Ataque no aeroporto de Aden contra novo Governo iemenita faz 26 mortos

Membros do novo Executivo acabavam de aterrar quando várias explosões abalaram o aeroporto. Todos conseguiram sair incólumes.

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Ataque coincidiu com a chegada do avião que transportava os membros do novo Governo iemenita FAWAZ SALMAN / Reuters

Um ataque no aeroporto de Aden, no Iémen, fez pelo menos 26 mortos e mais de 50 feridos. O atentado coincidiu com o momento em que aterrava o avião que transportava os membros do novo Governo iemenita, mas nenhum ficou ferido.

As imagens do aeroporto de Aden, cidade portuária no sul do país, mostram enormes colunas de fumo. Ainda não são conhecidas as fontes das explosões, mas algumas testemunhas descrevem tiros de metralhadoras e o lançamento de morteiros.

O ataque parece dirigido ao novo Executivo, que acabava de aterrar proveniente de Riad, onde tinha tomado posse. Poucas horas depois, uma nova explosão foi ouvida perto do complexo do palácio presidencial para onde os membros do Governo tinham sido levados, diz a Reuters. A autoria dos ataques ainda não foi reivindicada.

O primeiro-ministro iemenita, Maeen Abdulmalik Saeed, que estava a bordo do avião na altura das explosões, disse que tudo estava bem consigo e com os restantes membros do Governo. “O acto terrorista que cobardemente visou o aeroporto de Aden é parte da guerra que está a ser travada contra o Estado iemenita e o seu grande povo”, afirmou.

O ministro das Comunicações, Naguib al-Awg, disse não ter dúvidas de que o avião em que seguiam os dirigentes governamentais era o alvo, mas que escapou por ter aterrado após a hora prevista. “Teria sido um desastre se o avião fosse bombardeado”, disse à Associated Press.

Já o ministro da Informação do Iémen, Moammer al-Eryani, atribuiu o “cobarde ataque terrorista” às “milícias houthis apoiadas pelo Irão”, no entanto, fonte oficial do grupo negou à Al-Jazeera qualquer envolvimento.

O Iémen é palco de uma complexa guerra civil que se arrasta desde 2014 e que tem hoje as dimensões de um conflito regional, arrastando os países do Golfo Pérsico e o Irão. Inicialmente, a guerra opôs o Governo internacionalmente reconhecido à milícia houthi, que ocupou a capital em 2014. Com o prolongar dos combates, a Arábia Saudita juntou uma coligação de países próximos, apoiada pelos EUA, para bombardear posições dos houthis, aprofundando o carácter destrutivo do conflito. Ao mesmo tempo, o regime iraniano intensificou o seu apoio aos houthis.

O colapso das instituições e o vazio de poder permitiram, igualmente, o florescimento de grupos terroristas, com destaque para o ramo mais forte actualmente da Al-Qaeda, sedeado no Iémen.

Governo atacado

O novo Governo representa o culminar de um esforço da Arábia Saudita para juntar duas das principais facções que combatem os rebeldes houthis, que controlam parte do país, incluindo a capital, Sanaa. Desde que Sanaa foi tomada pelos houthis, em 2014, que o Governo do Presidente Abd-Rabbu Mansour Hadi está instalado em Aden, mas enfrenta também um grupo de separatistas do sul do Iémen. O novo executivo junta representantes de ambas as facções.

O ataque marca um início conturbado para um Governo que pretendia diminuir as frentes do conflito iemenita. “Isto continua a fragmentar e a complicar uma situação que já era complexa e desnecessariamente difícil, que está a causar uma enorme angústia aos civis inocentes”, disse à Al-Jazeera o professor da Universidade de Nottingham, Afzal Ashraf.

O ataque foi condenado pelo enviado especial da ONU para o Iémen, Martin Griffiths, que o descreveu como “uma lembrança trágica da importância de trazer o Iémen urgentemente para o caminho da paz”.

Também o embaixador saudita no Iémen, Mohammed al-Jaber, que acompanhava os novos ministros no voo, condenou o ataque e garantiu que o acordo entre as duas facções apoiadas por Riad “irá em frente”, apesar do “desapontamento e confusão daqueles que criam a morte e destruição”.

A guerra no Iémen é responsável por uma das maiores catástrofes humanitárias na história recente. A destruição da maioria das infraestruturas está a privar milhões de pessoas de acesso a comida, bens de primeira necessidade e cuidados de saúde. A ONU avisou recentemente que metade dos 30 milhões de habitantes do país vai suportar “níveis agravados de fome” durante o próximo ano.

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