esquerda toda

Comunidade cigana e activistas antifascistas gritaram contra candidato do Chega em Lisboa e em Serpa – este mandou-os “trabalhar”.

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Marine Le Pen veio a Lisboa apoiar a André Ventura,Marine Le Pen veio a Lisboa apoiar a André Ventura Nuno Ferreira Santos,Nuno Ferreira Santos
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Manisfestaçãp em Lisboa contra a presença de Marine Le Pen em Portugal e contra o Chega LUSA/NUNO VEIGA

Allons enfants de la patrie/ le jour de gloire est arrivé!” Foi ao som do hino francês, já depois do português e de meia hora de fado, que Marine Le Pen terminou a estada de dois dias em Lisboa para apoiar o arranque da campanha oficial de André Ventura. A líder da extrema-direita francesa, que se fez acompanhar de três eurodeputados do seu partido, Rassemblement National, desfez-se em constantes elogios rasgados ao candidato, de quem disse ser um “homem de Estado”, com “paixão pela pátria” e um “talento inigualável” para mobilizar e “secar as lágrimas do povo”, “um grito que vem do coração, um sinal do céu”.

Esta visita foi um “casamento” por conveniência: ao Chega importa a dimensão internacional que ganha e a Ventura o peso de um nome estrangeiro na campanha (algo que não é normal em Portugal); a Le Pen interessa uma cara portuguesa para a aproximar da comunidade lusa em França de cerca de 1,5 milhões de eleitores tendo em conta as próximas eleições para o Eliseu, e a imagem de que ambos integram uma família política europeia (ID Party), à imagem dos grandes partidos. O fim da visita de Le Pen (com uma comitiva de 20 pessoas, metade jornalistas) não terá deixado, porém, a melhor das imagens: a líder francesa trocou uma visita marcada aos Jerónimos (onde até se impediu público de entrar) por uma manhã de compras em Cascais e impôs ter junto de si, no jantar de sábado, os jornalistas que trouxe.

Depois dos sorrisos e elogios, o arranque da campanha de Ventura fica marcado de forma inédita por dois protestos: uma manifestação da Rede Unitária Antifascista, de manhã, no Chiado, que juntou cerca de duas centenas de participantes, e outra em Serpa, onde quatro dezenas de pessoas da comunidade cigana se juntaram à porta do auditório do comício.

Os manifestantes erguiam cartazes e faixas com palavras de ordem como “Serpa sem racismo” ou “Não queremos RSI. Queremos trabalho” e “Fascismo nunca mais”. A ambos, André Ventura respondeu: “Vão trabalhar!” – aos primeiros nas redes sociais, aos segundos quando chegou a Serpa. Mas quando discursava no anfiteatro, as cortinas do palco abriram-se e atrás de si via-se um esqueleto, o que levou a organização a dizer que fora um boicote ao candidato (a autarquia é comunista). Ventura insistiu na ideia da subsidiodependência de algumas minorias – por isso escolheu Beja para arrancar a campanha - e até que os manifestantes tinham vindo de Mercedes e BMW ou trazidos pelo PCP.

O candidato acredita que o seu dia de glória, de que fala a Marselhesa – originalmente um canto de guerra no século XVIII – será a 24 de Janeiro. No sábado à noite, depois de Le Pen profetizar “a vitória espera-nos”, Ventura ridicularizou toda a concorrência e colocou mais um objectivo: ter mais votos que toda a esquerda junta – Ana Gomes, João Ferreira e Marisa Matias – e reduzi-la à “insignificância”. E deixou um aviso: “A 24 de Janeiro, vamos provocar o maior terramoto político que alguma vez houve em Portugal e a maior ruptura de sempre no sistema. António Costa reza e reza muito, muito, para que eu não vença as eleições porque se acontecer tens o caminho da rua apontado.”

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