Quase 900 migrantes vivem há dias num campo destruído na Bósnia

Depois do incêndio no campo de Lipa, estava previsto que os refugiados fossem transportados para antigas instalações militares, mas não houve acordo entre as autoridades locais.

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Centenas de migrantes foram obrigados a regressar ao campo destruído DADO RUVIC/Reuters

Cerca de 900 refugiados estão há vários dias a morar entre os escombros de um campo para requerentes de asilo na Bósnia-Herzegovina que tinha sido destruído num incêndio na semana passada. A origem do problema está numa disputa burocrática entre autoridades locais.

Na quarta-feira, as 900 pessoas preparavam-se para serem transportadas para umas antigas instalações militares a 320 quilómetros do campo de Lipa, no noroeste do país, que tinha sido praticamente destruído por um incêndio na semana passada. O campo de Lipa era já considerado um local pouco seguro e com poucas condições para albergar migrantes – não tem água corrente nem aquecimento, por exemplo.

Na semana passada, um incêndio destruiu a maioria das tendas, obrigando ao seu encerramento. Ainda assim, enquanto as autoridades bósnias não encontravam uma solução, centenas de pessoas passaram vários dias a suportar “temperaturas baixíssimas, sem acesso a cuidados básicos”, avisa a Organização Internacional para as Migrações, num comunicado assinado em conjunto com várias organizações humanitárias.

Após o incêndio, os migrantes deveriam ter sido transportados para umas antigas instalações militares na cidade de Bradina, a 320 quilómetros. Na quarta-feira, ainda entraram nos autocarros, onde permaneceram um dia inteiro sem que saíssem do local por falta de acordo com as autoridades locais de Bradina. Os refugiados voltaram então para o campo destruído, atravessando um terreno lamacento enquanto carregavam sacos com os seus pertences, descreveu o correspondente da Reuters.

Por trás da falta de acordo entre as autoridades locais terá estado a recusa dos habitantes de Bradina em receber os migrantes na cidade. Foram organizados protestos contra a decisão.

O campo de Lipa foi aberto na Primavera e tinha como função servir apenas como albergue temporário durante os meses de Verão, mas a ausência de alternativas obrigou a que se mantivesse em funcionamento. O Governo bósnio planeava transferir os cerca de mil migrantes para outro campo, a 25 quilómetros, mas as autoridades locais não concordaram, por considerarem que o esforço para receber refugiados não está a ser partilhado de forma equilibrada pelo resto do país.

A Bósnia-Herzegovina é um dos principais pontos de passagem da chamada “rota dos Balcãs” usada por migrantes, provenientes sobretudo de África, Médio Oriente e do sul da Ásia, para chegar à Croácia e, a partir daí, tentar alcançar países mais ricos da União Europeia, onde procuram trabalho ou juntar-se a familiares.

No entanto, as condições na maioria dos campos para refugiados na Bósnia, um dos países mais pobres da Europa, são muito pouco adequadas. Bruxelas já apoiou as autoridades bósnias com 60 milhões de euros para melhorarem o estado das instalações, e prometeu mais 25 milhões, de acordo com a Reuters.

A União Europeia estima que haja dez mil migrantes actualmente espalhados pela Bósnia.

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