Líder supremo do Irão proíbe importação de vacinas de EUA e Reino Unido

Vacinas da Pfizer/BioNTech, Moderna e Universidade de Oxford/Astrazeneca, as três aprovadas em países ocidentais, não chegarão aos iranianos, anunciou Ali Khamenei. Teerão está a desenvolver a sua própria vacina e espera adquirir doses da COVAX e talvez de países aliados como a China e a Rússia.

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Ali Khamenei discursou à nação e fez vários ataques aos Estados Unidos Reuters/OFFICIAL KHAMENEI WEBSITE

O ayatollah Ali Khamenei anunciou que as vacinas contra a covid-19 oriundas dos Estados Unidos e do Reino Unido estão proibidas no Irão, alegando que não confia naqueles países, numa altura em que Teerão está a desenvolver a sua própria vacina. 

“A importação de vacinas dos Estados Unidos e do Reino Unido está proibida. Eles não são dignos de confiança e não é improvável que queiram contaminar outras nações”, insinuou o líder supremo iraniano, num discurso ao país transmitido pelas televisões iranianas nesta sexta-feira.

Khamenei teceu duras criticas às autoridades norte-americanas, considerando um “fiasco” a gestão da pandemia nos Estados Unidos que, desde o início da pandemia registam mais de 21,5 milhões de infecções e mais de 1,9 milhões de mortos devido à covid-19.

“Se a sua fábrica da Pfizer consegue produzir vacinas, então por que nos querem dar vacinas? Eles deviam usá-las primeiro para si próprios, para que não tivessem tantas mortes”, atirou Khamenei.

Com esta decisão do seu líder supremo, os iranianos ficarão privados das três vacinas que começaram a ser administrados no Ocidente: a vacina resultante da parceria entre a alemã BioNTech e a norte-americana Pfizer; a da Moderna, desenvolvida nos Estados Unidos; e a da Universidade de Oxford com a Astrazeneca, oriunda do Reino Unido.

Após o discurso do ayatollah Khamenei, a organização não-governamental Crescente Vermelho viu-se obrigada a cancelar o seu plano de importação de 150 mil doses da vacina da Pfizer/BioNTech para o Irão, depois de as ter assegurado com a ajuda de filantropos, segundo a Al-Jazeera.

Vacina iraniana 

O Irão é o país do Médio Oriente mais afectado pela pandemia de covid-19, registando mais de 1,2 milhões de infecções de SARS-CoV-2 e mais de 56 mil mortos, de acordo com os números da Universidade Johns Hopkins.

Inviabilizando as vacinas aprovadas no Ocidente, a campanha de vacinação no Irão poderá levar mais tempo a arrancar, apesar de Khamenei ter afirmado que o Irão pode adquirir vacinas de outros países “de confiança”, apesar de não ter especificado quais – é provável que sejam a China e Rússia, aliados do país.

Além disso, Teerão está a desenvolver a sua própria vacina, intitulada COVIran Barekat, tendo os ensaios em humanos começado no passado dia 29 de Dezembro, um avanço que “orgulha e honra o país”, nas palavras de Khamenei.

As autoridades iranianas estão também a tentar assegurar a compra de quase 17 milhões de doses de vacinas da COVAX, uma iniciativa global, com apoio da Organização Mundial de Saúde (OMS), que tem como objectivo fazer com que as vacinas contra a covid-19 cheguem a países mais pobres. O Irão contribuiu com 244 milhões de dólares para a iniciativa, segundo o responsável do Banco Central iraniano Abdolnaser Hemmati.

Tensão 

O discurso de Ali Khamenei contra as vacinas ocidentais, particularmente contra as desenvolvidas nos Estados Unidos, surge numa altura em que a tensão entre os Washington e Teerão tem vindo a subir de tom, sobretudo após o assassínio do do general Qassem Soleimani no Iraque em Janeiro do ano passado.

Além disso, devido às sanções impostas pelos Estados Unidos depois de Donald Trump romper unilateralmente o acordo nuclear em 2018, o Irão anunciou, no início desta semana, o aumento da sua capacidade enriquecimento de urânio no que parece constituir um desafio à futura presidência de Joe Biden, que toma posse no próximo dia 20 de Janeiro.

O Presidente eleito dos Estados Unidos já mostrou disponibilidade para se sentar à mesa das negociações com as autoridades iranianas, e mesmo o Governo de Hassan Rohani, mais moderado, admite estar disposto a retomar o acordo nuclear, desde que sejam retiradas as sanções contra Teerão.

O ayatollah Khamenei, no entanto, no discurso desta sexta-feira, disse que o Irão “não tem qualquer pressa” para que os Estados Unidos regressem ao acordo nuclear de 2015, mas exigiu que as sanções fossem imediatamente levantadas.

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