Máximo de casos diários de covid-19 pode estar relacionado com convívios no Natal – ou menor testagem

Esta quinta-feira foram divulgados 7.627 novos casos, o máximo desde o início da pandemia em Portugal.

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Nelson Garrido

O abrandamento das medidas e dos cuidados na época do Natal e o maior número de contactos entre as pessoas poderão ser a explicação para o número elevado de novos contágios registados esta quinta-feira, defendem o virologista Pedro Simas e o epidemiologista Filipe Froes. Houve 7.627 novos casos, o máximo desde o início da pandemia em Portugal. Já na quarta-feira houve 6049 infecções, que era o valor mais alto em quase um mês.

“Este aumento que está a acontecer pode ser devido à não testagem na altura do Natal, o que eu duvido. Se não tiver esse efeito, deve-se ao maior número de contactos. São as duas possíveis explicações”, defendeu Pedro Simas ouvido pela Lusa. Portugal tem um “planalto na média diária dos 3.200 casos”, o que “é muito alto, é dez vezes maior do que o planalto do Verão”. Ou seja: “Nunca houve um risco tão grande de transmissão” do vírus.

Na opinião daquele especialista, “os números desta quinta-feira ainda são pré-Natal, portanto, o efeito Natal e Ano Novo só se vai ver em Janeiro”. Para epidemiologista Filipe Froes, já “poderão ser um reflexo do período do Natal, altura em que muitas pessoas desvalorizaram as medidas de prevenção e controle, como o uso de máscara e o evitar ajuntamentos”. Todavia, corroborou, “o Natal foi há uma semana e ainda poderá haver um acréscimo de números nos próximos dias e as infecções que possam ter ocorrido no Natal, algumas ligeiras ou assintomáticas, podem dar nos dias subsequentes cadeias de transmissão”, avisa.

Lembrou Filipe Froes que “houve pessoas a fazerem testes dias antes do Natal e, com base nesse resultado, pensaram que estariam mais seguros”. Considera que “podem ter aliviado na adopção de medidas de prevenção e controlo”. “O resultado [dos testes] só é válido numa janela temporal de algumas horas e a sua realização não justificava, não impedia, não favorecia o aliviar das medidas de protecção e controlo, ou seja, os testes deram uma falsa sensação de segurança”, esclareceu.

Tendo em conta os últimos números, os dois especialistas assumiram que “os primeiros dias de Janeiro vão apresentar números elevados de novos casos”. “Os números de hoje [quinta-feira] devem-nos fazer reflectir e temos mais um motivo para nos contermos nas festividades do ano novo e para nos contermos nos próximos dias”, alerta Filipe Froes.

Pedro Simas defendeu ainda que “a vacinação é o início do fim, mas é um percurso muito importante” e, no seu entender, “é a fase mais importante de todas e nunca houve um risco tão grande em Portugal e em todo o mundo”. “Para além de estarmos num planalto muito alto, a imunidade populacional é muito baixa. Em Portugal anda à volta dos 85% a 90% de pessoas que são susceptíveis, ou seja, o risco de transmissão é muito elevado. Nunca houve tanto risco. O primeiro trimestre é vital para salvar vidas humanas, temos de ter muito cuidado”, defendeu.

Efeito dos testes?

Na quarta-feira, ao PÚBLICO, o médico infecciologista António Silva Graça aconselhou cautela no estabelecimento desta ligação com a época festiva, lembrando um outro indicador menos visível que pode estar na base desta subida de infecções.

“Não podemos excluir em absoluto que possa haver uma pequena interferência [do Natal], mas não podemos também esquecer que durante praticamente quatro dias quase não se realizaram testes e que a disponibilidade dos profissionais de saúde para fazer a notificação também não é a mesma. Portanto, é provável que possa apenas ser o acumular dos casos entretanto diagnosticados e que possa não haver relação certa, para já, com o período do Natal”, explicou o infecciologista.

O primeiro-ministro, António Costa, alertou na quarta-feira que apenas será possível medir o impacto do Natal na pandemia a partir da “segunda semana de Janeiro”.

O número de mortes provocadas pelo vírus diminuiu ligeiramente relativamente ao boletim de quarta-feira: registaram-se 76 óbitos, menos três do que nos dados epidemiológicos de quarta-feira. As 76 mortes de quarta-feira elevam para 6906 o número de mortes provocadas pela pandemia no país.

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