Ideia de pôr as juntas a transportar os idosos para votar é “surreal”, diz líder da Anafre

Surpreendido com a medida da CNE, Jorge Veloso reage com indignação e adverte que as juntas “não têm nem capacidade nem meios humanos”.

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Anafre diz que não compete às juntas de freguesia transportar os idosos dos lares para votar Paulo Pimenta

O presidente da Associação Nacional de Freguesias (Anafre), Jorge Veloso, avisa o Governo que as juntas de freguesia “não têm nem capacidade nem meios humanos” para transportar os idosos dos lares a votar no dia 24 de Janeiro para as eleições à Presidência da República.

A Comissão Nacional de Eleições está a pedir às juntas de freguesia para avisarem os lares de idosos que se mantém “o direito de sufrágio sem carecer de quarentena ou outras medidas, se a deslocação à “mesa de voto [de voto] for assegurada de modo a garantir que não são assumidos comportamentos de riscos”.

“Soube da notícia pelo PÚBLICO porque connosco ninguém falou. A Comissão Nacional de Eleições não nos disse nada e acho estranho que na reunião que tivemos na segunda-feira com o secretário de Estado adjunto do Ministério da Administração Interna o tema não tenha sido abordado”, insurge-se o presidente da Anafre, demarcando-se desta responsabilidade.

Apanhado de surpresa, Jorge Veloso explica que “só quem não conhece a realidade dos lares é que pode avançar com uma medida deste tipo. Isto é surreal”, critica. “Ninguém falou connosco sobre isso, não houve nenhuma iniciativa para esse facto e acho que é surreal falarmos numa situação destas”, garante o autarca, para quem a medida se torna incompreensível.

“Se os idosos estão há sete ou oito meses confinados — a maioria dos quais sem ver os seus familiares , como é que querem agora que vão votar a toda a força? Não me parece que seja aconselhável”, desabafa o também presidente da União de Freguesia de S. Martinho do Bispo e de Ribeira de Frades (Coimbra), deixando uma farpa: “Como é possível exigirem um conjunto de medidas para quem se desloca a um lar para visitar um familiar e depois facilitarem a situação para os idosos saírem para votar?”.

Em declarações ao PÚBLICO, o autarca afirma que uma coisa é criar condições nas assembleias para os idosos exercerem o seu direito de voto, outra coisa é ir buscá-los ao lar com transporte próprio. Nem pensar. Mais facilmente compreenderia que se criassem condições para que eles pudessem votar nos locais em que estão a residir”. E insiste na argumentação: “As juntas de freguesia não estão preparadas para transportar pessoas idosas. Não temos meios físicos nem humanos e não estamos capacitados para isso porque não temos formação para tal”, afirma, observando que a solução sugerida pela CNE “é inexequível”.

Alertando tratar-se de uma “acção de muita responsabilidade”, Jorge Veloso acrescenta que o transporte de idosos dos lares “não é uma competência das juntas de freguesia” e remete para os ministérios da Saúde e do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e também para as forças de segurança a responsabilidade do transporte dos idosos dos lares.

Jorge Veloso adianta que na reunião que teve com o secretário de Estado adjunto do MAI, Antero Luís, e na qual participou também o presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses, Manuel Machado, “a única coisa de que se falou foi sobre a recolha do voto de quem está em confinamento, mas essa recolha não será feita através das juntas de freguesia, mas sim da protecção civil”. Preocupado com a situação, o presidente da Associação Nacional de Freguesias revelou pretende enviar ainda sexta-feira um e-mail ao secretário de Estado adjunto do MAI questionando-o sobre a situação.

Questionado sobre a forma como vai ser possível concertar as votações dos mais velhos para garantir que votam em momentos de menos afluência, o presidente da Anafre disse que as juntas de freguesia sabem quais são os momentos de menor afluência às urnas e concordou que são os indicados para que os mais idosos possam votar.

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