Inflação termina o ano em terreno negativo

Quebra da procura provocada pela pandemia, apreciação do euro e diminuição do valor do petróleo nos mercados internacionais levaram a que, pela primeira vez desde 2014, o ano terminasse com uma inflação homóloga negativa em Portugal.

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Nuno Ferreira Santos

Num ano de forte contracção económica, os preços dos produtos em Portugal chegaram a Dezembro, em média, com um valor ligeiramente mais baixo do que o registado no final de 2019, um resultado para o qual contribuiu de forma decisiva a quebra na procura provocada pela crise, a apreciação do euro face ao dólar e a baixa do preço do petróleo nos mercados internacionais.

De acordo com a primeira estimativa para Dezembro publicada esta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Estatística, a taxa de inflação homóloga cifrou-se, no último mês de 2020, nos -0,22%. Isto é, no conjunto de produtos utilizado pela autoridade estatística para o cálculo da inflação, os preços registados no passado mês de Dezembro ficaram em média 0,22% abaixo do valor que se verificava em igual período do ano anterior.

A taxa de inflação média de 2020 – que é o valor médio das 12 taxas de variação homólogas mensais registadas no total do ano – foi praticamente nula, de -0,01%. 

A última vez que o ano tinha terminado com uma taxa de inflação homóloga negativa em Portugal tinha sido em 2014.

No decorrer de 2020, depois de no primeiro trimestre se ter situado em valores moderadamente positivos, a taxa de variação homóloga caiu para terreno negativo com a chegada da pandemia, tendo atingido um valor mínimo de -0,72% em Maio. Nos meses seguintes, este indicador regressou para valores negativos, tendo no entanto voltado a cair abaixo de zero a partir de Agosto.

A quebra da procura devido às medidas de confinamento adoptadas terá sido um dos factores por trás da moderação das empresas na hora de decidir quais os preços que colocavam nos seus produtos. No entanto, dois outros factores, com origem fora de Portugal, marcaram decisivamente a evolução da inflação no país.

Em primeiro lugar, está a evolução do preço do petróleo nos mercados internacionais que, devido à combinação dos efeitos da pandemia na procura com o anúncio de aumentos da produção por alguns dos principais países exportadores, foi de queda acentuada logo a partir do mês de Abril.

Isso reflecte-se nos preços dos produtos energéticos em Portugal que, em Dezembro, registaram uma variação homóloga de 4,91%, mas que em Maio chegaram a cair mais de 10%.

Depois, tem-se feito sentir também o impacto nos preços da apreciação do euro face ao dólar. O euro mais forte tem contribuído para que os preços de diversos bens importados de fora da zona euro, como por exemplo o petróleo, fiquem mais baixos.

A taxa de inflação negativa que se regista em Portugal está longe de ser caso único na Europa. O Eurostat ainda não publicou a sua primeira estimativa deste indicador para Dezembro na zona euro, mas em Novembro estava em -0,3%.

A manutenção da inflação em valores negativos é uma preocupação para o Banco Central Europeu que tem revelado sérias dificuldades em, apesar das enormes injecções de liquidez que tem feito através da sua política monetária, colocar a variação dos preços a um nível em que não haja o risco de entrada na armadilha da deflação.

O objectivo do BCE de estabilidade de preços é o de que a inflação na zona euro se situe num valor “abaixo mas próximo de 2%”, mas têm sido raras as vezes nos últimos anos em que este indicador supera 1% de forma persistente, aproximando-se de 2%.

Para 2021, apesar de o BCE continuar determinado a aplicar medidas expansionistas extraordinárias e de se poder esperar uma retoma progressiva da economia e do preço do petróleo, a expectativa é, tanto no total da zona euro como especificamente em Portugal, de uma aceleração moderada dos preços. O Banco de Portugal prevê que, em 2021, a taxa de inflação suba face ao valor de 2020, mas apenas ligeiramente, para 0,3%.

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