Rússia só enviou a primeira dose da vacina contra a covid-19 para a Argentina

Responsáveis ouvidos pela agência Reuters revelam que há algumas dificuldades e atrasos na produção do reforço da Sputnik V, que deve ser tomada 21 dias da primeira dose.

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Um militar russo é vacinado com a Sputnik V numa clínica na cidade de Rostov-On-Don SERGEY PIVOVAROV/Reuters

O primeiro grande carregamento da vacina da Rússia contra a covid-19 – 300 mil doses enviadas a semana passada para a Argentina – consistiu apenas na primeira dose da vacina (que deve ser administrada em duas doses por pessoa), mais fácil de fabricar do que o reforço, dizem fontes ouvidas pela Reuters.

Ao contrário do que acontece com outras vacinas para a covid-19, em que são administradas duas doses idênticas, a russa Sputnik V depende de duas doses à base de vírus inactivos diferentes, conhecidos como vectores. O Instituto Gamaleya, responsável por desenvolver a vacina, afirma que a sua eficácia é de mais de 91% após o esquema de duas doses.

Mas alguns fabricantes russos estão a ter dificuldades com a segunda dose, que deve ser administrada 21 dias depois da primeira, menos estável, dizem duas fontes, revelando novos desafios ao ambicioso programa de inoculação russo.

A decisão de enviar doses da vacina para a Argentina já causou indignação na Rússia, onde a vacinação continua indisponível para a generalidade da população fora da capital, Moscovo. O Governo não disse exactamente quantas pessoas já foram vacinadas, mas o Instituto Gamaleya garantiu a semana passada que já tinham sido disponibilizadas 650 mil doses para o programa de vacinação nacional.

Depois da Bielorrússia, a Argentina é o primeiro país a aprovar a Sputnik V, uma vitória na campanha de Moscovo para assegurar aprovação internacional para a sua vacina. Responsáveis argentinos dizem esperar começar a administrar a vacina nos próximos dias.

Contudo, uma fonte próxima do processo de produção, assim como um responsável do Governo russo, dizem que o carregamento que seguiu para a Argentina continha apenas doses a mais do primeiro componente, que tem sido produzido em quantidades maiores do que o segundo. O primeiro responsável diz que os fabricantes da vacina estão agora a trabalhar para assegurar o fabrico de doses suficientes do segundo componente.

“É verdade que subsistem problemas tecnológicos… Mais quantidade do primeiro componente é produzido por litro nos bio-reactores do que do segundo”, diz este responsável. “Mas muitos fabricantes estão apenas a instalar mais bio-reactores para fazer a segunda dose. Se o reactor está a produzir menos por litro, é preciso mais capacidade.”

A Generium, uma das empresas farmacêuticas privadas russas que estão a produzir a Sputnik V, diz que está actualmente a fabricar os dois componentes da vacina em quantidades iguais.

O fundo soberano russo (Fundo Russo de Investimento Directo) que comercializa a Sputnik V no estrangeiro e que organizou o envio para a Argentina, não quis comentar os desafios com a produção da segunda dose nem esclarecer se as injecções de reforço serão enviadas em breve para o país.

O Ministério da Saúde russo, que supervisiona o Instituto Gamaleya, também não respondeu a estas questões.

Vários fabricantes de vacinas em todo o mundo estão a considerar a hipótese de usar apenas a primeira dose – o Presidente Vladimir Putin já se referiu a esta opção como uma “vacina leve”, que diz que garantirá menos protecção do que o conjunto dos dois componentes, mas “chegaria aos 85%”.

De acordo com o director do Instituto Gamaleya, Alexander Ginsburg, a imunidade protectora depois da primeira dose Sputnik V dura entre três e quatro meses.

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