2020: The end?

Muitos chegam ao fim de 2020 mais tristes, desiludidos, com menos rendimentos, psicologicamente vulneráveis ou sem aqueles que amavam; outros mais criativos e mais produtivos, tendo descoberto em si ou nos que estão à sua volta talentos e capacidades que não conheciam.

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"Se 2020 foi o ano da incerteza, 2021 pode ser o ano de celebrar a vida" @petercalheiros

O ano 2020 será um ano inesquecível pela enorme crise sanitária que enfrentamos e que nos obrigou a pôr a vida em suspenso e a descobrir o melhor e o pior de nós próprios e de quem vive connosco. Como consequência da pandemia e do rasgo de tragédia que deixou em muitas famílias, é comum ouvirmos falar que este será um ano para esquecer ou que deveria ser apagado das nossas vidas como um desejo que se faz no 31 de Dezembro quando se come uma uva passa: apagar tudo de mal que aconteceu, numa espécie de apagão colectivo.

Faz parte da natureza humana querer livrar-se da dor e do sofrimento e apagar os males seria perfeito, como se não tivessem acontecido. Mas como já se advinha, nada disso é possível e, na verdade, nem é desejável, sendo mais vantajoso para nós próprios, individualmente e enquanto sociedade, olhar para tudo o que aconteceu como uma oportunidade para evoluir, mudando crenças e comportamentos que percebemos através da ciência que não são benéficos para a nossa vida.

O balanço para uns é sempre melhor do que para outros, deixando a descoberto as desigualdades, que ganharam mais força. Muitos chegam ao fim de 2020 mais tristes, desiludidos, com menos rendimentos, psicologicamente vulneráveis ou sem aqueles que amavam; outros mais criativos e mais produtivos, tendo descoberto em si ou nos que estão à sua volta talentos e capacidades que não conheciam.

Parece-me inevitável incluir neste balanço de fim de ano duas ideias que podem servir como chamada de atenção para todos enquanto seres sociais: a primeira surge como um alerta de que, apesar da chegada da vacina, temos de continuar a ser cautelosos com as medidas de higiene e de distanciamento porque ainda não estamos no fim da pandemia e os novos casos, os internamentos e as mortes vão continuar. A segunda é que temos de saber fazer aprendizagens de crescimento e olhar para os efeitos positivos que esta crise trouxe à nossa sociedade, como uma oportunidade de fazer diferente para nós e para os outros. Vejamos algumas:

  • Tivemos oportunidade de testemunhar a enorme capacidade de adaptação e de generosidade de tantas pessoas que ajudaram tantas outras a superarem as dificuldades, das mais variadas áreas incluindo médicos, professores, enfermeiros, músicos, jornalistas, comerciantes, etc.
  • Ficámos todos a ganhar com o avanço da ciência, da medicina e da tecnologia, mostrando que podemos e devemos acreditar na investigação.
  • Assistimos a uma mudança na forma como se pode olhar para o trabalho a partir de casa, para quem tem condições de o fazer, quebrando crenças sobre a produtividade e a competência desses trabalhadores.
  • Descobrimos que somos capazes de fazer diferente em casa com a nossa família, aproveitando a crise para encontrar oportunidade.
  • Criámos novos hábitos que podem representar uma mais-valia na nossa vida, se tivermos autocontrolo para manter os que realmente importam.
  • Tivemos a oportunidade de conhecer melhor o carácter, a empatia, a bondade e a generosidade das pessoas. Umas mostraram ter, outras não.
  • Aproveitámo-nos da tecnologia e da maior necessidade de proximidade com os outros para reforçar relações e nos tornarmos melhores mães, pais, filhos, amigos, irmãos.
  • Demos mais valor à saúde mental, que ganhou maior visibilidade e trouxe reconhecimento ao papel dos psicólogos e dos psiquiatras perante um tema absolutamente necessário para o bem-estar do ser humano.

Por tudo isso, em 2021, devemos, sim, manter a esperança e o optimismo, mas com proactividade, porque é preciso fazer para poder acontecer. Não podemos esquecer que dependemos uns dos outros e que seremos nós a definir o que vamos construir para nós próprios e para o bem comum, contribuindo para a mudança social que está claro que é urgente.

Centremo-nos no autocuidado e no cuidar do outro, na união e na solidariedade, porque se 2020 foi o ano da incerteza, 2021 pode ser o ano de celebrar a vida.

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