Acusado de incesto, conhecido politólogo francês deixa a universidade e o espaço público

Olivier Duhamel demitiu-se da presidência da Fundação Nacional de Ciências Políticas e da Sciences Po e abandonou os programas de rádio e televisão onde comentava. Enteada acusou-o de ter abusado sexualmente do seu irmão gémeo.

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Olivier Duhamel é acusado de ter abusado do enteado quando este tinha 14 anos Frederic SOULOY/Gamma-Rapho via Getty Images

As revelações do novo livro da jurista Camille Kouchner, sobre um alegado caso de abuso sexual envolvendo o conhecido politólogo, comentador político e ex-eurodeputado francês Olivier Duhamel e o seu enteado, estão a abalar o universo académico, jornalístico e político de Paris e levaram o acusado a demitir-se de todos os cargos que ocupava e a abandonar os meios de comunicação onde era comentador.

“Por estar a ser objecto de ataques pessoais e estar desejoso de preservar as instituições em que trabalho, ponho fim às minhas funções”, escreveu o cientista político na segunda-feira no Twitter, através da sua conta, entretanto apagada.

Duhamel, de 70 anos, era presidente da Fundação Nacional de Ciências Políticas (FNSP), professor emérito do prestigiado Instituto de Estudos Políticos (Sciences Po) e comentador residente da rádio Europe 1 e do canal televisivo LCI, entre outros cargos de análise política, de crítica académica ou de edição. 

Filho de um antigo deputado, foi também presidente do Conselho Constitucional francês (1983-1995) e eurodeputado (1997-2004), eleito pelo Partido Socialista.

O alegado escândalo sexual foi revelado na segunda-feira pelo jornal Le Monde e pela revista L’Obs, que publicaram algumas passagens do livro de Camille Kouchner, intitulado La Familia Grande (ed. Seuil).​

No livro e em entrevista à L’Obs, a advogada e filha do antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e co-fundador dos Médicos Sem Fronteiras, Bernard Kouchner, e da académica e escritora Evelyne Pisier, acusa Duhamel de ter abusado sexualmente do seu irmão, Antoine Kouchner, quando este tinha 14 anos de idade.

Antoine e Camille, actualmente com 45 anos, são irmãos gémeos e foram criados por Olivier Duhamel e pela mãe, que casou com este depois de se separar de Kouchner – e que morreu em 2017. 

Segundo a autora do livro – que será publicado na quinta-feira, em França – Pisier preferiu manter silêncio sobre o caso, quando o filho, Antoine, o denunciou.

“Decidi escrever porque já não podia ficar em silêncio. Este livro nasceu da necessidade de dar testemunho do incesto e de mostrar como isto durou tantos anos, durante os quais foi muito, muito, difícil livrarmo-nos desse silêncio”, explicou a autora do livro, citada pelo jornal Les Echos.

“O meu livro conta até que ponto muitas pessoas conheciam [o caso]. É óbvio que pensei que o livro poderia parecer obsceno, devido à notoriedade da minha família”, acrescentou Camille Kouchner. “Mas depois pensei para mim própria: é precisamente por isso que tenho de o fazer”.

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