ECDC mantém Portugal na pior metade da lista de 30 países

Dados publicados esta quinta-feira pelo Centro Europeu de Controlo De Doenças (ECDC) não mostram ainda o impacto das medidas na época de Natal e Ano Novo, mas colocam Portugal em 12.º lugar na lista de 30 países no que se refere ao número de casos por 100 mil habitantes.

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Nelson Garrido

No mais recente relatório de actualização semanal do Centro Europeu de Controlo De Doenças (sobre o período entre 21 de Dezembro e 3 de Janeiro), Portugal surge na pior metade da lista de 30 países nos dados sobre o número de casos e de mortes por cem mil habitantes. Os dados publicados esta quinta-feira mostram que Portugal não destoa num mapa europeu que exibe uma preocupante mancha da invasão da covid-19 e que ainda não reflecte o impacto da época de festas, que causou no país estragos como já sabemos. Outros dados que já incluem os números mais recentes colocam Portugal ainda em piores lençóis. 

Se olharmos para os dados mais actualizados com os valores reportados esta quarta-feira (6 de Janeiro) quando Portugal atingiu o valor mais alto de novos casos até ao momento com mais de 10 mil pessoas infectadas, o alerta sobre a evolução da pandemia no nosso país soa ainda mais alto do que a leitura dos dados do ECDC (apenas até 3 de Janeiro) nos permite: Portugal está actualmente entre os piores da Europa. Assim, de acordo com dados do Ourworlddata, a 6 de Janeiro, Portugal com 983 casos por milhão de habitantes está pior ainda do que o Reino Unido, Suíça, Luxemburgo, Holanda, França, Itália e Alemanha. Sobre este dia específico, o site não tem dados disponíveis sobre a Espanha e Suécia. No entanto, quando olhamos para os valores da média a sete dias, no restrito grupo de sete países que referimos antes (e incluindo agora a Suécia e Espanha) só o Reino Unido com 852 casos por milhão de habitantes ultrapassa Portugal (com 568 casos por um milhão de habitantes), seguido da Suécia com 457. 

Pelos piores motivos, Portugal é um exemplo da nova vaga de infecções que está a marcar o início do ano e que pode reflectir o efeito de um excesso de confiança que levou a inúmeros contactos de risco na época de Natal e Ano Novo. Depois de esta quarta-feira o país ter atingido um máximo de mais 10 mil casos num só dia, esta quinta-feira o valor continua perigosamente alto com mais 9927 novos casos. A um contexto de risco aumentado pelos inevitáveis contactos de Dezembro soma-se ainda o impacto do regresso às aulas, o possível efeito de uma nova estirpe mais transmissível a circular e a “euforia da vacina” que pode dar uma perigosa sensação de segurança que é impossível garantir por enquanto.

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Numa análise dos dados publicados esta quinta-feira pelo ECDC, Portugal está em 12º lugar na lista de 30 países que indica a taxa a 14 dias de notificação de casos por 100.000 habitantes, com um valor de 517,03 (com os dados da semana 52 e 53 de 2020 que envolve o período entre 21 de Dezembro e 3 de Janeiro). Esta posição significa que há 11 países que têm uma taxa por cem mil habitantes superior (ou seja, pior) à que foi reportada por cá. Portugal não está bem quer se olhe apenas para a lista dos 27 países da União Europeia (UE), quer se somarmos também os três países (Noruega, Liechtenstein e Islândia) que fazem parte da Área Económica Europeia (EEA, na sigla em inglês), surgindo mais ou menos a meio da tabela, mas ainda nos primeiros 15 da lista de 30 do ECDC. Sobre a notificação de casos por 100 mil habitantes a 14 dias, o país em pior posição é a Lituânia com 1199,28 e o melhor é a Islândia com 31,37, seguido da Finlândia com 68,09.

No que se refere à taxa a 14 dias de número de mortes por cem mil habitantes, o país está na 15.ª posição com um valor de 9,58, numa lista onde o Liechtenstein surge em pior lugar com 28,66 e a Islândia com o melhor resultado de 0,28. Se considerarmos apenas os 27 da UE, temos a bem-comportada Finlândia com 1,38 e a Eslovénia com 25,13.

Nos mapas que são divulgados esta quinta-feira pelo ECDC, vemos uma Europa invadida pela cor laranja e vermelha que assinala as regiões onde foram notificados nos 14 dias em análise mais de 120 casos por cem mil habitantes. Portugal surge mesmo em destaque com uma cor mais carregada na Península Ibérica à que a vizinha Espanha tinha registado no período entre 21 de Dezembro e 3 de Janeiro, com “apenas” 297,41 casos notificados por cem mil habitantes. Sem boas notícias, resta só notar que quando comparados os dados do país com o período anterior (da semana 51 e 52, num outro relatório publicado há uma semana pelo ECDC), Portugal piora no que se refere à taxa de notificação por cem mil habitantes, mas melhora ligeiramente (de 10,88 para 9,58) no indicador sobre as mortes.

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Rui Gaudêncio

O documento do ECDC não vem acompanhado de nenhum leitura e interpretação dos dados, referindo só como nota introdutória que “muitos países da UE/EEA começaram a observar uma estabilização ou reduções nas taxas de notificação de casos” nesta altura e depois de terem registado um pico nas semanas anteriores. Porém, tendo em conta a galopante subida dos números no início deste mês em vários países europeus, esta tendência de “estabilização” terá sido contrariada.

No pequeno texto que acompanha a actualização de dados europeus, o ECDC reconhece que “ainda estamos no meio desta pandemia, e as taxas de notificação de casos permanecem geralmente elevadas”. E avisa: “Uma combinação de intervenções não-farmacêuticas adaptadas à situação epidemiológica local, acompanhadas de mensagens de comunicação claras e dirigidas ao público continuam a ser os elementos fundamentais da abordagem da saúde pública para controlar a transmissão.” Assim, sublinha-se, é preciso “continuar a praticar o distanciamento físico, a etiqueta respiratória”.

O ECDC mudou para um calendário semanal de relatórios para a situação da covid-19 a nível mundial e na UE/EEA e no Reino Unido a 17 de Dezembro de 2020. Assim, todas as actualizações diárias foram descontinuadas a partir de 14 de Dezembro. Nos dados apresentados, o ECDC refere ainda que, no total, até 3 de Janeiro foram reportados na região da EU/EEA quase 16 milhões de casos e 376.891 mortes. Aqui, nas contas sobre o total acumulado ao longo de 2020, Portugal surge no 11.º lugar da lista com 427.254 mil casos e na 13.ª posição com 7118 mortes.

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