Arte de Amália celebrada com espectáculos em Sintra e em Gondomar

No Olga Cadaval estreia-se esta sexta-feira Saudade! Viver Amália e Gondomar grava e transmite no domingo pelo Facebook do município Amália: Com Que Voz.

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Lina cantará em Gondomar com a Orquestra Portuguesa de Guitarras e Bandolins LUIS MILEU/ACBD STUDIO

As celebrações do centenário de Amália Rodrigues prosseguem, como era previsível, em 2021. Depois da homenagem prestada na gala musical que assinalou o arranque da presidência portuguesa da União Europeia, estreia-se esta sexta-feira em Sintra, no Centro Olga Cadaval (às 21h), o espectáculo Saudade! Viver Amália, da Companhia de Dança Contemporânea de Sintra, com as flamencas Ai!aDança e os fadistas Liliana Martins e Marcelo Rebelo da Costa. E no domingo será gravado em Gondomar e depois transmitido em streaming (às 16h) no Facebook desse município o concerto Amália: Com Que Voz…, onde a Orquestra Portuguesa de Guitarras e Bandolins, dirigida pelo maestro Jan Wierzba, tocará com a fadista Lina (do projecto Lina e Raul Refree). Um concerto de Reis, que abrirá com obras de Giacomo Sartori e Johann Strauss.

O espectáculo de Sintra tinha estreia marcada para 31 de Julho. Foi adiada, devido à pandemia, para 29 de Novembro de 2020 e depois para 8 de Janeiro deste ano, onde será apresentado para 416 pessoas, num auditório que comporta 950. A directora artística de Saudade! Viver Amália, Lucília Bahleixo, explica ao PÚBLICO as origens do projecto: “Vem da nossa paixão, quase genética, de dançar o fado. Há dez anos, estávamos a estrear Eu Sou do Fado no Luxemburgo, e quando o fado foi declarado património pela UNESCO fomos nós que abrimos a gala com dança. Isso já está no nosso ADN. No centenário de vida da nossa Amália, como trabalhamos com fadistas e com muitos músicos, começámos a planear este espectáculo.” Até que, declarada a pandemia, os espectáculos no Olga Cadaval foram interrompidos. Mas fizeram um espectáculo já pós-covid-19 no Coliseu dos Recreios, no dia 11 de Julho. “Encerrámos esse espectáculo, com as nossas escolas e convidados, já com um pequeno teaser, quatro marchas de Amália, esperando que passado quinze dias estaríamos a estrear esta temporada.”

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Lucília Bahleixo com o fadista Marcelo da Costa... DR
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... e outro momento dos ensaios DR

Há momentos em que os fadistas se fundem com o corpo de baile, cantando pelo meio de quem dança. E há outros mais marcados por encenações específicas. “Queremos fugir ao conceito de que o fadista canta e a bailarina dança. Um exemplo prático: a nossa Amália cantava tudo, nomeadamente cantou El porompompero. Para revisitar essa música, começámo-la com um sapateado num tablado dentro de água. Porque a água tem muito a ver com Portugal: enquanto descobridores andámos em cima de água, mas também durante a pandemia ou nos afogávamos ou aprendíamos a nadar.”

Um outro exemplo é o fado Rasga o passado: “É outro tema dela, muito forte. Temos um pano com 20 metros que vai desde a teia do palco até ao chão, e em vez de termos os bailarinos a dançar, estão enrolados nesse pano enquanto os músicos tocam em dois plateaux superiores. Fizemos uma recriação, mas sem criar mácula. No Barco negro, outro exemplo, antecipamos o tema com uma fusão de flamenco com dança oriental, porque a raiz é comum: é a cultura árabe. E sublinhamos essa tese com os movimentos. Revisitamos os fados da Amália com uma roupagem mais contemporânea, encenada.”

Lina: “Voltar à infância”

Nascida em Hamburgo, a 12 de Abril de 1984, de pais transmontanos imigrados na Alemanha, a fadista Lina gravou o seu primeiro disco ainda como Carolina, em 2014, e esse disco abria com Um fado nasce, de Amália. Depois de EnCantado (2017), o seu segundo disco, abreviou o nome para Lina num projecto arrojado com o catalão Raül Refree, gravando em 2019 dez fados de Amália ao lado de um tema de Amélia Muge (Destino) e outro de António Variações (Voz Amália de nós). Voltar ao repertório Amaliano neste início de 2021 é pois, para ela, natural, como a fadista diz ao PÚBLICO: “Este convite surgiu através do Pedro Gonçalves, que é um dos membros da orquestra, com quem eu já tive oportunidade de colaborar quando fiz um vídeo para o cancioneiro da União Europeia, que fomos apresentar a Edimburgo. E ele fez também a gravação do meu concerto com o Raül Refree nas Caldas da Rainha. O desejo de fazer este concerto, por parte da orquestra, já era antigo, mas só agora foi possível concretizá-lo.” Lina cantará temas como Medo, Gaivota, Barco negro, Foi Deus. “Também sugeriram que se cantasse o Vou dar de beber à dor ou Havemos de ir a Viana. E uma vez que é um concerto de Reis eu sugeri também outros temas, como Vi o menino Jesus, do Carlos Gonçalves, um tema que não é tão conhecido do público, mas é mais airoso e mais alegre.”

Ainda com uns 30 concertos marcados, para este ano, com Raül Refree, Lina vê nesta apresentação com a Orquestra Portuguesa de Guitarras e Bandolins outra oportunidade: “Para mim é voltar ao passado, à minha infância e adolescência, quando comecei pela primeira vez a cantar com orquestra, aos 10 anos, com a Orquestra do Porto, e com o maestro Manuel Ivo Cruz. Vai-me trazer memórias muito bonitas. Esta orquestra tem 38 músicos (com guitarras, bandolins, contrabaixo, acordeão, piano, clarinete, percussão), o arranjador é o André Ramos, e penso que vai ser um concerto muito especial.”

O disco de Lina e Raül Refree já teve várias distinções internacionais, como o Prémio da Crítica Alemã ou o Coup de Coeur 2020 da Academia Charles Cros (França) e está nomeado para o Music Moves Europe Talent Awards 2021, cuja votação terminou esta quinta-feira. Os resultados serão divulgados no dia 15 de Janeiro.

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