Governo afegão e taliban retomam negociações de paz em plena onda de ataques e confrontos

Atentados contra civis e alvos seleccionados aumentaram nos últimos meses no Afeganistão e ensombram nova ronda de discussões no Qatar.

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Ataques bombistas e cenários de destruição, como este, em Cabul, sucedem-se no Afeganistão MOHAMMAD ISMAIL/Reuters

Os representantes do Governo do Afeganistão confirmaram esta segunda-feira que as negociações de paz com os taliban, iniciadas em Setembro do ano passado, vão ser retomadas na terça-feira, em Doha, no Qatar.

Mas o regresso à mesa das negociações – onde se procura uma solução para pôr fim a quase duas décadas de guerra civil – acontece num dos momentos mais baixos das relações entre as partes, e há o receio de que possa haver uma ruptura grave.

As autoridades afegãs e os Estados Unidos acusam o grupo fundamentalista islâmico de responsabilidade no recrudescimento dos ataques contra civis e alvos seleccionados nos últimos meses, ao passo que os taliban continuam a recusar reconhecer o Governo do Presidente Ashraf Ghani, reeleito no ano passado.

Os atentados terroristas contra políticos, jornalistas, estudantes universitários e activistas no Afeganistão dispararam recentemente e, apesar de alguns deles terem sido reivindicados pelo Daesh, o Governo não poupa nas denúncias contra os taliban. 

Malalai Maiwand, da Enikaas TV, foi a terceira jornalista assassinada em pouco mais de um mês no Afeganistão. Maiwand também era activista dos direitos das mulheres e das crianças e foi abatida a tiro no início de Dezembro em Jalalabad, no Leste do país.

Para além disso, o Exército e a coligação internacional que o apoia estão envolvidos em confrontos com os taliban em várias zonas do Afeganistão. Os jihadistas acusaram mesmo os EUA de terem levado a cabo ataques aéreos contra os seus combatentes esta segunda-feira.

Este novo ímpeto nos confrontos será tema central das discussões em Doha. Segundo a Reuters, a ordem dos trabalhos desta ronda negocial inclui uma tentativa de acordo para (mais) um cessar-fogo e para a partilha de poder em áreas geográficas concretas do Afeganistão.

As negociações de paz históricas entre Governo e o grupo extremista começaram em Setembro do ano passado, na sequência do acordo anterior entre os EUA e os taliban para a retirada faseada das tropas norte-americanas do país onde chegaram em 2001, para combater a Al-Qaeda e Osama Bin Laden e “vingar” os ataques do 11 de Setembro.

Segundo o Council for Foreign Affairs, a guerra civil entre os taliban e o Governo afegão, que acompanhou a intervenção militar norte-americana, tirou a vida a mais de 100 mil civis só na última década. Milhões de pessoas estão deslocadas.

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