Ataques levam petrolífera Total a reduzir operações e trabalhadores em projecto em Cabo Delgado

A empresa francesa lidera um projecto de exploração de gás natural, um investimento de 20 mil milhões de dólares e que é o maior investimento privado na África subsaariana. Último ataque foi a cinco km do local.

Foto
Elementos das Forças de Defesa em cabo Delgado António Silva/Lusa

A petrolífera francesa Total anunciou nesta sexta-feira que reduziu as operações e o número de trabalhadores envolvidos no projecto de gás natural em Moçambique devido aos ataques terroristas perto das instalações, o último a cinco quilómetros.

“A Total reduziu temporariamente a sua força de trabalho no local em resposta ao ambiental actual”, disse a petrolífera à agência de informação financeira Bloomberg, não revelando, no entanto, o número de trabalhadores que foram mandados para casa nem por quanto tempo.

“A situação está em constante avaliação”, acrescentou a petrolífera que lidera o projecto de exploração de gás natural no Norte de Moçambique, um investimento de 20 mil milhões de dólares e que é o maior investimento privado na África subsaariana.

A violência no Norte de Moçambique tem-se intensificado nas últimas semanas, com o último ataque na semana passada e a apenas cinco quilómetros do local onde decorrem as obras para a instalação de uma central de gás natural liquefeito, que os insurgentes dizem que pode ser o próximo alvo.

Para além do problema da violência, a Total explicou que a pandemia de covid-19 também contribuiu para a decisão de reduzir a força de trabalho no local.

Moçambique está a tentar controlar a insurgência armada na província de Cabo Delgado, que começou em Outubro de 2017 e já terá morto mais de 2500 pessoas, motivando mais de meio milhão de moçambicanos a abandonarem as suas casas para fugir à violência.

O projecto da Total, a que se junta o da italiana Eni e da norte-americana Exxon Mobil, tem o potencial de transformar a economia do país quando começarem a ser exportadas as enormes quantidades de reservas de gás natural que estão no Norte do país, nomeadamente ao largo da costa, e que podem pôr o país no topo da lista dos maiores exportadores mundiais.

O segundo ataque próximo aos mega-projetos de gás em Dezembro ocorreu na terça-feira, após um primeiro que ocorreu no dia 7 de Dezembro na aldeia de Mute, a menos de 25 quilómetros da área onde está a ser construída a zona industrial de processamento de gás natural da Área 1 da bacia do Rovuma.

Os novos ataques de terça-feira ocorreram um dia depois de o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, pedir às Forças de Defesa e Segurança “máxima prontidão” face ao “silêncio do inimigo”, após operações com “bons resultados” por parte das forças governamentais em Macomia, outro distrito de Cabo Delgado que tem sido alvo frequente das incursões dos rebeldes.

Das operações em Macomia, segundo dados oficiais, pelo menos 37 insurgentes foram mortos e 27 armas foram apreendidas, em operações levadas a cabo pelo batalhão das Forças de Defesa e Segurança posicionado na região.

A violência armada em Cabo Delgado começou há três anos e está a provocar uma crise humanitária - 560 mil pessoas estão deslocadas, sem habitação nem alimentos, concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba.

Em Janeiro, a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral vai reunir-se para debater a situação de segurança na região.

Os termos de referência da missão ainda estão a ser finalizados, mas o ministro português dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, disse que viajará para Moçambique dentro de “algumas semanas” para tratar da ajuda da União Europeia ao governo moçambicano para combater os insurgentes em Cabo Delgado.

“A urgência pede celeridade e a missão realizar-se-á no prazo de algumas semanas”, disse em meados de Dezembro que viajará para Moçambique devido à situação em Cabo Delgado. A ideia é garantir “que a resposta da União Europeia de apoio a Moçambique seja o mais rápida e eficaz possível”, disse o ministro depois de o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, lhe ter pedido para ser o seu enviado a Moçambique.

Sugerir correcção
Comentar