Ansiedade: a realidade face à vacina contra a covid-19

O desenvolvimento de uma vacina, os esforços da comunidade científica, que juntos reuniram os seus conhecimentos e trabalho, focados no travar desta pandemia, tem gerado esperança.

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"Na actualidade o estado de ansiedade vivido pelos portugueses tem aumentado" Paulo Pimenta

A situação pandémica vivida tem espoletado uma mudança de comportamentos, afectando a saúde e a qualidade de vida do ser humano. A alteração drástica de hábitos, atitudes e comportamentos tem gerado ansiedade. O nosso dia-a-dia mudou, subitamente. A adaptação a esta nova situação desencadeou uma mudança de costumes enraizados, sem previsão para o fim de tal situação.

O aparecimento de um vírus desconhecido que se espalhou ferozmente, aumentando a taxa de mortalidade em vários continentes, gerou ansiedade. Mas não foi só o vírus que desencadeou uma avalanche de ansiedade em todo o mundo. As consequências que têm advindo desta pandemia, a nível da saúde, a nível económico e social, tais como as consultas adiadas, o agravamento da saúde pública relativamente a outras patologias, a perda de emprego, o regime de teletrabalho sem definição clara dos limites da sua execução – uma adaptação abrupta muitas vezes condicionada pelo apoio a dependentes ou pelo excessivo volume de trabalho –, as condições sociais, o isolamento e a alteração do padrão de conduta social são alguns exemplos potenciadores do aumento de ansiedade. O viver neste limiar do desconhecido sem ver o fim ou saber como alcançá-lo gera stress, ansiedade e condiciona a nossa saúde mental.

No entanto, o desenvolvimento de uma vacina, os esforços da comunidade científica, que juntos reuniram os seus conhecimentos e trabalho, focados no travar desta pandemia, tem gerado esperança. Contudo, parece ser um factor igualmente ansiógeno. Os meios de comunicação têm-se envolvido nesta batalha da transmissão da informação. São muitos os comentadores convidados, mas as opiniões muitas vezes divergem, condicionando a informação recebida e a tomada de decisão, nomeadamente no que diz respeito à vacinação. A partilha de meras opiniões, por vezes incorrectamente fundamentadas, e as fake news que invadem as redes sociais são informações que vão gerar ansiedade. Esta ansiedade desmedida e descontrolada vai não só condicionar a saúde, como também a tomada de decisão acerca da aceitação ou não da vacina.

Num estudo recente efectuado pela Universidade Católica Portuguesa junto da comunidade portuguesa, verificou-se que os níveis de ansiedade dos portugueses se encontravam num estado intermédio no início da pandemia, tendo-se verificado um decréscimo durante os meses de Verão, nos quais a taxa de infecção diminuiu e as medidas de restrição foram aligeiradas. Contudo, os resultados do mesmo estudo também demonstram que na actualidade o estado de ansiedade vivido pelos portugueses tem aumentado, alcançando níveis reportados por alguns participantes como extremamente elevados. Esses resultados reflectem o nível da ansiedade geral sentida pela população perante a situação pandémica vivida. Mas também reflectem o nível da ansiedade gerada pela aproximação de uma vacina cuja tomada de decisão quanto à sua toma vai depender da informação/esclarecimento sobre a mesma.

Este preciso estudo apresentou uma amostra diversa, com uma representação proeminente da faixa etária mais jovem (18-30 anos). Apesar de essa ser a faixa etária com menor risco em desenvolver estádios graves da doença, de acordo com os reportes da literatura científica, também parece ser a faixa etária com um maior número de comportamentos de risco, sendo referenciada como a faixa etária que mais contribui para a disseminação do vírus. Parece consensual que vacinar esta faixa etária será também um passo importante no sentido de travar a disseminação e controlar a situação pandémica. Porém, este estudo destaca a importância de disponibilizar à população conhecimento mais abrangente e prático sobre a vacina e o processo de vacinação. Existe neste estudo, e em vários outros que estão a ser realizados ao redor do mundo, uma busca exacerbada por mais informações para uma tomada de decisão consciente no que diz respeito à vacinação. Deste modo, seria pertinente o desenvolvimento de acções de sensibilização massivas desta e de outras populações, no sentido de um esclarecimento científico eficaz. O aumento da literacia em saúde é fulcral e na situação presentemente vivida pode condicionar a mudança.

O investimento em promoção da saúde sempre foi o parente pobre da ciência, todavia hoje prova-se a sua necessidade. O aumento da literacia em saúde através da clareza e objectividade da comunicação parece ser o que os portugueses anseiam para a sua tomada de decisão.

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